Covas abertas no cemitério de Vila Formosa, o maior de São Paulo
Covas abertas no cemitério de Vila Formosa, o maior de São Paulo. Foto: BW Press/Shutterstock
Sociedade

300 mil mortes

Marca mórbida foi atingida no Brasil nesta quarta-feira. No dia anterior, 3 mil morreram de COVID-19 num único dia, É como se perdêssemos alguém a cada 30 segundos

Pouco mais de um ano após a chegada da pandemia de COVID-19 na América Latina, o Brasil atinge a triste marca de 300.015 mortes. UTIs abarrotadas, falta de leitos, remédios e oxigênio são a realidade dos brasileiros nas últimas semanas. Tudo isso em meio ao negacionismo de parte das lideranças e da própria população, que vê a vacinação contra o novo coronavírus caminhar a passos lentos.

Todos os dias, o governo federal “ajusta” o número de doses que deve chegar ou ser produzido no país. Mesmo a produção local de dois imunizantes – Oxford/AstraZeneca, pela FioCruz, e CoronaVac, pelo Instituto Butantan – não é suficiente para acelerar o passo.

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Governadores e prefeitos, sob pressão do setor produtivo de um lado e das estruturas e profissionais de saúde exaustos de outro, tentam impor restrições de circulação para conter o caos. Mas nada perto de um verdadeiro lockdown é realmente implementado. Em discurso à nação na última terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro parecia viver uma realidade paralela. E mesmo dizendo que sente muito, não sensibilizou ninguém.

Como lembrou o jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira, a marca dos 300 mil mortos chega apenas 75 dias depois dos 200 mil. Todos os dias, emissoras de tevê, rádio, jornais, sites, mostram as histórias das pessoas e família por trás desses números. Está difícil e doloroso acompanhar o ritmo mórbido da COVID-19 no Brasil. O nó na garganta é constante. 

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Embora responda por 2,7% da população mundial, o Brasil registrou 11% das mortes pela doença no mundo até agora, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. Ao olhar outra fonte de dados, o Our World in Data, da Universidade de Oxford, vemos claramente o ritmo lento da vacinação contra o Sars-Cov-2 no país.

Embora o Brasil apareço em quinto lugar no número de vacinas aplicadas a cada 100 habitantes, o abismo em comparação ao quarto colocado, os Estados Unidos, é gigante. Enquanto a proporção no Brasil está em 7.19; nos EUA está em 38.34. Na América Latina, o país que mais tem avançado na imunização é o Chile, com 46.92 vacinas por 100 habitantes. Até o momento, apenas 1.7% dos 212 milhões de brasileiros estão vacinados. 

A falta de insumos, vacinas e toda sorte de equipamentos e remédios para dar conta da demanda causada pela pandemia é generalizada. Mas é difícil aceitar que um país símbolo quando o assunto é vacinação em massa esteja nesse ritmo.

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Ainda na terça-feira, o país ultrapassou, pela primeira vez, as 3 mil mortes diárias pela doença. Registro tão mórbido quando esse só o dos EUA, que registrou mais de 4 mil falecimentos em um dia em janeiro deste ano.

Em janeiro, um relatório da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL/ONU) ressaltou como era imperativo uma colaboração maior entre os países da região para vencer os desafios impostos pela pandemia, não só os econômicos mas aqueles ligados diretamente ao combate à COVID-19.

O Brasil poderia ter liderado parcerias nesse sentido, mas não o fez. Argentina e México estão se articulando de forma muito melhor. Em agosto, anunciaram uma parceria para produzir, em conjunto, 200 milhões doses da vacina Oxford/AstraZeneca para toda a América Latina, exceto o Brasil. A parceria começou efetivamente em janeiro deste ano. Enquanto a Argentina produz a substância ativa da vacina, no laboratório mAbxience, o México conclui o processo e embala o medicamento para transporte.

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