Quem acessa o novo site do Impact Bank, a fintech que coloca o lucro em segundo plano, se depara com belas fotos e textos didáticos explicando os produtos oferecidos. “Queremos mostrar [com o site] que somos de verdade”, diz Gabriel Ribenboim, co-fundador e CEO do Impact Bank, em entrevista ao LABS.
Criado em 2021, no auge da pandemia, por Gabriel e Ian Lazoski, o Impact Bank deriva e trabalha em conjunto com a Welight, empresa de tecnologia certificada pelo Sistema B que facilita a captação de capital por ONGs e iniciativas de impacto social. A Welight foi fundada por Ian em 2015 e Gabriel também é CEO da empresa.
“A Welight provê tecnologia e customização para essas campanhas e recebe recursos de mais de 70 países. Temos casos de pessoas querendo doar recursos maiores, então precisávamos procurar rotas de transação internacionais, remessas — um universo bastante complicado para o terceiro setor”, relata Gabriel.
Sua experiência o ajudou a detectar a oportunidade e a tirar o Impact Bank do papel. Biólogo de formação (pela UFSC), antes de chegar à Welight ele trabalhou em diversas iniciativas de captação de recursos para conservação ambiental ao redor do mundo, como a Fundação Amazonia Sustentável.
“Desenvolvi muito esse lado de intermediação dos potenciais e dos desejos dessas populações tradicionais e como fazer recursos fluírem para o lugar certo, para fazer esse objetivo maior de conter o desmatamento e reduzir a pobreza.”
A carteira digital e o arranjo para receber recursos de fora do país foram o embrião do Impact Bank. “Entendemos ali que tínhamos uma oportunidade de levar produtos e serviços financeiros para quem está desassistido ou não tem acesso mesmo; [de criar] uma fintech para facilitar todo esse trâmite e trazer valor agregado para quem está envolvido em iniciativas de impacto.”
Com produtos financeiros típicos, como carteira digital e maquininha de cartão, e outros menos óbvios, como os fundos de crédito (FIDC) voltados a associações e cooperativas de cunho social e arquitetados para mitigar riscos, o objetivo primordial do Impact Bank é facilitar o fluxo de capital entre quem deseja investir em iniciativas de impacto e elas próprias. É o que o executivo chama de “setor dois e meio”, composto por empresas e negócios com propósito social e/ou ambiental.
Nesse contexto, o lucro é secundário.
Lucro não é só quando dá saldo positivo na planilha. Só é lucro quando todo mundo ganha
Gabriel Ribenboim, co-fundador e CEO do Impact Bank.
Um bom exemplo do ethos aplicado à prática é o fundo de transformação, que coleta um pequeno percentual de transações diversas mediadas pelo Impact Bank, sem que o cliente — a ONG ou o negócio de impacto social — sequer se dê conta de que está contribuindo para uma causa maior.
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Esse percentual sai da comissão do Impact Bank. “A gente enxerga isso como um custo fixo, algo intrínseco ao nosso modelo de negócio”, diz Gabriel
Até fevereiro de 2022, o fundo de transformação já havia captado R$ 3,8 milhões.
A fintech ainda não fecha no azul, “como toda boa startup em fase inicial”, brinca. A principal métrica contábil do momento (“cash burning” de dinheiro de investidores) mostra evolução. “Estamos diminuindo cada vez mais o quanto a gente usa desses aportes para manter a operação”, diz, referindo-se ao US$ 1,3 milhão levantado em duas rodadas semente.
Agora, o Impact Bank se sustenta em um bridge fund enquanto se prepara para buscar um aporte Série A. Com esse dinheiro, pretende investir em “grandes blocos de crescimento” que o CEO ainda não pode detalhar.
Parcerias e mitigação de risco, isso também é Impact Bank
Uma das boas sacadas do Impact Bank é trabalhar com HUBs, organizações (ONGs e negócios de impacto social) que já desenvolvem trabalhos alinhados à missão da fintech, como associações e cooperativas.
“Só que ali você tem um problema: o acesso a crédito”, diz Gabriel. “[O HUB] consegue desenvolver a cadeia inteira, mas na hora de conseguir capital para esse empreendedor, cooperativa ou associação dar uma alavancada, ainda não existe um sistema financeiro inclusivo, que reconheça e tope assumir esse risco.”
É aí que o Impact Bank entra. Com suas soluções, como a remessa internacional e os fundos de crédito, a fintech cria o que o CEO chama de “mecanismo de derisking”, ou seja, arranjos com salvaguardas para atrair e fazer fluir os investimentos e, ao mesmo tempo, fazer com que eles cheguem e sejam usufruídos na outra ponta.
O executivo usa o FIDC como exemplo: “Existe lá o fundo de crédito, FDIC, de direitos creditórios. Ele tem as cotas — sênior, mezanino, subordinado — e cada uma tem um nível de exposição de risco diferente, então a [cota] subordinado assume o primeiro risco, e aí se a inadimplência for crescendo ela vai subindo essa escala.”
No FIDC filantrópico do Impact Bank, a própria fintech se insere como uma camada anterior às tradicionais para absorver e mitigar o risco sistêmico da operação para investidores. É o que eles chamam de fundo catalítico.
“É quase como uma [cota] subordinada que toma o primeiro risco fora do fundo. O papel dela é mitigar esse risco para alavancar um capital privado que tope colocar recursos dentro do FIDC, com mais segurança, para que a gente consiga ter ‘funding’ para emprestar.”
Nesse sentido, o Impact Bank se insere em duas etapas: destravar o capital e fazê-lo fluir. “O nosso propósito é justamente esse: fortalecer esses atores para a gente conseguir colaborar para uma transição de uma economia mais resiliente e regenerativa”, explica Gabriel.
O primeiro FIDC da fintech, prestes a ser lançado, é o Food and Forest, voltado à alimentação e conservação ambiental em cadeias produtivas sustentáveis.
“É uma estratégia [a dos HUBs] para conseguir começar rápido, com um portfólio qualificado e dentro de uma arquitetura que entrega crédito barato e estimula a geração de impacto, além de conseguir atrair capitais de diferentes fontes.”
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Impacto até na comunicação institucional
As fotos que ilustram o novo site do Impact Bank foram feitas pelo Instituto JCRÉ Facilitador, criado por Júlio Cesar Lima na comunidade do Jacarezinho (RJ) para oferecer cursos de beleza, moda e esporte a jovens e adultos da região.

Gabriel se desmancha em elogios ao trabalho do instituto: “Uma organização incrível, que funciona com poucos recursos e muito impacto.” Da produção às modelos nas fotos que embelezam o site, tudo foi feito por moradores do Jacarezinho.
A escolha do JCRÉ Facilitador para o trabalho está alinhada à missão do Impact Bank, de viabilizar recursos para que boas iniciativas ampliem seu impacto na sociedade.
O Impact Bank alcançou 10 mil clientes em seu primeiro ano de operação. “É um número que vai crescendo muito rápido com essa estratégia de HUBs”, conta Gabriel. “Tem HUB que traz 500 clientes em um dia.” A meta da fintech é multiplicar por dez a atual base de clientes nos próximos dois anos.
É no “gap”, ou nas lacunas dos arranjos mais tradicionais, que Gabriel enxerga o espaço para crescer. Ele acredita que as pessoas estão cansadas dos bancões e dispostas a participarem de “um sistema mais inclusivo, justo e regenerativo”, nas suas palavras.
Além disso, há lugares e negócios que não interessam aos bancos dentro da lógica de lucro deles. “Quando se fala de impacto, não necessariamente vai dar dinheiro do jeito que os bancos querem. A gente consegue ser criativo o suficiente para fazer [a operação] ser financeiramente sustentável.”