A estratégia da Vivo para continuar crescendo: um ecossistema de negócios digitais e um fundo de R$ 320 milhões para impulsioná-lo
Foto: Vivo/Divulgação
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A estratégia da Vivo para continuar crescendo: um ecossistema de negócios digitais e um fundo de R$ 320 milhões para impulsioná-lo

O setor de telecomunicações dá sinais de ter chegado a um ponto de saturação em todo o mundo, e a aposta da Vivo é desenvolver outras verticais de negócios – e não, não um super app

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A Vivo, marca comercial da Telefônica Brasil (parte do conglomerado de telecomunicações Grupo Telefónica), lançou recentemente o Vivo Ventures, um fundo de Corporate Venture Capital (CVC) de R$ 320 milhões para investir em startups brasileiras em áreas como entretenimento, marketplace, finanças, casa inteligente, educação e saúde.

O Vivo Ventures, um dos maiores fundos CVC captados no Brasil, planeja investir em startups em estágio de crescimento, com preferência por rodadas Série A ou B e investimento médio de R$ 20 milhões, podendo ter até 20% de participação nas investidas. A ideia é montar um portfólio de 12 a 20 startups nos próximos cinco anos. 

Esse não é o primeiro movimento de aproximação da Vivo do ecossistema de startups do Brasil. O Grupo Telefónica é dono da Wayra, hub de inovação aberta com atuação em vários países em que a Telefónica está presente. Mas, diferente do Vivo Ventures, a Wayra costuma investir em rodadas pré-Seed e Seed em negócios que tenham sinergias com o negócio da companhia – principalmente em entretenimento, inteligência artificial, internet das coisas, big data, edtechs e fintechs. Em 2021, foram gerados cerca de R$ 70 milhões em negócios entre a Vivo e as startups do portfólio da Wayra Brasil.

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O pano de fundo das duas iniciativas tem a ver com a estratégia da Vivo de investir em novas avenidas de crescimento e se posicionar cada vez mais como algo além do que uma companhia de telecomunicações, e sim como um hub digital com um portfólio de produtos e serviços variado. Daí a busca por startups atuantes em áreas que, embora pareçam distantes do core business de uma tele, são setores-chave para o objetivo da companhia de participar de vários ecossistemas de negócios, seja por meio do desenvolvimento próprio ou de parcerias com marcas de referência em suas áreas. 

Como parte dessa estratégia, nos últimos anos a Vivo adicionou à sua oferta desde produtos financeiros, como conta digital (Vivo Pay) e empréstimo pessoal (Vivo Money), até soluções voltadas para a saúde, como um app de meditação (Atma) ou um marketplace de saúde (Vida V.). Há ainda uma joint-venture na área de educação com a Ânima; um marketplace onde é possível comprar todo tipo de item (Vivo Shopping); e parcerias com plataformas de streaming de vídeo e música. 

Rodrigo Gruner, diretor de Inovação e Novos Negócios da Vivo. Foto: Divulgação


O LABS conversou com Rodrigo Gruner, diretor de Inovação e Novos Negócios da Vivo sobre o Vivo Ventures e a estratégia da companhia. Veja os principais trechos da entrevista: 

O papel do Vivo Ventures na estratégia de crescimento da Vivo

“Para acelerar e dar robusteza aos nossos negócios, precisávamos de veículos, de alavancas. É aí que entram as fusões e aquisições, parcerias estratégicas, joint ventures. O Vivo Ventures é uma dessas alavancas para reforçamos nossa aproximação com o ecossistema de inovação aberta. 

Temos a Wayra, hub de inovação da Vivo com mais de dez anos de história, mas ela tem uma tese de investimento diferente do CVC, de ticket baixo. Então pensamos que o Brasil tem muitas startups que seriam bons parceiros para essas outras verticais da Vivo, mas são startups que estão em outro momento da jornada. O Vivo Ventures vem para complementar a tese da Wayra, com ticket mais alto.

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Nesse sentido, o CVC é mais uma etapa de um processo de evolução que vem de alguns anos. Quando falamos de modelo de inovação, chegamos ao “para onde vamos?”. Nós estamos bem posicionados em telecomunicações, mas esse é um mercado que está crescendo a taxas menores no mundo inteiro. No entanto, é um modelo que tem muita abertura para novos negócios digitais. Isso nos levou a questionar como poderíamos ter mais impacto e gerar novos caminhos de crescimento para a empresa.

Estamos construindo um ecossistema de negócios digitais que endereçam dores do mercado e são potencializados pelos ativos da Vivo. Basicamente, a ideia é: identificar uma dor para resolver e desenvolver um modelo de negócio que pare em pé e com o qual consigo usar os ativos da nave mãe, como base de clientes, canais digitais, apps.

Rodrigo Gruner, diretor de Inovação e Novos Negócios da Vivo

Super app ou ecossistema? 

“Nossa visão não é monoproduto. Não vamos ter um super app. Alguns negócios conseguem ou precisam que seja desse jeito, bancos fazem muito isso, começam com o core business e vão adicionando novos serviços. 

Nós não vamos concentrar tudo em uma jornada só até mesmo por questões técnicas, porque é inviável. Veja, a Vivo trabalha com conectividade, tem um negócio de banda larga de alta velocidade, vende TV por assinatura e tem uma versão em app do conteúdo de TV. Se colocássemos os canais lineares dentro do app, esse app ia ficar tão pesado, lento e difícil de gerenciar que não justifica. A mesma lógica vale para outros negócios da Vivo, faz sentido colocar a consulta de telemedicina no app da Vivo? Não. 

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A nossa visão de ecossistema é de que cada negócio tem que ter sua jornada e entregar seu valor para o cliente. Nós vamos criar conexões entre esses negócios, que tornem esse ecossistema tangível para o cliente. Vamos fazer isso por meio de jornadas integradas de produtos que têm pontos de contato, por exemplo, com o Vivo Pay dentro do app da Vivo. Alguns negócios permitem uma integração mais profunda, outros menos. 

Dentro dessa estratégia de ecossistema, nosso conceito de evolução desses negócios é de que eles não sejam apenas produtos dentro de uma área da Vivo, mas que cresçam e sejam grandes o suficiente para nos questionarmos se eles deviam estar aqui dentro. 

Rodrigo Gruner, diretor de Inovação e Novos Negócios da Vivo

Tese de investimento

“O mais importante é que buscamos negócios que possam ser alavancados pelos ativos da Vivo. O peso do alinhamento com a estratégia da Vivo é bastante alto na nossa tese. É um desafio porque vamos entrar em áreas bem concorridas do ponto de vista de venture capital. Mas o foco de um fundo institucional não é necessariamente o mesmo foco de um CVC, justamente porque o corporate tem a estratégia da companhia como determinante. Também planejamos trabalhar juntos com fundos institucionais, como follower das rodadas. E buscamos apenas startups no Brasil.

Nos últimos três anos, tivemos um movimento de muita liquidez de venture capital, muito dinheiro migrou para fundos de VC. Ainda estamos em um momento de fluxo grande de capital de risco no Brasil, tem muitas oportunidades no mercado. Então, quando entra alguém como a gente, um CVC, nós também temos que vender nossa proposta para o founder.

Nossa proposta de valor é outra, é ser um parceiro de negócios. A gente aporta capital, mas também aproxima as startups de novos negócios. As startups que vierem para o Vivo Ventures podem fazer negócios com a gente, podem ser parceiros tanto nos novos negócios da Vivo como no core business da companhia. Há muitas oportunidades, seja na logística, no e-commerce, em SaaS… Não temos uma regra única, vamos procurar por quem tem fit com o mercado e a estratégia da Vivo.

Rodrigo Gruner, diretor de Inovação e Novos Negócios da Vivo