Meu filho – o primeiro – nasceu no último dia 25 de novembro. Enquanto escrevo este texto, na mesa da sala, ele está ali grudado no peito da mãe, esparramada na poltrona. Daqui a pouco, entrarei em ação para colocá-lo para arrotar e trocar mais uma fralda. Pensar sobre a vida desse garotinho lindo, devorador de leite, me leva a reflexões sobre economia, modelos de negócios e comportamentos de consumo.
Pedro Henrique crescerá em um país – não pretendemos deixar o Brasil – com novo regime previdenciário. Caso não tenha direito a aposentadoria especial, terá de trabalhar, pelo menos, até os 65 anos. Na escola – que, creio eu, terá um modelo bem diferente das que seus pais frequentaram –, ele certamente ouvirá falar sobre educação financeira. Muito provavelmente, saberá lidar com dinheiro melhor do que as gerações passadas.
Um dia, descobrirá que seus pais contrataram uma previdência privada para ele já em seu primeiro mês de vida e poderá, mais à frente, decidir o que fará com essa grana. Talvez, Pedro Henrique utilize a reserva para bancar a conclusão de seus estudos – sabe-se lá qual será o leque de cursos oferecidos pelas universidades e se, por exemplo, a maioria das aulas será presencial.
São muitas dúvidas e uma certeza: Pedro Henrique e sua geração desbravarão um mundo novo. Sobre o mercado de trabalho, não faço ideia de como será a forma de contratação, a carga horária e se o atual escopo de direitos trabalhistas resistirá. Aqui, tenho um desejo: que ele desenvolva habilidades sem imposições de amigos ou familiares e sem ouvir que é preciso se esforçar para “trabalhar pouco e ganhar muito”.
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Meu filho manuseará dinheiro em espécie? Acho que não. É quase certo de que não terá cofrinho em formato de porco ou algo que o valha: mais por falta de moeda em casa do que por recomendação do Banco Central. O celular, muito mais do que para mim, será o meio das transações financeiras dele – é possível que Pedro Henrique nem sequer acumule cartões em sua carteira, se é que este acessório será necessário.
Serão muitas mudanças até meu filho atingir a mesma idade que tenho hoje. Ele escutará músicas em seu celular, em fones ainda mais modernos e em sistemas de bluetooth espalhados por aí. A regra, imagino, serão as compras pela internet, feitas naturalmente, sem mistério e com bem menos temor de ter seus dados sequestrados por bandidos virtuais.
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Meu filho entenderá o que é uma startup com a mesma facilidade com que hoje mama. Ele, aliás, vai estudar, trabalhar, viver envolto delas. Pedro Henrique não saberá o que é uma locadora de filmes, um táxi, uma agência de viagem, um jornal impresso, um pen drive. É capaz de ele não compreender o porquê de um dia ter existido profissões como frentista e caixa de supermercado.
Pedro Henrique não estará vivendo no mundo de Os Jetsons, como eu imaginei quando era criança. Mas respirará tecnologia e verá transformações mais inovadoras do que carros voadores.
Em meio a tudo isso, me esforçarei para ensiná-lo que a vida real, com afeto, amor e respeito, continuará importando muito mais do que a virtual. Por ora, tenho que ir ali trocar uma fralda – ainda não inventaram startup para isso.