Se café e capital de risco não parecem uma combinação usual – pelo menos à primeira vista – um novo aporte anunciado nesta semana provou que o mix pode até não ser óbvio, mas tem tudo para dar certo. De Curitiba, a rede de cafeterias The Coffee anunciou uma nova rodada série A de US$ 5 milhões, liderada pelo fundo paulistano de venture capital Monashees.
Com trinta lojas espalhadas por cidades como Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza, o The Coffee espera chegar a cem unidades até o final de 2021, amparada pelo novo investimento. Por trás dos planos de expansão estão três sócios fundadores – e irmãos – e uma paixão compartilhada pelo Japão.
“A gente sempre quis ter um negócio juntos e sempre foi muito apaixonado pelo Japão”, conta Alexandre Fertonani em entrevista ao LABS. Com experiência em vendas, Alexandre e os irmãos Carlos e Luis, respectivamente oriundos de carreiras em tecnologia e publicidade, fundaram o The Coffee em março de 2018 com um investimento inicial de R$50 mil. A partir daí, os fundadores apostaram no modelo de franquia para escalar o negócio, já que o trio não contava com capital próprio para apoiar o crescimento da empreitada.

“Usamos o dinheiro para abrir a primeira loja e em seguida não precisamos mais capitalizar a empresa,” relembra o executivo. “A roda começou a girar a partir daí”. Fertonani atribui às pequenas cafeterias do Japão a inspiração que rendeu ao The Coffee seu design mínimo, lojas com metragem reduzida e cardápio restrito. Mas a receita do êxito contou com outro ingrediente chave: tecnologia.
Com autoatendimento por meio de tablets com sistema integrado na entrada dos cafés – que, por sua vez, não têm mesas e cadeiras no interior, já que funcionam apenas no modelo takeaway – o The Coffee também nasceu cashless. Se o estabelecimento já não aceitava dinheiro físico como forma de pagamento quando foi fundado, dois anos depois, o modelo fez ainda mais sentido.
“A segunda [rodada] começou em julho desse ano. Até nos surpreendeu, no meio da pandemia.” O novo investimento não é a primeira aposta do fundo de São Paulo na rede. Em meados de 2019, o Monashees, conhecido por uma carteira formada por nomes como o app de mobilidade 99, o primeiro unicórnio de 2020, Loft e a startup de logística Loggi, abordou os empreendedores curitibanos com o que se tornaria, alguns meses depois, em novembro, o primeiro capital seed levantado pelo The Coffee, no valor de US$ 500 mil. Um ano depois, veio a conclusão de uma rodada série A “ligeiramente” mais expressiva: US$ 5 milhões.
“A gente até já tinha montado a estratégia de segurar toda a operação. Não para fechar lojas, mas para segurar qualquer novo investimento, contratação. E aí veio essa sinalização por parte deles,” conta. Se o primeiro aporte permitiu ao The Coffee chegar, em pouco mais de dois anos, às trinta lojas – duas próprias e vinte e oito franqueadas – o segundo vai, literalmente, ampliar os horizontes da rede. No plano de expansão, Europa e Estados Unidos são as próximas paradas.

“Nosso norte é abrir cem lojas até o fim do ano que vem. Metade delas devem ser próprias e metade franqueadas. Basicamente a gente vai acelerar muito em loja própria agora,” explica Fertonani. No plano de cem novas unidades, algumas já têm destino certo. O The Coffee abrirá duas lojas em Lisboa, Portugal e quatro na Espanha, em Madri e Barcelona. Na sequência, outra unidade em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde, “em poucos dias, as obras iniciam,” conta.
Além da abertura de novas lojas e expansão internacional, o novo aporte, 90% captado via Monashees e 10% via fundos como Norte Ventures e Shift Capital também vai dar combustível para o The Coffee investir em estrutura própria – com a abertura de centros de distribuição e de torra – e na venda online.
A rede, que além do serviço de autoatendimento nos cafés, também conta com aplicativo para que os clientes possam fazer o pedido e apenas buscar o item na hora que estiver pronto, mira em uma nova linha de produtos. “Estamos importando produtos dos EUA e China e vamos colocar pra vender na loja, no app e no site,” conta, sem revelar mais detalhes.
“Também estamos na fase de conclusão do nosso blend com uma fazenda de Minas Gerais.” Hoje, segundo conta o executivo, o grão de todas as cafeterias do The Coffee vem de uma fazenda fornecedora em Cornélio Procópio, interior do Paraná. “No começo do ano que vem já teremos nosso próprio blend. Vai ser bem importante para a nossa marca”.
A preocupação e investimento na marca do The Coffee, que vai do logo minimalista aos tons neutros que preenchem as pequenas lojas e cardápios, também foi o que chamou atenção do fundo de investimentos.
“É branding, é varejo, é comércio – mas também é tecnologia,” conclui Fertonani. Em um ecossistema recheado de deals da nova economia, o The Coffee parece ter a receita que precisa para atrair sua fatia no mercado.