A Seleção Brasileira não trouxe só o título da Copa América para o Brasil. Junto desta importante conquista, o mercado do país viu uma crescente nas atividades turísticas e grandes movimentações nas áreas que circundam o setor. Antes mesmo do torneio começar, a empresa Decolar revelou um estudo que mostrava um provável aumento de 36% no número de turistas estrangeiros no país.
O dado acaba sendo confirmado por taxas de crescimento recorrente em cidades como Porto Alegre, que teve 100% dos hotéis ocupados e movimentou mais de R$ 180 milhões durante o período do campeonato, de acordo com o Sindicato de Hotéis de Porto Alegre.
Segundo o Ministério do Turismo, o público sul-americano, principal interessado nos jogos da Copa América, reportou um aumento significativo nas procuras pelos destinos turísticos no Brasil. Em pesquisa divulgada em maio, a instituição mostrou que todos os países participantes registraram aumento de reservas para destinos brasileiros neste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com o Ministério, “os campeões são os bolivianos, que compraram 497% mais passagens. Em seguida vêm os peruanos, com 285%; os chilenos, com 141%; os colombianos, com 126%; uruguaios, com 115%; e equatorianos, com 108%. Na Argentina, principal emissora de turistas internacionais para o Brasil – foram 2,2 milhões em 2017 – o aumento da procura foi de 64%“, relatou o site oficial, que confirmou ainda as três cidades mais procuradas: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
A paixão do latino pelo turismo de futebol
A postura dos latinos em relação à Copa América não é, necessariamente, uma novidade. Segundo um levantamento da MasterCard, feita pela empresa Toluna, a paixão do latino-americano pelo futebol é tanta que é capaz de fazer com que os apaixonados abram mão de qualquer compromisso para assistir uma partida.
Participaram da pesquisa cerca de três mil pessoas da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, que revelaram tipicidades de quem dá importância irrestrita ao futebol. Orgulhosos, supersticiosos, parceiros, festeiros, fanáticos ou especialmente comprometidos com o time do coração, não importa a característica do torcedor, é bem verdade que toda essa paixão tem conduzido a comportamentos específicos. Esqueça a simples adoção de rituais para dar sorte no dia do jogo. Estamos falando de movimentos muito maiores, como colocar o futebol no centro de viagens a turismo.

“O futebol para mim serve de motivo e desculpa para fazer roteiros turísticos”, diz o engenheiro de produção Vitor Porto Brixi, de 30 anos. Pelo futebol, ele já foi parar do outro lado do mundo, na Rússia, para acompanhar a Copa do Mundo de 2018. “O futebol fez com que eu conhecesse muitas outras cidades, para além do roteiro padrão de quem visita a Rússia, que é Moscou e São Petersburgo. Várias surpresas”, comenta. Por aqui, Brixi já rodou o Brasil inteiro perseguindo o esporte durante a Copa de 2014, em 14 jogos nas mais variadas capitais.

A final da UEFA Champions League desse ano, que aconteceu em Madri, na Espanha, só não recebeu a visita do engenheiro pela dificuldade que ele teve em conseguir o ingresso, uma vez que o roteiro turístico já estava todo pronto. “Cancelamos a viagem por conta disso”, lamenta. A experiência ao longo do tempo fez com que ele desenvolvesse preferências. Em Copas do Mundo, por exemplo, só participa de jogos eliminatórios, na segunda fase da competição. Assim, já garantiu ingressos para as duas últimas finais do mundial – os mais disputados.
“As últimas viagens a lazer que fiz, exceto uma para o Havaí, foram motivadas pelo futebol. Só não assisti no estádio o jogo da final da Copa América 2015, em Santiago, porque o Brasil não avançou, mas comemorei na rua com os chilenos a vitória sobre a Argentina”, lembra Brixi. Uma das vantagens de se planejar viagens em torno de um objetivo específico, segundo ele, reside no preparo sentido pelos turistas em relação à recepção no país de destino.
“Nas cidades maiores da Rússia, por exemplo, como eram muitas pessoas em torno de um mesmo motivo, a comunicação ficou muito mais fácil, pois aconteceu em inglês. Nas cidades menores já era uma dificuldade real, pois a maioria se comunicava em russo. Porém, de modo geral, eventos desse porte preparam o cenário para o turismo, facilitando praticamente tudo para o visitante”, avalia o engenheiro, que acabou de voltar do Rio de Janeiro, para onde foi assistir a final da Copa América 2019, que consagrou o Brasil campeão e movimentou o turismo nacional.

Vitor Brixi com a família no Mineirão assistindo ao jogo de semifinal da Copa América 2019 contra Argentina
O segmento turístico do qual Brixi é adepto tem nome e sobrenome: turismo de futebol. A cada ano, ele movimenta milhares de torcedores pelo mundo – com destaque entre os latino-americanos que viajam para os países vizinhos –, fazendo com que agências de viagens atuem com pacotes de atividades e passeios criados especialmente para essa seara: o culto à bola dos loucos por futebol na América Latina compreende diferentes estádios (para muitos, verdadeiros templos) em roteiros de primeiro nível.
Para quem é torcedor e tem prazer em ver a bola rolando em campo, todo o esforço empregado em atravessar o país, o continente ou o planeta é válido para assistir uma partida ao vivo. Para se ter uma ideia dos números que esse segmento gera, em 2014, durante a Copa do Mundo no Brasil, cerca de 3,7 milhões de estrangeiros estiveram por aqui, injetando R$ 6,7 bilhões na economia do país, segundo dados do Ministério do Turismo.
O que os mais experientes já sabem, é que o melhor tour do futebol vai depender do quanto tempo se tem disponível. Poucos dias geralmente significam acompanhar os jogos do time do coração no país natal. Uma semana no destino quase sempre é para acompanhar as partidas do clube em um outro país, a exemplo da Copa Libertadores da América. Um mês inteiro livre para o futebol (geralmente durante as férias do trabalho), é o tempo que requer um tour de qualidade durante eventos como a Copa do Mundo.
Por aqui, quem deseja conhecer a América do Sul sob o pretexto do futebol, tem na Libertadores uma ótima oportunidade, uma vez que esse campeonato reúne os times de vários países do sul do continente (muitos dos quais não exigem do brasileiro passaporte para entrar) em um torneio anual. Os amistosos da seleção brasileira, embora não valham pontos ou títulos, também representam uma ótima oportunidade para se conhecer outros países. A América Latina, por si só, é um prato cheio para os apaixonados por futebol. Uruguai, Argentina, Colômbia, México, Paraguai, Chile e Peru – tirando o Brasil, obviamente – são países com alguns do estádios mais visados da região. E todos, sem exceção, com indiscutível potencial turístico.
Mais do que isso, é dessa região que sai um público altamente disposto a abrir a carteira e aproveitar, de forma simultânea, futebol e viagem. Voltando à pesquisa da Mastercard, 35% de todos os pesquisados afirmaram que deixariam de trabalhar ou estudar para ver um jogo. Os peruanos, segundo o levantamento, parecem ser os mais comprometidos com o esporte, uma vez que 39% responderam que faltariam ao trabalho ou abririam mão de um evento familiar para assistir a uma partida, e 20% perderiam um casamento em função do futebol.
Esse panorama só comprova o que análises anteriores já demonstravam: a América Latina está entre os maiores emissores mundiais de turistas e também entre os mercados que mais gastam em viagens. E a figura do futebol, nesse contexto, tem influência desmedida, pois traduz aspectos sociais e culturais de um povo que não mede esforços em nome de uma paixão.