Na foto, o CEO do Pride, Márcio Orlandi Junior.
Na foto, o CEO do Pride, Márcio Orlandi Junior. Foto: Divulgação
Sociedade

O primeiro banco digital LGBTI+ do mundo é brasileiro: conheça o Pride Bank

Com forte propósito social, iniciativa quer solucionar dores que a comunidade LGBTI+ enfrenta em instituições financeiras tradicionais

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Por que não unir tecnologia, inovação e diversidade como os pilares de um banco? Foi com base nessa ideia que surgiu o Pride Bank, o primeiro banco digital do mundo voltado à comunidade LGBTI+. Lançado oficialmente em novembro e ainda em fase beta, o banco atende pessoas físicas e jurídicas com serviços como conta digital, transferências, boleto e recarga e compra de créditos. Em breve, cartão pré-pago internacional e pontos de venda (POS) também estarão disponíveis.

O LABS conversou com o CEO do Pride Bank, Marcio Orlandi Junior, que abraçou o projeto inicialmente formulado pela empresária Maria Fuentes e pelo consultor administrativo e financeiro Alexandre Simões. Eles apresentaram a ideia para a Digital Banks, desenvolvedora de softwares de open banking e soluções para meios de pagamento, e poucos meses depois a iniciativa estava em funcionamento.

Alexandre Simões e Maria Fuentes (à esquerda), os idealizadores do Pride Bank, ao lado de Marcio Orlandi Junior, CEO da fintech. Foto: Divulgação.

Por enquanto, os priders, como são chamados os correntistas, precisam de convite para abrir uma conta. “As pessoas estão começando a testar os serviços, depositar dinheiro e os cartões de crédito ainda demoram mais para chegar. A gente acredita que o movimento vai aumentar muito assim que os cartões de crédito chegarem”, diz Marcio.

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Estima-se que, no Brasil, aproximadamente 20 milhões de pessoas se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexo e outras identidades de gênero ou orientações sexuais. “A gente quer uma boa parcela dessa população”, diz Marcio.

Modelo do futuro cartão de crédito do Pride Bank. Imagem: Simulação.

A criação do banco pretende solucionar dores e atritos que as pessoas LGBTI+ enfrentam na relação com instituições financeiras tradicionais, nem sempre familiarizadas com a diversidade. Marcio destaca como exemplo o constrangimento sofrido por pessoas transexuais que não têm nome retificado (oficialmente alterado nos documentos) ou que não conseguem usar o nome social (nome pelo qual preferem ser chamadas) nos cartões e documentos do banco.

“A gente encontrou muitos desses relatos na nossa pesquisa, o que nos dá mais certeza de que criar um banco que não diferencia, que não discrimina e, mais do que isso, festeja todas as características dessas pessoas, é o caminho certo a ser seguido”, afirma Marcio.

As metas do Pride Bank vão além dos números relacionados ao faturamento e da quantidade de clientes: o banco tem, como missão, impactar positivamente a vida da população LGBTI+ por meio de causas sociais, retribuindo à comunidade a confiança que recebe. Para isso, reserva 5% de sua receita bruta para o Instituto Pride, criado em parceria com a empresa de tecnologia social Welight para investir em organizações não governamentais (ONGs) ligadas à população LGBTI+.

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Inicialmente, três instituições receberão doações: a Casa Arouchianos, que promove cultura, arte e política para a população LGBTI+ na região central de São Paulo; a Casa Brenda Lee, que abriga pessoas em situação de vulnerabilidade que vivem com HIV; e a Eternamente Sou, voltada para o acolhimento de pessoas LGBTI+ idosas.

Para o futuro, Marcio destaca que o desafio é ter estrutura e know-how para solucionar quantas dores da comunidade LGBTI+ forem possíveis.

“Nós queremos criar um ecossistema do Pride Bank, que vai trazendo cada vez mais serviços. A questão do financiamento é importante: como eu posso ajudar uma pessoa LGBTI+ a acessar um financiamento mais justo? Como eu posso ajudá-las a fazerem investimentos seguros, que dão retorno, e voltados para empresas LGBTfriendly?”, questiona.

O plano de Marcio é espalhar o arco-íris do Pride Bank para além das transações financeiras.  “No futuro, a gente vai desenvolver nossas ações de Marketing, que serão focadas em cultura, cinema, entretenimento, shows, tudo com foco na comunidade. E eu tenho sonhos mais malucos. Eu quero criar e oferecer, à população LGBTI+, planos de saúde, viagens, outras coisas que sejam segmentadas e específicas para as necessidades dela”, diz.

Diversidade em alta

O surgimento do Pride Bank ilustra a visibilidade das questões relacionadas à diversidade no ambiente da inovação e do empreendedorismo. Para João Torres, sócio da Mais Diversidade, maior consultoria de diversidade e inclusão da América Latina, o mercado como um todo está mais atento à importância de garantir um ambiente inclusivo e saudável à população LGBTI+.

Ele destaca que as primeiras iniciativas dessa natureza surgiram dentro dos grandes conglomerados e das multinacionais na década de 1970, mas que o ecossistema de inovação, naturalmente mais dinâmico, consegue implementá-las com mais facilidade.

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“O que se deu foi que os processos das empresas mais tradicionais impedem que grandes mudanças aconteçam num curto período de tempo e os KPIs levam décadas para mudar de maneira expressiva. As startups por outro lado, por terem um ambiente mais ousado, permitem experimentar políticas e práticas mais inovadoras e algumas delas têm obtido um sucesso consideravelmente superior em alguns aspectos que suas tradicionais concorrentes”, analisa.

“Criar um ambiente de trabalho saudável, respeitoso, de segurança psicológica e valorização das diferenças não é mais um diferencial, é uma questão de sobrevivência das empresas”, complementa Torres.

João sugere que quantidade e qualidade devem andar juntas nas ações voltadas à diversidade no mercado. Analisa, também, que os empreendimentos mais inovadores e flexíveis estão saindo na frente na disputa por profissionais de alto desempenho que as empresas vivem atualmente. “Quem não se adaptar vai cada dia mais sofrer nessa atual ‘guerra de talentos’ e as startups têm demonstrado um apetite muito maior por mudanças rápidas que as empresas tradicionais”, diz.