Agustina Fainguersch é cofundadora da Wolox e nova diretora regional da Meta para a América do Sul espanhola e Miami. Foto: Divulgação/Wolox.
Agustina Fainguersch é cofundadora da Wolox, empresa de desenvolvimento de software com sede em São Francisco, Califórnia e escritórios na Argentina, Chile, Colômbia, México e Nova York, que foi adquirida pela Accenture em janeiro de 2021. Quando ela conversou o LABS, ela era também CEO da empresa, mas desde março de 2022 ela deixou a posição para assumir diretora regional da Meta para a América do Sul espanhola e Miami.
Fundada há 10 anos, na Argentina, por um grupo de jovens recém-formados em engenharia de software, a Wolox sempre teve como foco ajudar empreendedores a transformar suas ideias em produtos digitais.
“Decidimos unir forças e criamos a Wolox”, contou Fainguersch. “Assim essas empresas poderiam ter acesso à expertise de toda uma equipe de engenharia para transformar suas ideias em produtos de software e usar a tecnologia como ferramenta para resolver seus problemas.”
Como resultado, a Wolox tem ajudado a construir muitas empresas do zero, orientando os clientes em todas as etapas, desde o projeto e o desenvolvimento de software, passando pela otimização de UX/UI e o lançamento de produtos viáveis mínimos (MVP), até o dimensionamento de produtos e serviços digitais. “Nós nos tornamos especialistas no que chamamos de projeto de negócios digitais [digital business design] – a interseção entre tecnologia, negócios e experiência do usuário”, disse Fainguersch.
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Antes de fazer parte da Accenture, 36% da equipe de engenharia da Wolox era composta por mulheres. Na liderança da empresa, a proporção de mulheres era ainda maior e oscilava entre 50% e 53%.
“Era mais fácil achar mulheres para cargos de liderança do que achar engenheiras de software”, diz Fainguersch. “Não me sinto muito orgulhosa dessa proporção de 36%, mas tenho muito orgulho do esforço que nós fizemos para chegar a esse número.”
Essa foi uma das razões pelas quais a Wolox decidiu ingressar na Accenture: para ter um número maior de engenheiras e, ao mesmo tempo, manter a proporção de mulheres que tinha nos cargos de liderança. “Foi inspirador ver que uma empresa tão grande quanto a Accenture realmente se preocupava com esses índices e atingia objetivos que nós, uma empresa menor, não conseguíamos alcançar”, disse Fainguersch.
Na escola, Fainguersch sempre gostou mais das aulas de ciências, matemática, química e física do que de qualquer coisa relacionada a artes e humanidades. Por isso, quando chegou a hora de entrar na faculdade, resolveu fazer engenharia de software, porque o software permitia criar e dimensionar produtos de forma rápida e eficiente, além de ser uma ferramenta poderosa para gerar mudanças positivas. “Eu queria fazer grandes coisas e como engenheira de software não precisaria me restringir a apenas um setor”, diz Fainguersch.
Ela descreve seu estilo de liderança como entusiasta, voltado para as pessoas, orientado à equipe e alimentado por ideias ousadas.
Eu não gosto de trabalhar sozinha. Uso minha esfera de influência para criar equipes de grande potencial que sonham alto e mantêm os pés no chão. Prefiro equipes que sabem construir um passo de cada vez e entendem o impacto que geram
Agustina Fainguersch, cofundadora da wolox e diretora regional da meta.
Fainguersch afirma que as lideranças femininas tendem a estar mais atentas tanto ao bem-estar pessoal de suas equipes. “Vejo muitas fundadoras construírem empresas como se elas fossem seus bebês”, disse Fainguersch. “Cuidar muito é bom, mas pode tornar as decisões – como deixar a empresa ou demitir alguém porque não está dando resultado – ainda mais difíceis.”
Mesmo assim, quando se trata de construir e trabalhar com equipes de alto desempenho, Fainguersch acredita que os benefícios da empatia superam o lado negativo.
Já estamos em 2022 e ainda não vemos muitas CEOs mulheres dirigindo grandes empresas. Apesar de 2021 ter estabelecido um recorde – 41 mulheres liderando empresas na Fortune 500 –, isso significa que apenas 8,1% das empresas dessa lista são lideradas por mulheres. E nenhuma delas é latino-americana.
Uma pesquisa sobre as 50 maiores empresas de tecnologia do mundo revelou que apenas uma em cada 10 tem uma CEO mulher. É muito pouco.
Isso também levanta uma questão – quais são os desafios que as mulheres enfrentam ao liderar uma empresa em um setor dominado por homens como o da tecnologia? Como muitas perguntas incômodas da vida, a resposta é: depende das circunstâncias.
As circunstâncias de Fainguersch não são muito comuns. Ela cofundou sua própria empresa de tecnologia e depois a Wolox decidiu unir forças com a Accenture, uma das 10 maiores fornecedoras de serviços de tecnologia do mundo, liderada pela presidente e CEO Julie Sweet.
Os desafios que enfrento estão principalmente fora da empresa – provavelmente porque escolhi trabalhar com a Accenture, uma empresa que apoia mulheres na liderança. Lá fora vejo muitos preconceitos inconscientes – homens que nem percebem que não estão sendo inclusivos
AGUSTINA FAINGUERSCH, COFUNDADORA DA WOLOX E DIRETORA REGIONAL DA META.
Para Fainguersch, um ótimo exemplo dessa realidade acontece na hora de negociar com os clientes, porque muitas vezes clientes do sexo masculino acham difícil acreditar que terão de negociar com uma mulher. “Não é intencional, simplesmente não faz parte da mentalidade deles”, disse.
Parte desse trabalho envolve incentivar mais mulheres a pensarem em trabalhar na área de tecnologia. Antes de fazer parte da Accenture, a Wolox fez parcerias com a Microsoft e a EIDOS em uma iniciativa chamada Plan Azurduy.
Tendo mães solteiras como alvo, a Wolox elaborou um curso de competências tecnológicas que as habilitava a se tornarem testadoras de controle de qualidade. O programa se concentrou em ajudá-las a desenvolver habilidades como adaptabilidade, criatividade, liderança e resiliência. Depois disso, a empresa as ajudou a conseguir um bom emprego dentro de suas conexões.
“Foi uma oportunidade de colaboração extraordinária”, diz Fainguersch. “Conheci muitas mulheres que passaram pelo programa e foram contratadas pela Accenture alguns anos depois. Foi incrível.”
Como parte da Accenture, a Wolox colabora em uma iniciativa chamada Technoloshe. Pensado para ajudar a reduzir a diferença de gênero, o programa oferece bolsas de estudo para mulheres que buscam carreiras em STEM. Além da ajuda financeira, a Technoloshe proporciona tutoria ao longo da carreira universitária.
“Não são um ou dois programas; existem muitas iniciativas para inspirar e treinar mulheres a se tornarem líderes”, diz Fainguersch. “Começa no topo, mas a mentalidade de inclusão permeia toda a organização. Eu estou incrivelmente orgulhosa dessa parte da Accenture, e é uma das razões pelas quais resolvemos nos unir a ela.”
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Nascida na Argentina, Fainguersch passou seus anos de formação empresarial no Vale do Silício. Com os pés como empreendedora firmemente plantados nos EUA e na América Latina, ela acredita que homens e mulheres das duas regiões vejam as lideranças femininas na área de tecnologia de uma maneira diferente.
Na América Latina, observou ela, a maioria das mulheres não pensa em lutar pela liderança e a maioria dos homens não pensa em escolher mulheres para liderar. “Temos de mudar essa mentalidade logo”, disse Fainguersch. “Estamos quase uma década atrás dos EUA e precisamos aumentar tanto o número de mulheres treinadas para a liderança quanto o número de homens dispostos a escolher mulheres para cargos de liderança.”
Debates permanentes sobre se as mulheres deveriam liderar ou mesmo entrar em áreas STEM – argumentos que continuam sendo muito comuns nos EUA – depreciam um trabalho que produz valor real para todos. Acelerar a inclusão e as iniciativas que apoiam esse objetivo é o que Fainguersch chama de linha de base ou patamar.
“É o mínimo que precisamos para construir coisas que realmente mudem a vida das pessoas, mudem as indústrias e transformem a realidade”, disse ela. “E é essencial ter equipes e pontos de vista diversos. Caso contrário, criamos produtos totalmente desequilibrados.”
Essa necessidade urgente ocorre em um momento em que a tecnologia está em alta em toda a América Latina. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) projeta que até 2025 a indústria de desenvolvimento de software criará mais de 1,2 milhão de empregos na região. Considerando que a América Latina perdeu 26 milhões de empregos devido à COVID-19, isso representa uma grande oportunidade de ajudar a impulsionar sua recuperação econômica.
Proporcionar modelos é outra peça essencial do quebra-cabeça da inclusão e foi por isso que Fainguersch concordou em dar esta entrevista ao LABS. Isso está relacionado ao objetivo de mudar a mentalidade de homens e mulheres.
Colocar em evidência as latino-americanas que trabalham em STEM agrega um valor tremendo. Se as pessoas nunca veem mulheres bem-sucedidas em STEM, fica mais difícil para as mulheres enxergarem um caminho para si mesmas e faz com que seja mais difícil que os homens aceitem que as mulheres fazem parte desse caminho
AGUSTINA FAINGUERSCH, COFUNDADORA DA WOLOX E DIRETORA REGIONAL DA META.
Fainguersch dá um conselho importante para as mulheres que estão pensando em fazer uma carreira STEM: “Não pense demais. Simplesmente comece. Eu era a única mulher na minha turma de engenharia e pensava ‘Oh, meu Deus, eu não vou conseguir!’ Não foi fácil, mas valeu a pena.”
Traduzido por Adelina Chaves
This post was last modified on março 8, 2022 6:02 pm
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