Carlos Naupari e Edouard de Montmort, fundadores e co-CEOs da Velvet
Carlos Naupari e Edouard de Montmort, fundadores e co-CEOs da Velvet. Foto: Divulgação.
Negócios

Velvet muda modelo, mas não propósito: criar mercado secundário de stock options, agora como benefício corporativo

Para o lançamento do Velvet 360º Program, a fintech já fechou acordos para coordenadas ofertas secundárias recorrentes do Neon, da Credijusto (México), da Lummo (Indonesia) e da Open (Índia)

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A Velvet, fintech fundada em setembro de 2021 como uma plataforma de compra e venda de “ativos ilíquidos” de venture capital (leia-se stock options de startups), relança nesta quinta-feira (5) sua marca e modelo de negócios. Se lá em fevereiro, quando levantou US$ 200 milhões bancar suas primeiras aquisições, os fundadores Edouard Montmort e Carlos Naupari queriam fazer isso conectando as ofertas das startups a bancos digitais, gestoras e family offices via API, a ideia agora é operar como um benefício corporativo.

Em meio à escassez de talentos e a mais recente disputa por profissionais de tecnologia entre mercados emergentes e desenvolvidos, a estratégia faz sentido. Por meio do Velvet 360º, a fintech quer oferecer a colaboradores e acionistas de startups de mercados emergentes (não só a América Latina, mas também Índia e Sudeste Asiático) um caminho alternativo e mais rápido para a liquidez.

A ideia é mais simples do que parece: permitir que empreendedores e investidores de capital de risco possam vender e comprar pedacinhos de ações que recebem ao investir ou trabalhar em uma startup por meio de uma plataforma de fracionamento desses ativos. Em outras palavras, receber um aporte de fundadores e outros empreendedores experimentados é ótimo, mas bom mesmo é poder negociar seu pedacinho de empresa antes do IPO, seja para abrir o seu próprio negócio ou simplesmente gerar liquidez para qualquer outro propósito.

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Para o lançamento do Velvet 360º Program, a fintech já fechou acordos de ofertas secundárias recorrentes com cinco startups: Neon (Brasil), Lummo (Indonesia), Open (que virou o centésimo unicórnio da Índia nesta semana) e Credijusto (México). São todas empresas com as quais a Velvet já vinha falando desde o ano passado. “Conversamos ao todo com 27 fundadores, não só em LatAm mais Índia e Ásia. E eles olhos deles brilharam mesmo quando falamos da nossa estratégia como beneficio de RH, por isso resolvemos pivotar. Já estamos pensando em outros serviços que poderiam ser oferecidos ao redor disso [do programa]. Nesses últimos meses acabamos também validando que o nosso novo modelo de negócio é inédito entre mercados emergentes”, conta o co-CEO Carlos Naupari.

As startups-alvo da Velvet, porém, mudaram um pouquinho. E isso, segundo Naupari, também se deve ao momento de cautela que os ecossistemas emergentes estão vivendo agora — as demissões recentes em expoentes como QuintoAndar, Facily e Loft são apenas um sinal disso. “Temos inflação muito acima do esperado, guerra, corrida por talentos e algumas startups que estão sofrendo, pensando em fazer downround“, comenta o cofundador.

Se antes a régua da fintech estava posicionada em empresas com valor de mercado de, no mínimo, US$ 500 milhões e que receberam rodadas de grandes fundos locais e globais, agora startups de US$ 300 milhões já estão entrando no radar da Velvet. “Vimos que nesse estágio já há startups em um momento ideal para escalar e, consequentemente, para atrair profissionais, sócios qualificados”, detalha Naupari.

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As startups que escolhem oferecer o Velvet 360º Program determinam qual será a janela de liquidez recorrente. O mínimo para oferecer o benefício é dois anos, o máximo quatro anos. “A empresa também é quem determina quem são os colaboradores investidores elegíveis para participar da janela. Exemplo: funcionários com mais de três anos de casa poderão liquidar até 10% das suas opções ou ações em um período de dois anos, por meio de ofertas semestrais.”

A expectativa da Velvet é movimentar, nos próximos 12 meses, os US$ 200 milhões levantados (cerca de R$ 1 bilhão) em fevereiro com a Yolo Investments, além de family offices da Suíça e dos Estados Unidos. A fintech vem fechando compromissos de compra de US$ 15 milhões a US$ 30 milhões com cada empresa.

Ainda em 2022, a Velvet quer agregar outros produtos ao programa: empréstimos com vested options como garantia e financiamento de strike price acquisition para facilitar o processo de exercício de opções. “Vemos que uma grande parte dos options holders não tem a liquidez para exercer a compra das opções e muitas vezes acabam as abandonando quando saem das empresas. Existem hoje dezenas de milhões de dólares que voltam para a tesouraria das startups pelo não exercício das opções pelos seus holders — isso é uma verdadeira dor do ecossistema que vamos resolver”, disse Montmort em comunicado.

No futuro, a Velvet também imagina que poderá se tornar a wallet dos colaboradores que estão recebendo liquidez através do programa. Isso quer dizer que eles poderão usar essa liquidez para também diversificar seus portfólios, comprando opções outras empresas via Velvet.

Por ora, a única rodada de equity (investimento em troca de participação societária) levantada pela Velvet foi um aporte seed de US$ 3 milhões liderado pela Global Founders Capital e anunciado no fim do ano passado. É mais do que esperado que as startups dos 16 fundadores que acompanharam essa rodada — Nubank, Hashdex, Nomad e Favo, são algumas delas — virem, em algum momento, clientes da Velvet.