maquininha de cartão
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Tecnologia

Adoção PIX em larga escala pode levar adquirentes a perder até R$ 13 bilhões por ano

Estimativa é da consultoria alemã Roland Berger e leva em conta a receita de 2019 dos cinco principais operadores do mercado de adquirência do Brasil: Stone, GetNet, PagSeguro, Rede e Cielo

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Como já mostrado pelo LABS, o PIX, sistema de pagamentos instantâneos sob a liderança do Banco Central brasileiro previsto para estrear oficialmente em novembro deste ano, deve “roubar” uma boa parte dos pagamentos feitos hoje por boleto bancário e cartão de débito, além dos depósitos e transferências (TED e DOC). Se adotada largamente pelos brasileiros, essa nova forma de se fazer pagamentos e transferências também pode levar adquirentes a perder até 63% das suas receitas, ou R$ 13 bilhões se considerado o faturamento conjunto de R$ 21,4 bilhões dos cinco principais players do mercado nacional (Stone, GetNet, PagSeguro, Rede e Cielo) em 2019. É o que estima a consultoria alemã Roland Berger. 

“No cenário mais conservador prevemos que as receitas mais impactadas sejam as que derivam da venda/aluguel de maquininhas e comissões de pagamentos a débito (R$ 3,6 bilhões). No cenário intermediário prevemos também uma redução da receita com as comissões de pagamentos a crédito e a antecipação de recebíveis. No cenário mais agressivo, todas as receitas são muito impactadas”, explica o diretor sênior da Roland Berger para a indústria financeira, João Bragança, ao LABS.

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 “Na nossa visão isso acontecerá se os players que entrarem no setor de pagamentos começarem a providenciar crédito direto ao cliente, substituindo assim a necessidade do cartão de crédito e dos serviços de parcelamento em loja,” salienta Bragança. Para ele, a perda de receita é inevitável para todos os players que hoje estão dependentes da cadeia de valor dos pagamentos.

Na nossa visão, no entanto, adquirentes, bandeiras e processadoras serão os mais impactados. Para sobreviverem terão de transformar o seu modelo de negócios 

joão bragança, diretor sênior da Roland Berger para a indústria financeira.

Em outras palavras, a guerra das maquininhas pode ser atropelada pela chegada e adoção dos pagamentos instantâneos. Com base em dados próprios e do UBS, a Roland Berger lembra que o aumento da concorrência vem pressionando os dois maiores players, Cielo e Rede.

O market share dessas duas empresas caiu de 89% em 2014 para 57% no ano passado. A competição acirrada fez as taxas caírem cerca de 30%, com maior pressão sobre aquelas cobradas nas transações com cartão de débito. 

Com base em mercados que já experimentam o impacto dos pagamentos instantâneos, a consultoria traz algumas sugestões sobre como as empresas do setor devem se preparar para a chegada do PIX. Com o novo sistema, a consultoria acredita que o ativo mais valioso e estratégico para qualquer empresa do setor será ter contas correntes integradas ao PIX.

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“A conta corrente de everyday banking torna-se, ela mesmo, um meio de pagamento e recebimento para a economia. Assim, se os adquirentes quiserem sobreviver terão de desenvolver essas ofertas, com elevada atratividade de forma a poderem competir com bancos digitais, carteiras digitais ou outros players que ofereçam reservas de valor (e.g. varejistas; big techs)”, explica Bragança. PagSeguro, Stone e Cielo, por exemplo, já lançaram suas contas digitais. 

Ao redor dessa conta, os adquirentes terão de oferecer uma série de produtos e serviços, principalmente por meio de parcerias com outras instituições. Segundo o especialista, também será necessário desenvolver ofertas de inteligência de vendas para pequenos estabelecimentos, visto que esse público, além da pessoa física, é de maior potencial para o sistema. As carteiras digitais que já usam QR Code como método de pagamento e transferência saem na frente nesse quesito. Por outro lado, precisarão pensar em novas formas de monetizar suas operações, já que o grande apelo dessas contas é justamente o custo zero para as transações mais básicas.

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Como já mencionado, o sucesso do PIX dependerá da adoção do sistema pelos usuários, o que torna necessário um investimento massivo em campanhas por parte das empresas do setor. Neste aspecto, Bragança acredita que a limitação de acesso à Internet ou mesmo a smartphones no país não seja um obstáculo.

“Os dados mais recentes mostram que o gap está fechando rapidamente. Inclusive o smartphone tornou-se o principal dispositivo de acesso à Internet nos últimos anos. Se hoje temos quase 40 milhões de brasileiros desbancarizados, o número de pessoas sem acesso a um celular é menor. Para além disso, o PIX prevê a realização de transações com uma grande pluralidade de chaves de identificação (QR Code, estático e dinâmico, CPF, e-mail, número de celular). O cidadão não precisaria de ter acesso permanente à Internet,” diz o especialista.

No mercado indiano, talvez o exemplo mais próximo do Brasil entre os analisados pela Roland Berger, fintechs e big techs investiram pesado em carteiras digitais, os custos, em geral, caíram, e o volume de pagamentos cresceu. No Brasil, o PIX já possui 980 instituições financeiras em fase de testes, incluindo 32 com mais de 500.000 clientes cada, e pretende cobrar apenas R$ 0,01 a cada dez transações, custo ainda não experimentado no mercado brasileiro.

O PIX permitirá transferências e pagamentos entre pessoas, empresas e o governo, a qualquer hora do dia, inclusive nos feriados, em até 10 segundos. As transações ocorrerão através da leitura de um QR Code ou informações como um email, número de telefone celular ou número de identificação.

Para habilitar esse tipo de transação, instituições financeiras e fintechs terão que oferecer pagamento instantâneo entre suas opções de aplicação. O Banco Central espera lançar oficialmente o serviço em novembro deste ano e, até o momento, esse cronograma não mudou.

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