Os fundadores Mauricio Giordano, Vinicius Néris e Pedro Góes. Foto: Divulgação
Tecnologia

Com sede nos EUA, startup brasileira combina segurança de dados com videochamadas para até 100 mil pessoas

A empresa, que liberou acesso à plataforma Lobby Virtual até o final de maio, já recebeu mais de 300 requisições desde o anúncio

De um lado, festivais de música e campeonatos de esporte adiados. Do outro, conferências, feiras de negócios e congressos cancelados até segundo aviso. Se o setor de eventos vem sendo um dos que mais sofre com as orientações de distanciamento social em decorrência do novo coronavírus, as ferramentas de videoconferência tem visto a demanda aumentar significativamente nesse período. 

De olho nesse movimento, a InEvent, startup de gestão de eventos fundada por brasileiros e com sede nos EUA, anunciou no final de março o lançamento do Lobby Virtual, plataforma que permite realizar conferências corporativas com até 100 mil pessoas simultaneamente. “É uma forma segura de se conectar sem precisar baixar nenhum aplicativo no computador – e em larga escala. Esse foi o objetivo da criação da plataforma,” afirma Pedro Góes, CEO da InEvent, em entrevista ao LABS. Desde sua criação, a startup já realizou mais de 5000 eventos e atendeu cerca de 3 milhões de pessoas, registrando um crescimento anual de 100% nos últimos três anos. 

Focada na segurança de informações, garantindo a autenticação, criptografia e proteção dos dados por meio de políticas de segurança como AICPA e outros órgãos de privacidade, a empresa está liberando o acesso a licenças do software para companhias de mais de 100 países até o final de maio, para mitigar o impacto da COVID-19 no setor. E Pedro garante que a demanda, até o momento, tem sido grande. 

Pedro Góes (à direita), fundador e CEO. Foto: Divulgação

Com players como Amazon, Ambev, Embraer e XP Investimentos em seu portfólio de clientes, a InEvent já recebeu mais de 300 requisições para usar a solução desde o anúncio no final de março – inclusive do governo francês, comenta o CRO, Vinicius Néris. “Em 45 dias, mais de 28 países demonstraram interesse – grande parte da Europa. Através de um edital, fomos selecionados pelo Ministério da Economia Francês para oferecer nossa solução”. Vinicius conta que, por conta disso, a empresa tem adquirido de 5 a 6 novos clientes por dia no país. 

Segurança em pauta 

Por mais que a discussão em torno da segurança dos dados durante as videoconferências tenha ganhado mais atenção, para a startup, que lida com informações de grandes nomes do mercado – o tema não é nenhuma novidade. Parte dos mecanismos de segurança do Lobby Virtual são as solicitações de permissão para acessar microfone e câmera. “Isso é excelente do ponto de vista do usuário. Além disso, o nosso processo de autenticação impede que intrusos invadam reuniões em salas privativas dentro do Lobby Virtual e evita constrangimentos nas conferências”, explica Pedro.

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Para além da videochamada

Mas se a pauta dos aplicativos de videoconferência como Zoom e Hangouts tem ganhado força, já que muitas empresas se depararam com a necessidade de migrar suas equipes rapidamente para o trabalho remoto; para a InEvent, o momento pode ser de disrupção no setor de eventos – para além das videoconferências. 

“A videoconferência é como a primeira versão do mundo sem a camada presencial. Tivemos que nos adaptar rapidamente para um mundo sem conexão in person, então como fazemos isso? Vamos colocar um vídeo em que todo mundo se conecta. Mas a segunda etapa é: quando a gente vai para um evento presencial, não temos só uma reunião que a gente fica ali assistindo, é um evento muito complexo. Ninguém nunca construiu isso de criar uma experiência online [para eventos] complexa de fato, e essa é a nossa proposta”, relata o CEO. 

Com foco em eventos corporativos de todos os portes, os executivos contam que a plataforma é especialista em personalização, hospedando desde sessões de meia hora e treinamentos para grupos pequenos, até eventos que duram de um dia todo a uma semana – com workshops separados, speakers individuais e grupos segmentados de participantes. 

Já em relação às funcionalidades, a solução permite desde o envio de questionários de satisfação durante as sessões e download de conteúdos, até a participação em games e a opção de sair de um painel coletivo para uma sala privada. “É como se fosse a experiência de um evento off: estamos em uma conferência, vi seu crachá, quero me aproximar e conversar só com você, fazer networking,” detalha Vinicius.

Os fundadores Mauricio Giordano, Vinicius Néris e Pedro Góes. Foto: Divulgação

“Uma dificuldade (das videoconferências) é acessar o conteúdo de maneira que você controle. Quero ver qual a próxima sessão daqui a meia hora, qual a agenda do evento, quem são os speakers. Quero ter isso no meu celular, onde eu controle essa informação. A plataforma traz esse conceito”, explica. “Essa simplificação do acesso é algo que estamos vendo nos usos de casos dos nossos clientes: não precisa ter um super evento,” complementa Pedro. 

Se eu quero oferecer um conteúdo diferenciado para uma conferência, com painéis, com uma simulação muito similar a um evento presencial, algo que não seja só abrir um link e ficar olhando um streaming; na InEvent conseguimos fazer isso: uma dinâmica de apresentação muito mais interativa.


Pedro Góes, CEO

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Com aumento na demanda em decorrência da alta procura por soluções que substituam o presencial nesse momento, a InEvent tem direcionado os esforços para desenvolvimento de produto e conteúdo. Apoiada por um aporte seed round na faixa de US$ 500 mil a 1 milhão, liderado pela aceleradora californiana Y combinator no ano passado, o capital tem impulsionado a startup a melhorar a experiência, tanto para o criador do evento, quanto para o convidado – e de forma escalável.

“As companhias vão ter que dar uma vazão muito grande a eventos que antes seriam presenciais,” explica Vinicius. “Temos empresas no Reino Unido, França, Estados Unidos, Oriente Médio, que vem com a demanda de: ‘não quero ter a marca do Zoom ou do YouTube no meu site’. A gente se especializou nisso: temos clientes que vão começar a fazer transmissão para milhares de pessoas dentro dos seus próprios sites, com seu servidor local. O participante não precisa nem acessar o ambiente do Lobby Virtual para participar de um evento”.

Não tem mais essa diferenciação do que é on e o que é físico: eventos são eventos. A empresa precisa estar preparada para isso: qual plataforma eu uso se o evento for físico ou se for digital? Não, você tem que ter a plataforma para criar um evento. E ter a segurança de que a privacidade dos dados de seus usuários vai estar protegida.


Vinicius Néris, CRO

Foco em meio à pandemia

Com uma equipe de 30 pessoas no Brasil e EUA atuando em marketing, vendas, produto e customer success, os esforços da empresa estão direcionados, no momento, na divulgação e melhorias constantes do produto. “Temos focado bastante em melhorar a entrada do usuário na plataforma, para que nossos clientes viabilizem renda nesse momento delicado. E a segunda coisa é a facilidade de uso – encriptamos tudo mas ao mesmo tempo pensamos: como você cria algo para ser fácil de usar.” 

Além de observar maior busca por alguns países europeus, os executivos contam que o contexto atual também tem levantado o interesse de alguns setores em especial – como o da educação. “Empresas de educação, faculdades e cursos têm nos procurado porque querem algo mais dinâmico para interagir ao vivo com os alunos,” conta Pedro. 

Crescimento e expansão

Os fundadores em frente à sede da aceleradora Y Combinator, Mountain View. Foto: Divulgação

Com raízes no Brasil, a InEvent vem identificando um volume maior de empresas brasileiras solicitando a plataforma nas últimas duas semanas – mas ainda não detecta um ritmo acelerado no país. “A gente ainda vê o Brasil um pouco mais lento para reagir ao momento, comparado com outros países, recorrendo mais a soluções que já conheciam, como WebEx e YouTube”. Já o México, entrou no radar mais rápido: Pedro conta que estão desenvolvendo uma parceria no país com um player que possui mais de 1500 colaboradores, com operação em vários países da América Latina.

Fundada em 2015 por Mauricio Giordano, Vinicius Néris e Pedro Góes, o ponto de inflexão na trajetória da startup brasileira aconteceu alguns anos depois, em 2018, quando uma empresa do Vale do Silício fez o primeiro contato e demonstrou interesse pela integração da InEvent com a popular plataforma de CRM Salesforce. Depois de três viagens para São Francisco, a conversão desse primeiro cliente não aconteceu – mas a oportunidade de expandir para os Estados Unidos, sim.

Por conta do lançamento do Lobby Virtual, a pandemia não diminuiu a expectativa de crescimento para 2020 da startup. “60% dos nossos clientes estão dispostos a irem pro online e 40% estão estudando, receosos com a renda nesse formato. Ainda não estamos tendo um aumento de receita, porque embora a gente tenha uma demanda maior da solução, tem clientes que não estão mais usando a plataforma para os eventos passados, então houve uma troca”, conta o CEO.   

Acelerada pela Y Combinator e com escritórios em São Paulo, Flórida e Mountain View, a startup projeta uma mudança dramática em termos de adoção de tecnologia para os próximos meses – e acredita em inovação forçada. “Não achamos que vamos voltar pros eventos presenciais tão cedo. E mesmo quando [a pandemia] acabar de vez, as pessoas vão estar tão acostumadas com o digital, que não vão mais querer voltar só para o presencial,” defende Pedro. “Uma vez que a indústria e o consumidor estejam mais habituados a esse tipo de solução, nós vemos um crescimento não só em eventos, mas para todas as soluções digitais – no Brasil e no mundo.”

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