Máscaras de proteção, máquina fotográfica e outros objetos para viajar em meio à pandemia
Foto: Shutterstock.
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Coronavírus mutante e fronteiras fechadas: 2021 ainda será um ano de viagens domésticas

O feriado de Ano Novo no Brasil é uma amostra desta tendência. Veja o que as associações, a OYO e a Movida disseram ao LABS

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Com fronteiras fechadas e voos cancelados, 2020 foi um ano de prejuízos para o turismo. Uma segunda onda de casos e mutações do coronavírus identificadas em países da Europa e na África do Sul aumentaram as restrições para viagens internacionais. Mas dentro do Brasil, pouco a pouco as pessoas estão voltando a viajar. Uma prévia do que seria o final deste ano e também 2021 foi vista nos feriados nacionais em setembro e em novembro, com praias lotadas no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, por exemplo. As praias também foram as mais pesquisadas para o Ano Novo, segundo as associações do setor ouvidas pelo LABS

Roberto Haro Nedelciu, presidente da BRAZTOA (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), contou que em outubro 92% das operadoras brasileiras realizaram vendas, sinalizando uma recuperação gradual do setor, seguindo a reabertura do comércio, de parques nacionais e do retorno dos voos.

“O fundo do poço foi em abril. De lá para cá, vem crescendo”, afirma. Das vendas realizadas em outubro, 18% tiveram um faturamento entre 50% e 100% do que era no ano passado e 4% venderam mais do que em 2019. “Por conta de muitas promoções, principalmente no exterior”, explica.  

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Segundo Nedelciu, entre os locais mais procurados pelos turistas estão destinos de natureza e sem aglomeração. A BRAZTOA está entre as associações que apoiam a campanha “Supera Turismo”, que recentemente lançou a cartilha do turista responsável, com protocolos que incluem o uso de máscaras e a manutenção de locais bem ventilados. “Apoiamos que empresas, agências, hotéis e parques sigam os protocolos de segurança. Mas não adianta se o turista não seguir os protocolos de uso de máscara, álcool gel e distanciamento”, afirma.

Segundo Nedelciu, a receita das operadoras de turismo neste ano será 50% menor do que em 2019.

Achamos que a receita retornará aos patamares de 2019 em 2021, se tivermos a vacina

Roberto Haro Nedelciu, presidente da BRAZTOA.

Quem souber “vender” segurança e agilidade, ganhará o turismo brasileiro em 2021

Com as mutações do coronavírus começando a provocar novas restrições e afetando viagens internacionais no início de 2021, os passeios domésticos continuarão a ser uma tendência no próximo ano. 

Em abril e maio, o unicórnio indiano e gestor de redes hoteleiras OYO chegou a ter 20% da ocupação que registrava em períodos pré-pandemia, segundo Enrico Geiger, head de Novos Negócios da OYO. Em novembro a empresa já operava em patamares próximos a 50% das taxas de ocupação pré-pandemia, com a expectativa de terminar o ano com uma taxa próxima a 70%. 

Geiger, do unicórnio indiano OYO. Foto: Divulgação/OYO.

Temos visto essa evolução de forma positiva, mesmo que os hotéis mais próximos das capitais sejam mais resilientes a essa evolução. Em 2022 devemos voltar aos mesmos patamares (de antes da pandemia) 

Enrico Geiger, head de Novos Negócios da OYO.

Com a COVID-19 muitas empresas tiveram que investir na transformação digital. Não a OYO, que já nasceu digital. “Nossos canais digitais tem uma performance duas vezes melhor do que a dos nossos concorrentes”, comenta. As campanhas para o final de ano da empresa começaram no começo de novembro, e já em meados do dia 20 do mês passado a OYO registrava 30% de ocupação no nordeste brasileiro. 

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Além da digitalização, a aposta da rede hoteleira está no selo de limpeza certificada, uma parceria com o grupo Fleury de saúde. “A iniciativa vai desde medir temperatura do hóspede e distribuição de álcool em gel. A gente treina os hotéis, faz uma prova e uma auditoria. Depois que eles são certificados eles recebem este selo que aparece no Booking, Expedia e nos canais diretos da OYO”.

De acordo com Geiger, os hotéis com o selo tem uma ocupação duas vezes maior do que os que não têm o selo. Até a avaliação dos hóspedes têm 0,3 pontos a mais do que os que não têm a certificação.  

Até o mês passado, metade dos hotéis da rede tinham o selo de limpeza certificada e a expectativa é de que até o final do ano 70% dos hotéis tenham o selo. “Há vários hotéis grandes com mais de 100, 200 quartos e a possibilidade de encontrar mais pessoas é maior”, comenta, lembrando que 70% dos hotéis que a OYO gerencia tem por volta de 30 quartos. “Se você compara com um hotel grande, você fica em um ambiente mais restrito com menos contato com outras pessoas, um ambiente mais controlado”, diz. 

O Airbnb aponta que em 2019 os principais destinos dos hóspedes americanos eram Paris, Londres e Roma. Para 2021, parques nacionais, estações de esqui e cidades de praia entraram no radar internacional. No Brasil, isso tem se refletido em um aumento de reservas de casas inteiras no campo e em cidades menores de praia, a até 300 km dos centros urbanos, para ir de carro com a família, sem abrir mão do isolamento. 

Se o carro tem sido a opção para viagens curtas para quem quer evitar o transporte público, quem não tem veículo próprio tem procurado as locadoras. Para Jamyl Jarrus, diretor executivo comercial e de marketing da Movida, a locação de carros no Brasil tem voltado “de forma surpreendente”. 

Em julho, agosto, setembro, outubro e novembro a Movida percebeu uma forte retomada do lazer de curta e média distância. Segundo Jarrus, o pior momento para a empresa foi em abril, com as viagens corporativas congeladas e aplicativos parceiros, como a Uber e a 99, diminuindo viagens com a queda da demanda nas grandes cidades por conta de lockdowns. 

A Movida e outras locadoras foram entendidas pelas autoridades sanitárias como serviço de primeira necessidade, o que permitiu com que as lojas ficassem abertas.

Jarrus, da locadora Movida. Foto: Divulgação.

Todo mundo que não podia parar a gente atendeu. Em maio, os serviços corporativos voltaram a usar o carro, já que as ofertas de voos estavam baixas. No terceiro trimestre, já retomamos volumes próximos àqueles pré-pandemia

Jamyl Jarrus, diretor executivo com.ercial e de marketing da Movida

No terceiro trimestre, a receita líquida da Movida foi de R$1 bilhão, um aumento de 3,6% ante o mesmo período do ano passado. 

Segundo Paulo Miguel Junior, presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), os brasileiros têm viajado até três, quatro horas, e os estados têm fomentado equipamentos turísticos para possibilitar que as pessoas façam essas viagens mais curtas. “Tirando um pouco daquele conceito de que férias e turismo só acontecem com longas distâncias, viagens de avião, esse tipo de coisa”, disse. 

E o avião? 

A revista científica americana Jama (Journal of the American Medical Association) publicou um artigo mostrando que viagens de avião oferecem menos riscos de contaminação por COVID-19 do que o metrô ou uma sala de aula. Isso se deve a um sistema de filtragem das aeronaves, o filtro HEPA, que renova o ar a cada três minutos. O contágio por outro passageiro pode ser prevenido pelo uso de máscaras e por evitar o consumo de alimentos dentro do avião. 

“Esse filtro limpa 99.97% das micropartículas. É um filtro que suga o ar de cima para baixo. Um passageiro de máscara sentado ao lado de outro passageiro que fala, eventualmente o que passa pela máscara será sugado pelo filtro. Então a chance de contaminação a bordo é a mesma estatisticamente de um raio cair na sua cabeça”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR). 

Com uma tarifa média de 63% do que era antes da pandemia, as aéreas fazem parte de um dos setores mais prejudicados pelas medidas de isolamento social. “No pior momento da crise, nós ficamos com 8% da malha no ar, entre março e abril”, relembra. Lentamente, a malha aérea começou a subir novamente mês a mês. De acordo com Sanovicz, outubro registrou 52% da malha, novembro 60% e dezembro a previsão é fechar entre 68% e 70% de média nacional. 

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Para alguns destinos mais ligados ao lazer, como Salvador, a malha aérea pode chegar a 80% de operação. Números mais fortes devem se repetir em Fortaleza, Foz do Iguaçu e cidades com essas características no mercado doméstico, de acordo com o presidente da ABEAR.

Já a malha internacional deve demorar para ser retomada, segundo Sanovicz. Isso porque ela depende não só de questões ligadas à pandemia, mas também às normas de cada país e as avaliações que se faz em cada um desses países sobre a imagem do Brasil. 

Para viagens domésticas de avião, o Brasil não exige testes RT-PCR para detecção do coronavírus. “O protocolo é extremamente rigoroso, mas não obriga testes porque não tem nenhum tipo de cobertura legal para isso. O protocolo prevê uma série de atitudes desde o ingresso no aeroporto, de bagagem, área de embarque, o tempo todo a bordo de máscara, a suspensão de serviços (como alimentação), e claro, os filtros HEPA.”

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