Startups América Latina
Foto: Shutterstock
Negócios

Educação e serviços financeiros já viraram apostas certas do venture capital no Brasil. Mas, e agora?

Precisamos estar atentos para que o acesso a capital seja ampliado e se torne mais acessível aos empreendedores e em escala nacional

O Brasil está testemunhando o crescimento acelerado do ecossistema de scale-ups. Isso se deve, em grande medida, à dissociação entre capital e geografia, lógica vigente durante décadas e que concentrou investimentos de venture capital em países como os Estados Unidos, por exemplo.

Para compreender os movimentos realizados pelos grandes investidores, é preciso analisar o cenário de maneira global: em 20 anos, o uso de capital de risco para impulsionar empresas fora do país norte-americano passou de 20% para 62%. 

A percepção do mercado sobre as iniciativas inovadoras tem levado capital para regiões vistas anteriormente como menos interessantes, como é o caso da América Latina, Sudeste Asiático e Oriente Médio. Esse comportamento é fruto do entendimento do potencial de crescimento das empresas em mercados ainda pouco atendidos e explorados.

LEIA TAMBÉM: Nada dos US$ 4,4 bilhões levantados por startups da América Latina em 2020 foi para empresas fundadas apenas por mulheres

Na América Latina, desde 2016 esse tipo de investimento dobra de tamanho anualmente. Apenas no Brasil, em 2020, foram US$ 3,5 bilhões para estimular o desenvolvimento de scale-ups, segundo dados do Distrito.

O mercado de venture capital tem identificado em países emergentes oportunidades de investimento, principalmente, em setores como educação e serviços financeiros. Essas brechas foram expostas com o avanço da pandemia e chamam a atenção de investidores pela possibilidade de crescimento. A chegada desses fundos globais em regiões em pleno desenvolvimento tecnológico provoca alto impacto na digitalização da população e um aquecimento econômico mais capilarizado do que era possível perceber até os últimos anos. 

LEIA TAMBÉM: Hernan Kazah: massa crítica conhecedora de tecnologia é combustível para crescimento da KASZEK

Nesse cenário o Brasil se destaca novamente. Apesar das incertezas que rondam a política e economia nacional, o país é um farol para a América Latina. Com um setor tecnológico mais maduro e robusto, surgem daqui empresas com capacidade de fazerem frente ao mercado internacional e competirem globalmente. É o caso da Méliuz, empresa de Belo Horizonte que realizou IPO no ano passado e, desde então, registrou crescimento superior a 150%. 

Porém, mesmo que os ventos soprem favoravelmente, é preciso destacar que a disparidade no volume de investimentos ainda é aguda.

Enquanto os investimentos de venture capital no Brasil chegam a apenas 0,12%, se comparado com o Produto Interno Bruto (PIB), nos Estados Unidos esse montante é de 0,6%. Em que pese a diferença inegável da presença desses investimentos nos dois países, é preciso um olhar otimista para reconhecer o quanto ainda podemos crescer.

LEIA TAMBÉM: Sócio da Redpoint eventures, Romero Rodrigues aponta ESG como maior tendência para 2021

É justamente essa expectativa de desenvolvimento acelerado de startups e scale-ups, somada à demanda do mercado e à chegada de grandes investimentos, que tem motivado um ambiente competitivo no setor. Com isso, esses negócios têm atingido em tempo reduzido um crescimento que antes levaria décadas. Prova disso é a eclosão de unicórnios, empresas de tecnologia avaliadas em US$ 1 bilhão.

Atualmente são mais de 500 negócios desse porte ao redor do mundo, 16 deles no Brasil. Além disso, a abertura de capital de startups na Bolsa de Valores vem aumentando. No último ano, 28 empresas fizeram ofertas iniciais e outras 40 aguardam uma oportunidade em 2021. A expansão do número de organizações listadas atrai novos investidores e amplia as opções de acesso a capital.

O impulsionamento financeiro permite que as scale-ups, empresas maduras, de alto crescimento e com modelo de negócios validados pelo mercado,  contratem funcionários e invistam em estratégias de inovação e internacionalização que permitirão seu crescimento e, acima de tudo, abrirão caminhos para que novas companhias possam trilhar uma trajetória de sucesso. 

LEIA TAMBÉM: Península, de Abilio Diniz, lança gestora O3 Capital

Esse efeito multiplicador beneficia a sociedade com o surgimento de soluções inovadoras para os principais problemas de governos e pessoas e estímulo para economias em desenvolvimento, com a geração de milhares de empregos e fortalecimento dessas empresas.

Os desafios de distribuir os investimentos pelo Brasil

Sendo assim, precisamos estar atentos para que o acesso a capital seja ampliado e se torne mais acessível aos empreendedores e em escala nacional.

Isso porque, tendo em vista as dimensões de um país como o Brasil, por exemplo, há a tendência desse capital ser concentrado em determinadas regiões, formando bolsões de desenvolvimento, em contraste com regiões de enorme potencial, mas sem acesso a capital para prosperarem. Este é um grande desafio. 

Outro desafio é o fato de o ecossistema de venture capital ainda ser de difícil compreensão. Empreendedores e empreendedoras muitas vezes não sabem como acessar fundos de investimento, quais são os critérios para receber um investimento e quais são os mecanismos de governança necessários para essa sociedade. A baixa compreensão desse ecossistema dificulta o acesso a capital pelas scale-ups e aumenta as chances de erros, traduzidas em diluição excessiva e problemas de governança, em especial em suas fases iniciais e de expansão, o que compromete seu crescimento de longo prazo.

Há ainda um longo caminho pela frente, mas que se mostra completamente possível de ser percorrido com investimentos constantes e saudáveis, apoio aos empreendedores e construção de um ambiente propício ao desenvolvimento de soluções e compartilhamento de conhecimento.