A brasileira CargoX é a única startup de logística entre as cotadas por CB Insights e Distrito para virar unicórnio nos próximos anos. Com faturamento na casa dos US$ 500 milhões em 2018, mais do que o triplo do ano anterior, a empresa não revela suas projeções para 2019, mas afirma que quer dobrar o número de funcionários, hoje em 350, até o fim do ano que vem. Para isso, segundo seu COO, Daniel Carvalho, precisará mais do que dobrar seu faturamento.

Nossa taxa média de crescimento e de faturamento é de mais ou menos 20% ao mês.
Daniel Carvalho, COO da CargoX.
Quatro projetos lançados neste ano devem ajudar a CargoX a chegar lá. O primeiro deles é o Clube de Benefícios CargoX, que tem parceiros como Dpaschoal, Omnilink, Graal e Rede Siga Bem – pertencente ao grupo BR –, entre outros, e oferece uma série de descontos e vantagens aos caminhoneiros que trabalham com a startup. O grande objetivo do programa é transformar a base de 300 mil caminhoneiros já cadastrados na plataforma em motoristas ativos. Para isso, eles precisam carregar com frequência com a CargoX. “A base de ativos dobrou em um ano, de 10 mil para 20 mil e está crescendo mensalmente a taxas muito grandes”, ressalta Carvalho. Todos os benefícios do clube dão uma economia estimada em R$ 14 mil por ano para o caminhoneiro.
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Junto com o clube, a CargoX também lançou, em parceria com a BR, a primeira Sala do Caminhoneiro. O espaço fica na cidade de Santa Bárbara do Oeste, em São Paulo, e recebe cerca de 250 motoristas por mês, mas tem capacidade para receber mais.
“Lá o caminhoneiro pode descansar, ele tem direito a tomar banho, a lavar a roupa dele, esquentar comida, enfim. É uma forma de a gente valorizar essa comunidade que hoje é tão essencial para o país, mas que, se a gente for pensar, é também tão maltratada”, ressalta Carvalho. A meta da empresa é abrir outros 30 espaços como esse até o fim de 2020.
O terceiro projeto lançado pela CargoX neste ano foi o Cargo Force, marketplace de transportadoras que usam a plataforma. Por meio dele, as parceiras da startup, em sua maioria pequenas empresas, estão sendo apresentadas aos embarcadores – nome que a CargoX dá para as empresas donas das cargas transportadas –, incluindo gigantes como Unilever e Votorantim.
Até R$ 300 milhões para ganhar as pequenas transportadoras do agronegócio
O marketplace veio acompanhado da quarta grande iniciativa da startup em 2019: o lançamento de um fundo de R$ 100 milhões para financiar capital de giro para transportadoras do agronegócio – setor que responde por mais de 20% do PIB brasileiro e no qual a CargoX quer entrar de cabeça. Hoje, a empresa já é referência de transporte nos segmentos de bebidas, metalúrgico, de casa e construção e também de varejo.
Por meio do fundo, a startup faz uma espécie de empréstimo atrelado à intermediação de serviços pela plataforma. O valor que a transportadora paga à CargoX pelas entregas realizadas com o intermédio da plataforma é acrescido de juros, que varia de acordo com o risco do empréstimo.
“A gente oferece não só o capital de giro, mas também tecnologia e meio para essa transportadora conseguir ampliar o negócio dela (…)É uma parceria muito legal, que fortalece nosso objetivo como empresa, que não é ser uma transportadora, mas ser uma empresa de tecnologia em transporte que traz eficiência como um todo para o sistema”, explica Carvalho.
“Hoje, 40% da nossa atuação é com caminhoneiros autônomos e outros 60% com essas pequenas transportadoras, que chegam a um total de 110 mil no Brasil”, complementa o COO. Até o fim de 2020, R$ 300 milhões devem ser disponibilizados às pequenas transportadoras pela startup por meio desse fundo de capital giro.
Esses recursos vêm dos últimos aportes recebidos. Em agosto de 2018, a CargoX realizou sua quinta rodada de captação. A injeção de capital de US$ 60 milhões foi liderada pela Blackstone e pelo fundo Hudson Structured Capital Management.
Desde a sua fundação, em 2016, a empresa com sede em São Paulo recebeu um total de US$ 96 milhões em aportes, oriundos de investidores como o banco Goldman Sachs, o fundo Qualcomm Ventures e a multinacional Agility Logistics, com sede no Kwait. A CargoX contou também, desde o seu início, com ex-CTO do Uber, Oscar Salazar, e o fundador da Coyote (startup americana com operação similar à CargoX nos EUA), Eddie Leshin, como parte do corpo diretor da empresa.
América Latina só a longo prazo
A CargoX está em todas as regiões do Brasil, mas seguindo a concentração da malha do rodoviária do país, que é muito forte no Sudeste e no Nordeste, e depois no Sul do país. “Dessas regiões, o Sul é onde a gente tem ainda muito para expandir e onde estamos buscando mais parceiros, entre transportadoras e embarcadores, para crescer”, explica o COO da startup.
A América Latina faz parte do plano estratégico da empresa, mas só a longo prazo. O foco principal da startup ainda é o Brasil, terceiro maior mercado de transportes no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China, países que, segundo Carvalho, “já têm muito investimento em tecnologia, inclusive por empresas que fazem coisas parecidas”com a CargoX.
O Brasil é o melhor laboratório possível [para criar e testar soluções], tanto pelo tamanho quanto pela complexidade do mercado.
Daniel Carvalho, COO da CargoX.
Segundo ele, o grande objetivo da CargoX é transformar o mercado do transporte brasileiro em um mercado online.