A médica obstetra Laura Penteado, diretora clínica da Theia, à esquerda, e as cofundadoras da startup Paula Crespi e Flavia Deutsch Gotfryd, respectivamente, à direita. Foto: Divulgação.
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Theia levanta R$ 30 milhões para ampliar alcance dos seus serviços de atendimento à mulher

Rodada foi liderada pelo 8VC, com participação da Canaan (gestora dos EUA especializada em saúde) e da Kaszek

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Criada há pouco mais de dois anos, a healthtech Theia anunciou nesta quarta-feira (13) uma rodada seed de R$ 30 milhões liderada pelo fundo norte-americano 8VC, com participação da Canaan — duas gestoras americanas com mais de um terço de seus portfólios no segmento de saúde — e da Kaszek (mesma gestora que liderou, ao lado da Maya Capital, a rodada pré-seed de R$ 7 milhões da startup, em 2019, a maior até então já levantada por um negócio liderado por mulheres na América Latina.

Em entrevista ao LABS, as fundadoras (gravidíssimas) Flavia Deutsch Gotfryd e Paula Crespi, disseram que os recursos serão usados não só no desenvolvimento de novas funcionalidades e serviços, mas também contratações e na construção de parcerias e integrações com planos de saúde — esse último foco é fundamental para levar as soluções virtuais e presenciais da Theia para mais mulheres.

De janeiro do ano passado para cá, mais de 1 mil atendimentos foram realizados pela healthtech, com índices de satisfação superior a 90. Os serviços de acompanhamento virtuais e presenciais da Theia abarcam desde o momento em que as mulheres decidem ser mães atéo período pós-parto e os primeiros cuidados com o bebê.

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Até o momento, as mulheres atendidas pagavam de maneira particular pelos atendimentos, podendo ou não pedir reembolsos nos seus planos de saúde. Poder passar a carteirinha do convênio para acessar a Theia é o próximo grande passo da startup para alargar o seu público alvo. “A gente entende que para ter escala, relevância, o primeiro passo é a integração com planos de saúde (…) Já temos conversas avançadas com vários dos planos aqui na região de São Paulo, mas ainda não podemos divulgar quais”, explicou Deutsch, que está, neste momento, grávida de seis meses e na sua terceira gestação.

Sem revelar números absolutos, Deutsch disse que a Theia “quintuplicou” sua receita ao longo de 2021, ano em que a startup trabalhou para consolidar seu modelo de negócio, com o lançamento de um app com a jornada de atendimento em setembro e a inauguração, já no início deste ano, da primeira clínica da Theia em São Paulo.

O protagonismo da mulher está em todos os detalhes do que foi construído ao longo do ano passado. Até o fato de não ter uma cadeira entre médico e paciente na nossa clínica marca a ideia de que quem decide tudo, com o apoio dos profissionais, é a mulher

Flavia Deutsch Gotfryd, CEO e cofundadora da Theia.

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Por meio do site e do aplicativo da Theia, as mulheres recebem indicações de ações a serem realizadas em cada período da gestação (antes e depois também). Elas também podem agendar consultas presenciais com os profissionais parceiros, realizar consultas online, ver conteúdos especiais e ter sempre à mão seus dados de saúde.

Apesar de protagonistas do processo, a mães atendidas pela Theia não estão sozinhas nele. “Acho que uma das coisas que mais me chamou a atenção agora na minha segunda gestação e usando e testando a Theia é que a gente realmente se sente apoiada. Comparando com a minha primeira gestação, em que eu tive de criar essa rede de apoio profissional sozinha, me preocupando com cada recomendação contraditória que vinha de um ou de outro, isso é um alívio. A gente quer poder decidir o que fazer, mas também não quer, o tempo todo, ser responsável por tudo. Em determinadas etapas eu até questionava se a ação sugerida pelo app era algo de que eu precisava. Chegava na hora e percebia que sim, era algo importante”, relata Crespi, que está grávida oito meses. Além do app, um especialista pessoal faz o acolhimento de cada paciente da Theia e segue ao lado dessa mãe durante toda a jornada.

Diferentemente de outras healthtechs, a Theia não é uma startup “puro software”. A parte do atendimento presencial é algo complexo de se implantar quando se quer mudar a forma como a maternidade é tratada no sistema de saúde brasileiro. Mas a nova rodada da Theia mostra que até mesmo os investidores, locais e globais, já perceberam que isso é uma boa ideia e que pode dar muito certo, apesar dos desafios.

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Segundo dados da OMS, os partos por cesariana continuam crescendo mundialmente, respondendo por mais de um em cada cinco (21%) partos. Dados de 2018, os últimos disponíveis na organização, apontam que o Brasil é o país com maior índice de cesáreas (56%) no mundo, ao lado da República Dominicana. Um levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostra que a taxa caiu levemente no setor privado, de 84,5% em 2013 para 82,7% em 2020, mas o desafio permanece.

Atualmente, 70% das mulheres começam uma gestação querendo parto normal, porém, no sistema privado, apenas 15% conseguem. Tem inúmeras razões para isso acontecer, mas no centro disso tudo, está a falta de um sistema realmente centrado nessa mulher

Paula Crespi, COO e cofundadora da Theia.
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