A startup brasileira de logística CargoX zerou seus investimentos em marketing previstos para 2020 para criar um fundo de R$ 30 milhões destinado a ajudar pequenos transportadores e frotistas do país em meio à pandemia do coronavirus. Com o dinheiro, a startup pagará 70% do frete de produtos essenciais como alimentos e medicamentos já no momento do carregamento, como forma de incentivar a categoria e colaborar para a manutenção do transporte desses itens. Os outros 30% serão pagos na conclusão da entrega.
“Estamos usando esse dinheiro para não só ajudar as empresas com capital de giro, mas diminuindo o risco de calote dos embarcadores (nome que a CargoX dá para as empresas donas das cargas) para as empresas de transporte. E a gente faz isso cobrando o mínimo para cobrir os nossos custos. Nós também assumimos o risco de calote porque temos uma tecnologia do machine learning que nos permite analisar o fluxo de caixa das empresas e entender a probabilidade ou não (de elas darem calote)”, explicou o CEO da CargoX, Federico Vega, ao LABS.

Usando o seu marketplace, a CargoX também tenta otimizar o trabalho desses pequenos transportadores na estrada, reduzindo o tempo de ociosidade dos caminhões sem carga, e aumentando demandas e a previsibilidade de fretes.
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Linha de frente
Além dos profissionais de saúde, caminhoneiros e pequenas transportadoras também estão na linha de frente do combate ao coronavirus. São eles que transportam alimentos, produtos de higiene, equipamentos e insumos hospitalares, enfim, tudo o que é necessário para que uma outra parte da população, aquela que pode, fique em casa. Assim como a maioria dos brasileiros, esses profissionais têm medo da Covid-19, não só da doença em si, mas de todos os impactos trazidos por ela.
O distanciamento social é uma medida eficaz para conter a disseminação do vírus, mas também causa o fechamento de toda uma rede de serviços fundamentais para que os caminhoneiros continuem rodando: restaurantes, hotéis, postos de gasolina, borracharias e oficinas.
Acesso a serviços essenciais nas estradas
Para ajudar os caminhoneiros na estrada, o governo federal brasileiro está ajustando, com estados e municípios, o funcionamento de serviços rodoviários essenciais. Segundo o Ministério da Infraestrutura, a manutenção de serviços essenciais está sendo coordenada por um novo Conselho Nacional de Secretários de Transporte, que deve eliminar problemas específicos criados pelas restrições locais ao comércio, harmonizando as regras.
A quantidade de transportadores operando na nossa plataforma caiu 7%, mas a quantidade daqueles que não querem passar de um estado para outro aumentou 50%.
Federico vega, ceo da cargox
“Os caminhoneiros têm medo de cruzar um estado e não conseguir voltar, porque cada governador vem tomando medidas (de restrição de circulação e de isolamento) sem coordenação. Eles também não querem fazer viagens muito longas, de mais de um dia, porque não conseguem estocar comida no caminhão, e está muito perigoso rodar sem ter os serviços básicos de que o caminhoneiro precisa”, relata Vega.
Atualmente, a CargoX tem 20 mil transportadores ativos em sua plataforma – no Brasil todo há cerca de 110 mil. Esses transportadores contratam motoristas para a frota própria ou contratam caminhoneiros que já possuem caminhão. No total, os 20 mil transportadores têm hoje 400 mil caminhões rodando.
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Os ditos produtos essenciais são justamente aqueles cujo transporte aumentou nas últimas semanas. Segundo Vega, o transporte de alimentos cresceu 23% em março, frente a fevereiro, e o transporte de produtos de higiene 13%. “A razão pela qual o transporte dos dois aumentou é porque as pessoas estão estocando esses produtos em casa. Há certo pânico, incerteza das pessoas, de quando vai acabar a crise, então as pessoas estão indo no supermercado e numa compra estão comprando o que comprariam em um mês.
Sem escassez, apenas obstáculos
Alimentos e produtos de higiene no país não faltam e não vão faltar, segundo ele. O problema é como conseguir fazer o transporte desses produtos de maneira que eles não faltem na prateleira dos supermercados”, explica o CEO da CargoX. “Nós não temos um impacto se as pessoas compram online ou offline. Nós temos impacto quando as pessoas compram mais, e é isso o que está acontecendo agora”, complementa ele.
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As cargas do agronegócio, por outro lado, pararam. Em fevereiro, segundo Vega, o transporte de grãos parou por dois motivos: porque os chineses estavam segurando as importações desses produtos lá; e porque as autoridades sanitárias começara a fiscalizar todos navios que atracavam nos portos brasileiros. “Agora em março, os fazendeiros estão estocando os produtos agrícolas em casa por causa da desvalorização do real”, diz ele. O transporte de produtos de aço e de construção civil também começou a cair em março.