A Pingboard lançou em 2014 sua ferramenta de gestão de escritórios apostando na modernização das organizações corporativas como um todo. De lá para cá, amadureceu e acrescentou uma série de novas ferramentas à plataforma. E embora não tenha sido criada para o home office, acabou oferecendo aos clientes recursos vitais durante a pandemia de COVID-19.
Pouco antes de a pandemia se alastrar, a Pingboard passou por um exercício de reformulação, lançando uma nova marca há pouco mais de dois meses. A mudança deveria marcar a transição do modelo de negócios para um software de contatos entre funcionários, onde a startup viu que havia uma oportunidade de mercado para crescer. Foi isso o que Cameron Nouri, VP de Growth (expansão) da Pingboard, contou em entrevista ao LABS.
“Percebemos que muitas empresas estavam se desconectando, isso em parte porque algumas estavam dispersas geograficamente e outras estavam começando a adotar a política de trabalho remoto,” disse.
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Como o home office estava afetando a capacidade dos funcionários de desenvolver conexões profundas dentro de suas organizações, Nouri relatou que isso também se tornou um desafio para a produtividade dos trabalhadores remotos.
“Com a pandemia, vimos a escalada dessa situação. Agora, se falarmos com muitos de nossos clientes em potencial, quase todos estão mencionando esse desafio em que seus funcionários estão desconectados e usam frases como ‘ninguém sabe quem é quem e quem faz o quê'”.
Como reconhecer um colega que fez um bom trabalho virtualmente? Como integrar adequadamente as pessoas recém-contratadas? Tentando descobrir como responder essas perguntas é que a Pingboard mudou.
É tudo uma questão de ajudar a realmente promover conexões com os funcionários
Cameron Nouri, VP de Growth da Pingboard.

Nouri afirma que a Pingboard ajuda nas relações de trabalho tradicionais e também nas relações pessoais, ajudando as pessoas a se conectarem com a empresa e sua cultura de uma forma mais profunda. Se antes havia uma oportunidade nesse modelo de networking em desenvolvimento, isso agora tornou-se uma necessidade para muitas empresas.
Do ponto de vista da Pingboard, definitivamente houve um aumento no número de usuários. Embora a empresa não divulgue dados históricos de uso, a startup tem atualmente mais de 325 mil trabalhadores usando sua plataforma.
Respondendo à pergunta do momento, a Pingboard acredita que o trabalho remoto trouxe uma grande mudança que permanecerá mesmo com o fim da pandemia. “Acho que isso foi um catalisador que ajudou a impulsionar a mudança mais rapidamente e provavelmente teria acontecido por conta própria”, relata Nouri.

A pressa da adaptação fez com que as empresas tomassem decisões diferentes quando se trata de trabalhar remotamente e o que isso implica para o seus negócios. Na própria Pingboard, não há planos de trazer os funcionários de volta aos escritórios em 2020. Muitos dos empregados da startup optaram por usar esse tempo para viajar e trabalhar remotamente em certas áreas dos Estados Unidos onde a pandemia está sob controle.
“Isso já é uma mudança. Há um ano, provavelmente não estaríamos abertos a isso. Abraçamos o trabalho remoto em toda a empresa e é realmente muito benéfico para a produtividade”, acrescentou.
Google, Facebook e também empresas de tecnologia como a Siemens estão adotando novos modelos de espaço de trabalho e parece haver um efeito dominó com mais e mais organizações começando a fazê-lo. Segundo Nouri muitas empresas que adotam o home office nos Estados Unidos estão desistindo dos aluguéis de seus escritórios, reconhecendo que uma grande porcentagem de seus funcionários mudará permanentemente para o trabalho remoto.
“Resumindo, acreditamos que uma grande mudança está acontecendo e que continuará. Ouvimos a mesma história de muitos de nossos clientes”. Nouri relatou que potenciais clientes compartilham crenças semelhantes de que o trabalho remoto se tornará uma política que eles adotarão de maneira mais amplas do que no passado.
“Quase todos com quem conversamos mencionaram isso porque não sabem por quanto tempo a COVID-19 vai durar. Eles estão abraçando a ideia de que essa será uma mudança que será permanente até certo ponto”.
O valor total de faturamento da Pingboard, de acordo com uma estimativa do CrunchBase, é de US$ 6,8 milhões. A plataforma não divulga a quantidade de empresas parceiras que possui, mas lista algumas como Peloton, Duolingo, The Linux Foundation, Meetup, Turo e The Motley Fool.
A startup atende principalmente empresas que falam inglês, principalmente as sediadas nos Estados Unidos, mas também atua em mercados emergentes – o unicórnio brasileiro EBANX, dono do LABS, é um desses clientes.
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Abraçando a ideia de que o futuro do trabalho pode mudar, mesmo que a vida volte ao normal
Para quem trabalha em casa, a Pingboard está se concentrando nas conexões. A ideia é encontrar informações que ajudem os funcionários a se conectar e até mesmo a comemorar conquistas virtualmente. “Um exemplo disso: temos uma ferramenta que chamamos de ‘Aplausos’ que é um software de reconhecimento ponto a ponto para que funcionários ou gestores possam reconhecer publicamente um colega por um trabalho bem feito”, explica o VP.
Dizer “muito bem” no ambiente atual tem de acontecer por e-mail, em plataformas de bate-papo como Slack, Microsoft Teams ou algum tipo de videoconferência. Pensando nisso, a Pingboard desenvolveu uma forma de fazer isso sincronizado com outras plataformas de trabalho remotas. Esse é um tipo de ferramenta na qual a empresa quer continuar investindo: lançou recentemente uma ferramenta que será totalmente gerenciada dentro do Slack.
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“Essas informações serão armazenadas na Pingboard. Lá existem dados que podem ser mostrados para que os gerentes reconheçam seus funcionários quando quiserem olhar para trás e dizer todas as grandes coisas que fizeram de uma forma mais simples, e outros funcionários também podem ver”. Esse será o foco da Pingboard neste ano e no próximo.
Outro recurso lançado recentemente é o “Conexões”, que mostra colegas de trabalho que têm contatos e gostos semelhantes, de acordo com os dados que ele compartilha na plataforma. “Em nosso escritório, por exemplo, temos diferentes visualizações personalizadas configuradas para coisas como a escola ou universidade que frequentamos, e podemos ver pessoas que podem ter frequentado escolas semelhantes ou onde estão nossas cidades natais. Ou coisas mais divertidas como qual é sua bebida favorita. Cada empresa é um pouco diferente em termos do que querem focar”.
A integração com outras ferramentas de trabalho remoto, como o Microsoft Teams, faz parte da estratégia contínua da Pingboard. O Slack mesmo é um exemplo de empresa que adota uma mentalidade muito aberta às parcerias, tendo feito uma recentemente com o Trello, da Atlassian. “Nós trabalhamos com o Slack, mas não era difícil fazer isso porque eles desenvolveram um processo pelo qual quase qualquer empresa pode criar algo que se baseia em sua plataforma”.
Em meio a uma pandemia que deixou milhões de pessoas desempregadas, o home office também pode ser servir como um indicador de desigualdade econômica, que separa a América do Norte da América Latina, e mesmo uma região do Brasil de outra.
Segundo o IBGE, quase metade dos trabalhadores remotos estão alocados no Sudeste do país, região que concentra mais profissionais qualificados e maior participação no PIB. Por outro lado, apenas 252 mil trabalhadores remotos estão no Norte, a região mais pobre do Brasil.
Nos Estados Unidos, onde a Pingboard está localizada, a maioria dos trabalhadores gosta de trabalhar em casa. Em uma pesquisa com 1.123 trabalhadores remotos do The New York Times e Morning Consult, 86% disseram estar satisfeitos com os acordos atuais.
No Brasil, um levantamento do Instituto Travessia encomendado pelo jornal Valor Econômico mostra que dos 45% de brasileiros que trabalham remotamente, 67% definiram a experiência como “boa”.
No que diz respeita à Pingboard, Nouri acredita que uma das maneiras de reduzir essa desigualdade de condições de trabalho é encontrar soluções que funcionem nem no celular, como uma alternativa para quem não possui uma boa conexão de internet banda larga.