A América Latina registrou o maior crescimento da receita no varejo em comparação com todas as outras regiões do mundo em 2018-19 e os bons resultados ocorreram mesmo enquanto a taxa de crescimento teve queda de 5,3 pontos percentuais em relação ao ano fiscal anterior. Os dados são da última edição do relatório anual sobre varejo no mundo, divulgado pela Deloitte, o grupo de consultoria global. A região adicionou duas varejistas a um total de 11 empresas no Top 250 do relatório, com empresas gerando uma receita média de US$ 7,9 bilhões. A taxa de crescimento anual composta, que mede a progressão média do crescimento durante um período de tempo, também teve um grande aumento, de 3% em 2014-18 para 8,1% em 2015-19.
Porém, os varejistas da região ainda têm operações muito locais, geralmente concentrando-se em seu país de origem, atuando em apenas 2,5 países em média e gerando quase 80% de sua receita em seus mercados domésticos. Somente a Ásia-Pacífico – excluindo China e Japão – tem nível de globalização ligeiramente menor nas operações de varejo.
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Segundo o estudo, o crescimento do varejo na América Latina é impulsionado principalmente pela demanda do consumidor por conveniência, com o aumento da penetração da internet, proporcionando um impulso adicional ao comércio eletrônico e a adoção de estratégias multicanal pelas empresas. A confiança do consumidor também aumentou, e o PIB dos países da região voltou a crescer.
A Cencosud do Chile é a maior varejista da região. Junto com a Femsa e a S.A.C.I Falabella, ambas do México, elas foram a empresas que mais contribuíram em receita total entre as 250 maiores varejistas da América Latina, enquanto o Grupo Comercial Chedraui do México e a Magazine Luiza do Brasil foram os varejistas que mais cresceram, com taxa de aumento de receita de dois dígitos.
O relatório da Deloitte aponta que o crescimento do Grupo Comercial Chedraui foi impulsionado pela aquisição da rede de supermercados americana Fiesta Marts, pela abertura de novas lojas El Super e novas lojas em seu país de origem (das quais 30% eram lojas Chedraui e 70% eram em formatos menores, como Super Che e Supercito). O crescimento da receita do Magazine Luiza foi orgânico e atribuído à abertura de 100 novas lojas e a um salto de 60% no comércio eletrônico, que representou 35,7% do total de vendas.
Clima político e social
Os 11 maiores varejistas da América Latina são de apenas 3 países: México (5 empresas), Brasil (4) e Chile (2). O relatório da Deloitte chama a atenção para o grau de turbulência social na região, que chama de “surpreendente”. “[A agitação incluiu] países onde menos se poderia esperar – como Colômbia e Chile, ambos com forte crescimento econômico. Parece que muitas pessoas estão preocupadas com um futuro incerto, pois as novas tecnologias interrompem os modos antigos de fazer as coisas”, diz o estudo, acrescentando que o senso de incerteza provavelmente contribuiu para a eleição de líderes populistas nas duas maiores economias da América Latina, Brasil e México.

No Brasil, Jair Bolsonaro, político de direita, foi eleito em 2017 com uma agenda de liberalização de mercado que está sendo aos poucos implementada. Ele conseguiu aprovar uma reforma previdenciária no Congresso, reduziu tarifas e começou a facilitar a regulamentação doméstica. Embora a economia continue fraca, há sinais positivos. O Banco Central cortou as taxas de juros, levando a menores custos de capital e, talvez, mais investimentos. Segundo a Deloitte, o principal desafio do país vem da fraqueza na economia global, especialmente na China e na Europa, os maiores parceiros comerciais do Brasil.
O México, por outro lado, elegeu um líder de esquerda que já havia servido como prefeito da capital federal. Imediatamente após a posse, Andres Manuel Lopez Obrador (também conhecido como AMLO) cancelou as obras de um aeroporto para a capital. Ao fazer isso, assustou investidores que lançaram dúvidas sobre o compromisso do governo com infraestrutura e redução da dívida do governo. Os investidores também ficaram preocupados que o governo possa reverter a liberalização do mercado de energia defendida pelo presidente anterior. O investimento enfraqueceu, principalmente porque a economia americana está desacelerando e o comércio com o vizinho do norte permanece incerto. “Até o final de 2019, o México estava tecnicamente em recessão e as perspectivas para 2020 não parecem favoráveis”, conclui o relatório.
Concentração global
Os 250 principais varejistas globais geraram receita agregada de US$ 4,74 trilhões no ano fiscal de 2018-19, representando um crescimento de 4,1%. “As perspectivas para a economia global e o setor de varejo em 2020 são incertas”, diz Ira Kalish, economista-chefe global da Deloitte. “O crescimento econômico geral provavelmente será moderado, mas positivo, com um crescimento menor nos gastos do consumidor e na inflação permanecendo baixos na maioria dos países.”
Concentração
Os 10 maiores varejistas do mundo contribuíram com 32,2% de participação na receita total de varejo do Top 250, acima dos 31,6% registrados no ano anterior. O crescimento do Top 10 superou o dos 250 maiores varejistas, de 6,3% e 4,1%, respectivamente.
A Europa tem o maior número de varejistas no Top 250, com 88 empresas baseadas na região. Os EUA têm as maiores empresas, com um tamanho médio de US$ 27,6 bilhões, muito superior ao tamanho médio do Top 250, de US$ 19,0 bilhões.