Negócios

Ubisoft, a francesa que está desbravando a América Latina

Investimento na cultura e no conteúdo local fez a América Latina ser um dos mais importantes rendimentos da empresa globalmente

Há anos a indústria de games é tida como a maior do entretenimento mundial. Com uma penetração cada vez maior devido a smartphones e devices que permitem jogos com mobilidade e acesso a redes sociais, os games se tornaram algo comum na vida de qualquer pessoa, de qualquer idade. O sucesso nessa indústria, porém, depende muito do entendimento da cultura e do comportamento dos diferentes povos. Uma das empresas que conseguiu incorporar isso, além de ter passado pelas diversas fases de desenvolvimento do continente, é a francesa Ubisoft.

Mundialmente conhecida como a criadora de games como Assassin’s Creed, Rainbow Six e Just Dance, a desenvolvedora possui inúmeras filiais espalhadas pelo globo com diferentes atuações. Hoje, a sede do Brasil representa um dos maiores rendimentos da empresa e tem um futuro promissor pela frente, segundo Bertrand Chaverot, diretor da empresa. O investimento aqui, de acordo com ele, tem que ser feito com um planejamento mais cuidadoso.

“Apesar de estarmos aqui há um tempo, acho que ainda é o começo de algo com muito potencial. O investimento na cultura local, na localização dos games, do conteúdo e dos eventos é super importante – e é isso que nos fez mudar tanto desde quando chegamos aqui somente para distribuir jogos”, diz o executivo em entrevista exclusiva ao LABS.

O começo e a evolução do conteúdo regional

O período de distribuição ao qual Bertrand se refere é o início da década de 1990, quando os franceses trabalhavam em parceria com a Gradiente para aos poucos entrar no mercado brasileiro. “Naquela época, víamos muitos problemas em relação aos impostos e o valor que era repassado para o usuário, que era muito alto. (…) Ainda há o que melhorar, mas o público aqui é apaixonado por games e de fato usufrui dessa indústria, compra e joga muito”, diz. De fato, o setor faturou só no Brasil US$ 1,5 bilhão, o que fez o país se manter como o líder do mercado latino-americano e 13º na classificação global, de acordo com a 19ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, da PricewaterhouseCoopers (PwC).

Dentro desse montante, a Ubisoft representa uma parcela significativa, já que é uma das principais companhias do setor por aqui há anos. Apesar de atuar com parcerias no início dos anos 1990, foi só no fim desta década que a empresa veio para o país com uma sede física e profissionais locais. Em 2019, aliás, completam 20 anos da chegada de Bertrand e sua equipe no Brasil, que naquela época focava em divulgação da marca – ali, os grandes produtos deles se baseavam em Rayman e outros jogos menores, que deram vez a Prince of Persia, Splinter Cell, Assassin’s Creed e outras grandes franquias.

É muito importante trabalhar na localização e acredito que muito do sucesso aqui se deve a isso.

Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft

“Não adianta só colocar dinheiro no país sem entender o público ou adaptar o conteúdo, que é exatamente o que fazemos aqui com nossos eventos, canal no YouTube e outras iniciativas”, fala Chaverot, que relembra também da dublagem e tradução dos jogos, algo que a Ubisoft encabeçou no país e que deu muita visibilidade à marca dentro do mercado – esse foi um passo consequente à abertura de um estúdio aqui no Brasil, que encerrou as atividades em 2010, após desenvolver projetos para videogames como o Nintendo DS.

A evolução desta localização está muito atrelada ao investimento da empresa nos canais de conteúdo relacionados aos negócios dentro do América Latina. Hoje, a Ubisoft tem um canal no YouTube com mais de um milhão de assinantes, uma grade de programas fixa, redes sociais com milhões de usuários e coberturas multimídia de eventos globais como E3, GameXP e Brasil Game Show. “Procuramos cada vez mais parceiros e alcance mundial para tornar o mercado do tamanho que ele pode ser. Hoje temos estrutura de internet e tecnologia para isso”, diz Bertrand.

Eventos e eSports

Quando se refere à região com este potencial, Chaverot usa números expressivos como forma de convencimento, principalmente os que estão atrelados ao grande projeto da Ubisoft atualmente: Rainbow Six: Siege. Um game de tiro em primeira pessoa que tem no Brasil a maior audiência do mundo com os campeonatos transmitidos na internet. “Estamos entre os maiores em número de jogadores e somos o maior em audiência. Rainbow Six e eSports no geral hoje são responsáveis por quase um terço do nosso investimento no Brasil”, comenta o diretor. Além de R6, como é conhecido o game na comunidade, a Ubisoft também tem no Brasil o seu maior polo de Just Dance, jogo de dança que completa 20 anos também em 2019 e tem um brasileiro bicampeão mundial, Dhiego San, e um forte cenário competitivo dentro do país, com jogadores sempre nas finais de etapas globais.

A forte presença da companhia no mercado de eSports local rende frutos não só na comunidade, com o conteúdo criado pelas plataformas do Ubisoft no Brasil, mas também dentro dos próprios jogos. Rainbow Six conta com um mapa e personagens brasileiros há pelo menos três anos, e Just Dance tem a presença de artistas latinos como Anitta, Maluma, Ivete Sangalo, MC Fioti, J Balvin, entre outros. Em 2019, os franceses anunciaram a presença de Leka, cantora brasileira que terá a música “Só Depois do Carnaval” na lista de faixas do game no mundo inteiro, dividindo espaço com nomes como Cardi B e Ariana Grande. Para Bertrand, esse é só mais um exemplo de que o investimento na região traz retorno e que o mundo já entende o valor da América Latina como um local de negócios. “Há potencial aqui para estar entre os três maiores mercados do mundo de games”.