R$ 400 bilhões. Esse é o saldo aproximado de crédito consignado público no Brasil, modalidade de crédito pessoal concedido a servidores públicos em um país que tem hoje mais de 11,5 milhões de servidores ativos no Executivo, Legislativo e Judiciário, o equivalente a 17% do emprego formal do país, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Trata-se de um mercado de alto potencial e baixo risco, mas pouco explorado por startups e fintechs. Essa foi a deixa para o surgimento da bxblue, que se apresenta como o primeiro marketplace de crédito consignado do Brasil que já gerou R$ 500 milhões em empréstimos.
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O empréstimo consignado público é uma modalidade de crédito pessoal de baixo risco porque o pagamento das parcelas é descontado automaticamente dos salários, aposentadorias ou pensões pagos pela União, estados ou municípios. Ou seja, o risco de inadimplência é quase zero. Por isso, as condições de crédito também são mais atrativas, com juros reduzidos e prazo para quitação estendido. Hoje, segundo Gustavo Gorenstein, co-fundador da bxblue, 92% dos empréstimos consignados são públicos.
O consignado é o empréstimo pessoal mais barato do Brasil. É o mais barato porque é o mais seguro de todos. Juros é igual a risco. Se o risco é baixo, o juro é baixo. Mas essa linha de crédito tem um processo muito longo. Nós vimos uma oportunidade.
Gustavo Gorenstein, co-fundador da bxblue
Criada por Gorenstein, Fabrício Buzeto e Roberto Braga a bxblue conecta clientes aos bancos e intermedia a contratação do empréstimo. Todos os requisitos para a obtenção de um empréstimo – por exemplo, idade do solicitante, de qual esfera do poder público ele é ou era servidor, limite de crédito disponível – são definidos pelos bancos, bem como as condições de parcelamento e taxas de juros. O que a bxblue faz é mostrar para o cliente quais são as opções disponíveis e qual é a melhor para cada cliente.
Por meio de sua plataforma de tecnologia proprietária, a bxblue oferece uma série de serviços que permite que o cliente compare as opções de crédito consignado disponíveis para o seu perfil e as taxas praticadas pelos bancos e finalize o contrato digitalmente, de forma mais acessível e rápida, sem precisar ir até a instituição (ou instituições). A startup se remunera com uma comissão sobre o valor de cada empréstimo viabilizado pela plataforma.
“Pensamos que se conseguíssemos deixar o processo de contratação de um consignado mais transparente, ajudaríamos o usuário. E se acrescentássemos muita tecnologia, ajudaríamos os bancos a operar melhor, com um custo operacional, de logística e governança mais baixo. A consequência é um processo mais barato para os bancos e um produto mais barato para o cliente. Ajudamos todas as pontas”, explica Gorenstein.
Depois de passar pelo Y Combinator, uma aceleradora de startups dos Estados Unidos, a bxblue desenvolveu uma API de consignado para o Banco do Brasil, o primeiro banco parceiro. No fim de 2019, a “plataforma self-service da bxblue”, como chama Gorenstein (“O cliente entra, compara e contrata”), foi finalmente lançada.
Hoje, a bxblue opera em todo o Brasil e atua com quatro bancos parceiros – Banco do Brasil, Financeira BRB, Daycoval e Cetelem). “Se um cliente estiver em uma localidade distante onde só tenha um banco que ofereça consignado, com a bxblue ela terá opções e poderá escolher o melhor produto para ela. Aplicar tecnologia para fazer um consignado online, acessível e descomplicado é o maior barato da bxblue”, diz Gorenstein.
Em pouco mais de quatro anos, a bxblue já intermediou R$ 500 milhões em empréstimos consignados através da sua plataforma, que atualmente opera em parceria com quatro bancos. A crise econômica provocada pela pandemia da COVID-19 alavancou as operações da fintech em oito vezes, o que chamou a atenção de investidores.
Em janeiro, a bxblue recebeu uma rodada de R$ 38 milhões na sua série A liderada pela Igah Ventures; também participaram da rodada a Iporanga Ventures, FJ Labs e FundersClub. Com essa rodada, a fintech já soma R$ 43,2 milhões captados em apenas quatro anos de operação. A bxblue não divulga sua valuation; uma estimativa feita pelo site Startups aponta para algo perto de R$ 160 milhões e uma receita de R$ 20 milhões.
Agora, a bxblue trabalha para lançar dois produtos novos em 2021, duas novas operações de consignado: o refinanciamento de margem consignável e a portabilidade de margem consignável. Além disso, quer ampliar o atendimento a servidores ativos, aposentados e pensionistas das esferas estadual e municipal – atualmente a bxblue atende apenas servidores ativos da esfera federal e aposentados pelo INSS – e ultrapassar a marca de BRL 1 bilhão em empréstimos gerados. Por enquanto, não há planos de atuar no mercado de consignado privado.