Tomás Martins e Mauricio Villar, cofundadores da Tembici.
Tomás Martins, CEO da Tembici, e Mauricio Villar, COO, ambos cofundadores da startup. Foto: Divulga cão.
Negócios

Sempre atrás de novos jeitos de ocupar suas bicicletas, Tembici vê receita crescer 40% em 2021 e quer dobrar resultado neste ano

As estratégias de diversificação de usuários que começaram a ser implementadas ainda no ano passado fazem da startup de micromobilidade um caso à parte no segmento. Parar por aí? Que nada. O CFO Leandro Fariello disse ao LABS que até crédito de carbono está na mira da Tembici

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Não é sempre que se vê uma startup de micromobilidade dar certo. Quem tem os olhos atentos nas cidades – principalmente nas latino-americanas – já viu muitas iniciativas nascerem e morrerem. A brasileira Tembici, no entanto, tem mostrado que um modelo de negócios ancorado em B2B mas impulsionado por uma diversidade de usuários finais pode ser, afinal, o ideal. Sempre atrás de novos jeitos de ver suas bicicletas rodando, a Tembici viu sua receita crescer 40% em 2021 ante ao ano anterior – quando faturou R$ 100 milhões e quer dobrar esse resultado em 2022. O CFO Leandro Fariello disse ao LABS que até créditos de carbono estão na mira da Tembici como possibilidade de negócios e receitas futuras.

A receita vinda diretamente do usuário, e que representou 55% dos R$ 140 milhões de 2021, é a que move a curva de crescimento da Tembici. Mas a startup só vai, efetivamente, para uma cidade de mais de 500 mil habitantes (faixa de corte da startup) quando pode contar com um patrocínio de uma empresa parceira. Itaú, iFood e Mastercard são algumas das parceiras da Tembici. “E é uma parceira estratégica, de longo prazo, vinculada ao período de concessão que temos em cada cidade. Isso é muito importante porque garante uma receita ao longo da nossa jornada naquela cidade”, explica Fariello. Receitas recorrentes de publicidade, de peças veiculadas nos paineis das estações da Tembici por determinados período, também complementam essa renda B2B da startup

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Todo o investimento da Tembici em tecnologia e marketing, incluindo parte dos recursos das última rodada, no entanto, vai para a receita vinda do usuário, porque é essa que realmente dá escala e traz valor para a startup. Segundo Fariello, a Tembici tem visto essa fatia do faturamento crescer mês a mês após a pandemia, tendo atingido seu maior nível em janeiro. “Fevereiro só não bateu janeiro porque tem alguns dias a menos”.

Há algumas semanas, a Tembici anunciou a sua chegada a seu quarto país na América Latina. A empresa vai investir R$ 53 milhões para implantar o sistema de bikes compartilhadas em Bogotá, capital da Colômbia. O projeto possui uma proposta inédita e contemplará 3,3 mil bicicletas, sendo 1,6 mil elétricas, e pelo menos 300 estações.

Atualmente, a startup opera 16 mil bikes no Brasil, na Argentina e no Chile; dessas, 1 mil são elétricas. A Tembici se comprometeu a implantar mais 10 mil bicicletas na sua rede até o fim de 2022, e metade dessa nova frota deve ser de e-bikes.

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Last-mile vira unidade de negócio da Tembici e vai além de comida

Em setembro do ano passado, a Tembici levantou US$ 80 milhões em uma rodada liderada pela Crescera Capital e com participação da Pipo e da Endeavor Catalyst para dar escala ao seu programa de cicloentrega, chamado internamente de last-mile

O que começou com uma parceira com o iFood lá em 2020 e vem sendo expandido gradualmente para mais cidades, com foco nas bikes elétricas e no que a empresa chamada de “last-mile quente” (comida), deve crescer também para o “last-mile frio” (qualquer encomenda que possa ser transportada por um cicloentregador). 

“A reflexão que tem sido feita no mundo todo é: faz sentido entregar um livro, uma roupa ou um celular, com um caminhões, carro ou moto? A maior parte das caixas entregues Brasil afora são pequenas. É por isso que criamos uma unidade de negócios específica para isso e que vai ter um head que está chegando aí nas próximas semanas na Tembici”, diz Fariello, salientando que o mercado potencial dessa unidade é enorme e que a solução da Tembici interessa principalmente em razão da crescente pegada ESG (sigla em inglês para o foco cada vez maior na governança ambiental, social e corporativa das empresas). 

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A parceria como iFood, batizada deiFood Pedal, registrou cerca de 2 milhões de pedidos entregues com bikes elétricas e bikes convencionais compartilhadas em 2021, evitando, segundo ambas as empresas, a emissão de 468 toneladas de CO2 na atmosfera. Mais de 15 mil entregadores do app se cadastraram para usar a solução da Tembici. Além de São Paulo e Rio, a parceria funciona também em Salvador, Brasília, Recife e Porto Alegre.

No fim das contas, o cicloentregador é um dos usuários a ocupar uma bicicleta da Tembici ao longo do dia. É assim que a startup olha para todas essas iniciativas de diversificação de usuários e, consequentemente, receita. Se nos horários de pico é o cidadão comum, indo ou voltado do trabalho, que mais usará as bicicletas, em outros momentos pode ser o cicloentregador, e qualquer outro usuáro que a Tembici venha a atrair no futuro. “Temos como conselheiro independente o Paulo Kakinoff, presidente da Gol. Ele sempre nos traz uma provocação que é a de que a Tembici não é diferente de uma companhia aérea. Uma aeronave nunca pode rodar vazia. A nossa métrica de slots se equipara aos assentos de avião, na medida que a gente tenta ocupar ao máximo as nossas bicicletas”, exemplifica o CFO da Tembici. A empresa informa ter visto o número de usuários crescer 25% em 2021 em relação ao ano anterior.

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Nessa mesma linha, e pensando em como aproveitar ainda mais o lado B2B da empresa, Fariello conta ao LABS que a Tembici tem conversado com algumas empresas e plataformas no sentido de vincular o serviço da startup a créditos de carbono. 

Desde junho do ano passado, os usuários que pedalam as bikes compartilhadas recebem informações sobre a quantidade de CO2 economizados a cada viagem, além do resumo de tempo e calorias gastas. As informações ficam registradas na conta do usuário. Somente em 2020, a Tembici registrou mais de 4 mil toneladas de CO2 economizados com pedaladas.