A todo momento surgem novas informações sobre negociações ou contratos já fechados para a aquisição de vacinas contra o Sars-Cov-2, nome dado ao novo coronavírus. A América Latina, região que se tornou o epicentro da pandemia em maio do ano passado, hoje responde por quase um terço das mortes causadas pela doença no mundo, apesar de responder por apenas 8,2% da população mundial.
Atingidos mais duramente que outros, alguns países da região começaram a corrida por vacinas ainda no ano passado. É o caso do México (1.649.502 casos) e da Argentina (1.807.428 casos).
Já o Brasil, maior economia da América Latina, terceiro país com maior número de casos de COVID-19 (8.511.700) e o segundo com maior número de mortes provocadas pela doença (210.299), de acordo com o mapeamento realizado pela Universidade Johns Hopkins, referência em pesquisa e monitoramento da pandemia, ficou para trás na corrida pela vacina e, a despeito de possuir também a maior tradição em programas de vacinação em massa, foi o último, entre os países que já começaram, a iniciar a imunização.
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O site “Our World in Data”, da Universidade de Oxford, traz um mapeamento em tempo real da vacinação contra a COVID-19 pelo mundo e mostra que apenas cinco países da América Latina já deram início às suas campanhas de vacinação: Chile, Costa Rica e México saíram na frente em 24 de dezembro; Argentina começou em 29 de dezembro e o Brasil, em 17 de janeiro.
Abaixo, o gráfico mostra quantas doses já foram aplicadas em cada país desde então:

O LABS reuniu as principais informações sobre a corrida da vacina nas maiores economias da América Latina. Confira:
Brasil
Após a aprovação para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último domingo (17), o país deu início à vacinação com doses da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório Chinês Sinovac. O estoque inicial de 6 milhões de doses foi distribuído aos estados brasileiros ontem (18), e o Butantan tem ainda um estoque de 4,8 milhões de doses.
A continuidade da campanha de vacinação, no entanto, depende da importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), insumo necessário para a produção tanto da CoronaVac quanto da AstraZeneca, que também é fabricada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Com dois acordos fechados (Oxford/AstraZeneca e CoronaVac) que preveem não só a compra, mas a produção de vacinas em território nacional, o país pode recuperar o tempo perdido em relação aos seus vizinhos. Espera-se, inclusive, que seja base fornecedora desses dois imunizantes a outros países da América Latina.
HISTÓRICO – O maior acordo, anunciado em junho do ano passado, é aquele entre o governo federal e o laboratório AstraZeneca para testes, aquisição e produção de 100 milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford no país por meio de uma parceira com a Fiocruz.
A Fiocruz havia solicitado a importação de 2 milhões de doses dos laboratórios da AstraZeneca na Índia para iniciar a vacinação aqui antes de usar suas próprias doses, no entanto, embora anunciada pelo Governo Federal para o último sábado (16), a chegada das doses não se concretizou porque a Índia não confirmou o fornecimento ao Brasil.
Na tarde dessa terça-feira (19), o governo indiano informou que dará início à exportação de doses para seis países – o Brasil não consta na lista. Segundo o ministério das Relações Exteriores da Índia, receberão as doses o Butão, Maldivas, Bangladesh, Nepal, Mianmar e Seychelles.
Em setembro, o estado de São Paulo firmou um acordo com a farmacêutica chinesa Sinovac para testes, aquisição e produção de doses da vacina CoronaVac por meio de uma parceira com o Instituto Butantan.
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Entre negociações “praticamente fechadas” e outras confirmadas, o Brasil tem, portanto:
- 2 milhões de doses de vacinas AstraZeneca importadas pela Fiocruz da Índia que ainda não chegaram em solo brasileiro;
- 100,4 milhões de doses da Fiocruz/AstraZeneca até julho (produção nacional gradativa);
- 110 milhões da Fiocruz/AstraZeneca (produção nacional total) de agosto a dezembro;
- 42,5 milhões (provavelmente da AstraZeneca) a serem adquiridos por meio do mecanismo internacional Covax/Facility, criado pela OMS para ajudar os países em desenvolvimento a comprar vacinas contra COVID-19;
- 100 milhões de doses do Instituto Butantan (anunciadas hoje, mas ainda pendentes de contrato final).
Argentina
No último sábado (16), a Argentina recebeu o segundo lote da Sputnik V, com 300 mil doses da vacina; até o momento, foram aplicadas 200.759 doses da vacina russa em profissionais da saúde e atuantes em serviços considerados essenciais. O país registra atualmente 1.807.428 casos de COVID-19 e 45.832 mortes.
O governo argentino destinou cerca de US$ 170 milhões para a compra dessas doses e é, até agora, uma das nações da região que mais garantiu doses, embora tenha sido criticada por alguns especialistas por aprovar “rápido demais” o uso da Sputnik V, que ainda não tem dados de testes de fase 3 divulgados e revisados na América Latina.
A Argentina acordou ainda a compra de 22 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca e 25 milhões de doses da vacina russa Sputnik V. Também iniciou negociações para a compra de outras 15 milhões de doses da vacina do laboratório estatal chinês Sinopharm, em testes no país.
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México
O México foi o primeiro país latino-americano a iniciar a vacinação com doses da Pfizer/BioNTech destinadas a profissionais da Saúde e, até o momento, já aplicou 492.529 doses. No entanto, o país ainda negocia a maior parte das doses necessárias para imunizar a maior parte de sua população.
Nessa semana, o governo informou que iria compensar a redução nas entregas da Pfizer/BioNTech com outros fornecedores. Isso porque o México esperava entregas semanais de cerca de 400 mil doses da vacina, mas como resultado dos acordos da Pfizer com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o México passaria a receber apenas a metade do esperado, de acordo com o informado pelo governo.
O México tem hoje 1.649.502 casos de COVID-19 e 141.248 mortes, o que coloca o país como o quarto com maior número de mortes pela doença.
Ainda em dezembro, o México anunciou acordos para adquirir 77,4 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca, 35 milhões de doses da chinesa CanSino e outras 34,4 milhões de doses da Pfizer. Também participa da aliança da OMS para países em desenvolvimento Covax, por meio da qual espera obter 34,4 milhões de doses e disse que espera aprovar a vacina Sputnik V para uso em breve, mas em menor quantidade de doses.
Colômbia
A Colômbia é hoje o segundo país da América Latina com maior número de casos de COVID-19, somando 1.923.132 casos e o terceiro com mais mortes, chegando a 49.004. Em dezembro, anunciou um acordo para a compra de 9 milhões de doses da vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson. Segundo o Presidente Iván Duque, ao contrário das outras vacinas, esta necessita apenas de uma dose por pessoa. A doses, no entanto, ainda não chegaram ao país. A expectativa é de que a vacinação comece em fevereiro.
Ainda em dezembro, o governo colombiano tinha anunciado a aquisição de 1,7 milhão de doses da vacina da Pfizer, um acordo de 10 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. Além disso, a Colômbia espera receber 20 milhões de doses por meio do Covax. Com o último acordo da Janssen, Duque disse que a Colômbia conseguirá vacinar 29 milhões de pessoas. O objetivo do país é garantir doses para pelo menos 35 milhões de colombianos (70% da população).
Chile
O Chile anunciou no final do ano passado uma encomenda de 20 milhões de doses da vacina Pfizer/BioNTech, cujo terceiro lote chegou ao país na última semana. A aplicação começou lentamente – até o momento, 32.385 doses foram aplicadas desde 24 de dezembro, quando a vacinação começou. O Chile já registrou 673.750 casos de COVID-19 e 17.547 mortes.
O presidente Sebastián Piñera também informou recentemente que o país vem tentando garantir a aquisição de doses das vacinas Oxford/AstraZeneca e Janssen (J&J), além daquelas que virão via Covax, a aliança da OMS para países em desenvolvimento. Há também negociações em estágio avançado para a compra de 10 milhões de doses da CoronaVac, da chinesa Sinovac.
No total, Piñera espera garantir pelo menos 30 milhões de doses para os chilenos – o suficiente para vacinar 80% dos 18.7 milhões de habitantes do país, já que a maioria das vacinas exige que cada pessoa tome duas doses.
Atualizada em 19 de janeiro de 2021.