Depois de fazer sua primeira captação com investimento exterior, a QI Tech anuncia, nesta quinta-feira (23) a compra da Zaig. O acordo, que envolve pagamento em dinheiro e ações, não teve o valor divulgado. Com a aquisição, a QI Tech passa a oferecer crédito as a service.
A QI Tech foi a primeira fintech brasileira a receber licença do Banco Central para operar como uma SCD (Sociedade de Crédito Direto), em 2018. Isso permitiu que a startup desenvolvesse operações de crédito. A fintech trabalha com infraestrutura financeira, permitindo que qualquer empresa, de varejo ou até mesmo outras fintechs ofereçam crédito. É diferente do que a Hash e a Zoop fazem no Brasil, oferecendo apenas soluções de pagamento, e não de crédito, já que possuem licenças de instituições de pagamento.
A Telefônica Vivo é um dos clientes da startup. A Vivo consegue tanto prestar o serviço de telefonia móvel como também abrir conta, pagar boletos e conceder crédito, por meio da QI Tech. Fintechs que querem fazer empréstimos pessoais mas não podem emprestar o dinheiro diretamente também podem usar a API da QI Tech para oferecer o crédito, em um modelo B2B2C.
Em entrevista ao LABS, Pedro Mac Dowell, fundador e CEO da QI Tech, explica que quem carrega o risco e aprova o crédito ao usuário é a fintech cliente. Cabe à QI Tech fazer um termo de concessão da operação de crédito, mas quem o origina é a empresa cliente. A QI Tech faz esse processo em segundos, “24 horas, 7 dias por semana”, segundo Dowell.
“Trazemos a possibilidade para qualquer pessoa construir um ‘banco'”, diz Dowell, no sentido de que a QI Tech permite empréstimos entre pessoas por meio da plataforma, sem interação humana. A fintech também trabalha com o modelo de crediário sem cartões, o que hoje é chamado de BNPL (Buy Now Pay Later), em que o cliente consegue tomar crédito e pagar em vários boletos.
A QI Tech ganha na comissão do valor da operação, uma porcentagem – não divulgada – do volume transacionado no mês para novas emissões de crédito. O custo transacional de PIX e boleto também vai para a startup.
A primeira transação da empresa foi em 2019 e desde então a QI Tech já movimentou mais de R$ 5,5 bilhões em operações de crédito, dos quais R$ 200 milhões foram em 2019, R$ 1,2 bilhão em 2020, e R$ 4,2 bilhões em 2021.
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Desde a fundação, os sócios fundadores da QI Tech investiram com capital próprio na empresa. Mas, no mês passado, a fintech recebeu uma rodada de R$ 270 milhões do Fundo Soberano de Singapura (GIC). “Fizemos a rodada justamente para acelerar o nosso crescimento de forma inorgânica [por aquisições]. A gente já vinha crescendo, somos uma empresa eficiente em termos financeiros, a gente gera caixa, gera lucro. Não precisávamos ter feito uma rodada de investimento, mas fizemos justamente para acelerar por meio de aquisições”, disse Marcelo Bentivoglio, sócio da QI Tech.
Bentivoglio afirma que “possivelmente ainda cabem mais duas aquisições” com o montante captado pelo fundo de Singapura. “Estamos olhando para o mercado como um todo, [podemos adquirir] inclusive empresas maiores do que a QI, a gente não descarta a possibilidade de fazer uma segunda rodada para compor capital para fazer uma aquisição maior”.
Com a aquisição da Zaig, a QI Tech quer trazer para a casa onboarding de clientes e prevenção à fraude, com tecnologia de autenticação. “Dentro desse pacote de aquisição vem também a ideia da construção de crédito, em um one-stop-shop. Em um único lugar temos a entrada do cliente, a confiabilidade do cliente com relação a ser autenticado, e depois uma análise de crédito. Eu não tomo o risco, quem toma é a fintech cliente, mas eu posso dar para ela toda a estrutura para que ela possa desenvolver. Eu te dou o chassi do carro, você desenvolve o carro todo”, exemplifica Dowell.
A QI Tech atende 110 clientes e a Zaig tem 20 clientes. “Tem um cross-selling legal entre as duas companhias. A Zaig vem para ser uma linha de negócios de antifraude dentro da QI”, acrescenta Bentivoglio.
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As aquisições vêm como complemento de linhas de negócio que a QI ainda não opera, entre elas a compra de títulos. Geralmente, empresas que concedem crédito, como a Creditas, captam o montante para fornecer o crédito no Brasil via FIDCs (Fundo de Investimentos de Direitos Creditórios) para carregar a carteira de crédito originada pela fintech.
Essas fintechs emitem um FIDC, um veículo próprio, para poder captar recursos dos investidores e depois poder utilizar aquela carteira de crédito. Esses veículos só podem ser gerenciados por uma corretora, que faz a custódia (responde legalmente pelo fundo) e administração do FIDC. Assim, a QI Tech também olha para empresas que possam operar como essas casas financeiras para administração de FIDCs de forma digital.
Isso porque a startup planeja fazer um IPO em 2024 na Nasdaq e, com as aquisições, a QI Tech quer chegar para a oferta inicial de ações como uma empresa de antifraude com motor de crédito e com um pacote de custódia e administração de veículos de investimento.
“A gente tem muita coisa para fazer dentro do Brasil ainda. Não descartamos expansão internacional em 2022, não está nos planos hoje, mas nosso planos tem mudado muito rápido porque temos crescido muito rápido”, diz Bentivoglio.
Não há planos concretos para internacionalização, mas há demanda de clientes, segundo o executivo. Dowell também não descarta a compra de uma instituição financeira no México para provar a hipótese de que a tecnologia da QI Tech pode ser replicada na América Latina.