- Startup estreou na América Latina no ano passado, quando começou a funcionar no México e no Brasil
- Empresa estabelece parcerias com hotéis independentes e fornece apoio à gestão e tecnologia própria para otimizar tarifas
Uma empresa que chegou ao Brasil há menos de um ano sem fazer alarde já é a maior rede de hotéis do país em número de estabelecimentos. A startup indiana Oyo exibe no país números impressionantes para uma operação tão recente: quase 500 hotéis, que juntos oferecem 13 mil quartos, já exibem a sua bandeira em mais de 40 cidades. São 700 funcionários que atuam hoje na operação brasileira, que começou poucos tempo depois da estreia da empresa na América Latina, feita no México, em 2019.
O diretor geral da Oyo Brasil, Henrique Weaver, sugere que daqui em diante a expansão será mais calibrada. “Nosso primeiro objetivo é o crescimento sustentável, continuar agregando hotéis mas garantindo a sustentabilidade, aliando a lucratividade do hoteleiro à nossa”, disse ele em entrevista ao LABS.
Não é para menos. Fundada na Índia em 2013 pelo CEO Ritesh Agarwal, a Oyo Rooms demitiu recentemente 5 mil funcionários ao redor do mundo, para cortar custos e voltar a crescer. O prejuízo no último ano fiscal foi de US$ 335 milhões, seis vezes maior do que o registrado em 2018. Em seu report para investidores, a empresa atribui o resultado aos investimentos feitos em novos mercados. A receita, de US$ 951 milhões, cresceu em 4,5 vezes.
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O desafio da empresa recebe muitas comparações com o do WeWork, que assim como a startup indiana também recebeu investimentos do SoftBank – o grupo japonês detém hoje 46% da empresa. No caso da Oyo, as demissões ocorreram principalmente na Índia, nos EUA e na China, um de seus maiores mercados, fortemente afetado pelo coronavírus.
Em 2019, a startup recebeu US$ 1,5 bilhão em uma rodada liderada pelo SoftBank, quando passou a ser avaliada em US$ 10 bilhões. Atualmente, a Oyo opera com 43.000 hotéis e 1 milhão de quartos, em mais de 800 cidades em 80 países.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista de Henrique Weaver ao LABS:
A Oyo fez muitas demissões e passou por uma reestruturação recente no mundo. Isso afetou o Brasil?
A Oyo existe há seis anos no mundo e cresceu de forma muito acelerada. É de longe a empresa do setor de hotéis que mais cresce no mundo. Com o crescimento veloz, tivemos que fazer ajustes. Em 2020, nosso maior objetivo é o crescimento sustentável e a lucratividade. Para isso, revimos nossa forma de operar em diversos países e otimizamos o número de cidades em que estamos presentes em cada país, mirando naquelas que podem agregar mais valor. A Oyo passou por mudanças organizacionais e ajustou o tamanho da operação. Foi um processo difícil, envolve pessoas, mas esse processo foi concluído. Agora estamos mais bem posicionados para continuar crescendo de forma sustentável.
Qual é o modelo de parceria que a Oyo estabelece com os hotéis da rede?
A Oyo é uma startup jovem, e no Brasil operamos há menos de um ano. Fazemos parcerias com hotéis independentes, com estabelecimentos que funcionam bem mas que têm dificuldade para competir com as grandes redes. A Oyo faz um investimento financeiro inicial no hotel para melhorar a experiência do hóspede. Somos um misto de empresa de tecnologia e hotelaria, o que permite saber onde investir primeiro, para maximizar o retorno e a percepção do hóspede em relação a sua estadia. Também oferecemos a expertise das melhores práticas na gestão hoteleira, desde controle de custos até questões de overbooking. Em terceiro lugar temos a gestão de receita, que vemos funcionar muito bem tanto fora como aqui no Brasil.

Como é aplicada a tecnologia na operação?
A Oyo tem algoritmos proprietários desenvolvidos pela matriz. Por meio de machine learning, eles indicam o ponto de preço ideal minuto a minuto para cada hotel, cidade e situação. Temos um time que arrisco dizer ser um dos mais parrudos em gestão de receitas no Brasil e que trabalha também na tropicalização do nosso algoritmo.
O hotel adota uma tarifa dinâmica?
Isso, e ela varia bastante de acordo com uma matriz de data points, como por exemplo localização, estilo, nota do hotel e horário do dia. Ela muda segundo a segundo para garantir a cobrança do preço mais otimizado possível, visando o melhor RevPAR [Revenue per Avaliable Room] no fim do mês, o que melhora a relação entre quartos disponíveis e precificação. O fundamental é o hoteleiro ganhar mais dinheiro na parceria com a Oyo do que antes. Visamos aumentar a receita do hotel e oferecer a melhor experiência de hospedagem a um custo imbatível.
Qual o valor médio que a Oyo investe nos hotéis?
Nossa área de transformação é composta de arquitetos, engenheiros e designers. Temos padrões mínimos de qualidade que todo hotel da Oyo tem de seguir, de Gramado a Fortaleza. Antes de fechar o contrato com o hotel, essa equipe faz uma vistoria que embasa o investimento. O valor depende do gap entre a situação do hotel e os padrões da Oyo, então ele varia muito.
Existem hotéis que chamamos de plug-and-play, que praticamente só demandam branding, outros precisam de bastante trabalho e a alguns até negamos a parceria pois ela exigiria um aporte muito grande.
Qual é o custo para o hotel?
Cobramos um porcentual sobre a receita da hospedagem. Não entram aí alimentos e bebidas nem eventos.
O hotel associado assume a marca Oyo como uma bandeira?
Sim, ele passa a ter o nome da Oyo junto ao nome original. Mantemos a essência do hotel, não almejamos algo pasteurizado, que fosse igual em qualquer lugar. Temos padrões de conforto para, por exemplo, tamanho do colchão, qualidade do lençol etc. Mas temos hoteleiros apaixonados pelo seu negócio que às vezes desejam manter a forma de receber o hóspede e a decoração, em alguns casos.
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Alguma meta específica de expansão para o Brasil?
Nosso primeiro objetivo é continuar agregando hotéis mas garantindo a sustentabilidade, aliando a lucratividade do hoteleiro à nossa. Não temos uma meta em número de hotéis que possa ser aberta, mas estaremos nas cidades mais importantes do Brasil. Estamos hoje em mais de 40 cidades do Brasil, em quase todos os estados.
O mercado brasileiro de hotelaria exibe alguma característica única?
Há muitas similaridades com o mercado da Índia e da China. São todos muito fragmentados. Se você comparar com economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, esses mercados têm uma proporção maior de hotéis independentes, o que os deixa ainda mais interessantes, pois podemos agregar valor a um grande número de hoteleiros.
A grande diferença que vemos aqui: o porcentual de hóspedes internacionais é muito menor no Brasil do que nos outros grandes mercados. Por aqui, os hóspedes são majoritariamente brasileiros, mais de 90%. O dado abre uma oportunidade para estimular o turismo no Brasil.
A Oyo é superconhecida na Índia e na China, e muitos hotéis que antes se limitavam ao mercado doméstico passam, com o nosso apoio, a ser divulgados no mundo inteiro, em mercados com bilhões de pessoas. Aumentar o share de visitantes internacionais é algo que nos empolga muito. Isso melhora não só o resultado do hoteleiro, mas da economia como um todo.
Como a crise do surto de coronavírus tem afetado a empresa?
Restringimos viagens dos funcionários para áreas afetadas e oferecemos suporte, informações e orientação. Na China, muito mais afetada, trabalhamos muito perto dos hoteleiros, garantido o suporte necessário. O CEO global da Oyo doou o salário integral para o atendimento às vítimas no mês passado. Aqui no Brasil trabalhamos para que os hoteleiros estejam bem preparados e orientados para lidar com a situação.

A Oyo busca atender a um público específico entre hoteleiros e hóspedes?
O público é bastante amplo, mas temos um apelo especial entre millennials, uma geração que busca qualidade, é exigente, mas também quer um ótimo custo-benefício. Mas atendemos o público de diversas idades. Entre os hotéis, nosso foco são os independentes que, em sua maioria, têm entre 20 e 80 quartos.
A operação no restante da América Latina é similar à do Brasil?
Nas Américas, operamos nos Estados Unidos, México e Brasil. Na América Latina começamos no ano passado, México e Brasil têm o mesmo grau de maturidade. No México começamos poucos meses antes. Mas nosso foco é garantir escala nessas operações, crescer com robustez, antes de buscar outra expansão.