De um lado, contratos de trabalho remoto são alavancados pelas medidas de isolamento social. Do outro, as chamadas HRTechs, ao aliar tecnologia à área de recursos humanos, estão com a faca e o queijo na mão.
Os modelos remotos de trabalho como o home-office, regulamentado no Brasil em 2017, já vinham encontrando nas HRTechs, soluções para acelerar a transformação digital de um departamento chave para o sucesso dos negócios. Mas com a pandemia, esse movimento ganhou outro ritmo.
Logo no início das medidas de distanciamento, a startup de recrutamento e seleção Revelo, por exemplo, lançou a ferramenta Revelo Remoto e viu mais de 95% das contratações e entrevistas aconteceram de maneira não presencial, uma demanda que vinha tanto de clientes, quanto de candidatos. “Entendemos esse movimento como uma tendência que veio para ficar e que é prioridade para quem está buscando uma nova carreira,” diz Lachlan de Crespigny, cofundador da Revelo.
Maior HRtech da América Latina segundo a empresa, a Revelo conecta candidatos a vagas em sua plataforma de recrutamento e seleção e hoje tem na carteira mais de 14 mil clientes entre nomes como Mercado Livre, XP Inc e B2W Digital. A startup acumulou rodadas que, em 2019, chegaram a mais de R$90 milhões, marco que fez da Revelo a empresa mais investida do setor no Brasil.
O crescimento da Revelo acompanha o ritmo acelerado do setor de startups de recursos humanos no mundo. O investimento global nas chamadas HRTechs cresceu 75% entre 2017 e 2018, conforme levantamento da empresa americana de pesquisas CB Insights. US$ 16 bilhões foram injetados em 2.918 negócios na área desde 2019.
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Quem também surfou essa onda foi a Gupy. Em abril, a startup brasileira de recrutamento e seleção recebeu um aporte de R$40 milhões da também brasileira Oria Capital, para alavancar o crescimento da operação e otimizar sua tecnologia de processos seletivos totalmente digitais. Com um portfólio que atende empresas como Via Varejo, Renner, Ambev e Grupo Pão de Açúcar (GPA), a Gupy lançou, no início de agosto, o Gupy Admissão.
Conseguimos oferecer, em média, uma redução de 50% do tempo de abertura e fechamento de uma vaga, 80% de redução no esforço operacional, além de melhorar o turnover, promovendo sempre a conexão da pessoa certa com a vaga.
Guilherme Dias, CMO e cofundador da Gupy
Para diminuir o turnover – ou rotatividade de funcionários –, a Gupy aposta em inteligência artificial criada dentro de casa. À medida que candidatos se aplicam à vaga, a Gaia [inteligência artificial da startup] os ordena de acordo com afinidades em comum com as da empresa. De acordo com a Gupy, mais de 60% dos contratados com a ferramenta estavam nas 10 primeiras posições ordenadas pela Gaia.
Desde a criação, em 2015, a solução da startup já analisou mais de 15 milhões de currículos e concluiu mais de 20 mil vagas de emprego em diferentes indústrias.
“Lançamos o produto de admissão, que torna o processo de recrutamento, seleção e admissão totalmente online, e só no primeiro semestre aumentamos a nossa base de clientes em 150% [ano a ano], enquanto o número de contratações pela plataforma quintuplicou,” revela ao LABS Guilherme Dias, CMO e cofundador da startup. Só em junho, a Gupy registrou 20 mil contratações dentro do sistema.
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Dias revela que, mesmo antes da pandemia, a HRTech já estava se preparando para o lançamento do Gupy Admissão, dada a grande procura por uma ferramenta que automatizasse a etapa. “Quando chegamos ao processo de admissão, que ainda hoje envolve muita troca de papéis, nesse momento de pandemia em que muitas empresas adotaram o regime de home-office, vimos que era a hora de lançar o produto”, diz.
Com a solução, o novo funcionário pode fotografar e enviar todos os documentos do processo sem sair de casa. Pela plataforma, a empresa acompanha o processo e já valida a documentação, que é enviada automaticamente para os órgãos responsáveis.
“A assinatura do contrato também é feita de forma remota, por meio de uma integração com o ClickSign,” complementa o executivo. “Este ano, queremos aprender muito sobre como os dois produtos trabalham juntos. Com o lançamento, esperamos pelo menos triplicar nossa receita em 2020.”
Mesmo nesse momento em que muitas empresas já retornaram, aqui na Gupy a gente viu que outras também mantiveram a mesma postura de manter o time todo em segurança e no home-office. Vimos que essa demanda aumentou muito na nossa plataforma e os candidatos têm gostado desse formato.
Guilherme Dias, CMO e cofundador da Gupy
Revelo, Gupy e outras empresas de recrutamento e seleção fazem parte de uma categoria que já corresponde a 28,2% do total de HRTechs no Brasil, segundo relatório da plataforma de inovação Distrito. O estudo, que mapeou 373 startups do setor em 2020, divide as empresas em seis categorias: Desenvolvimento e Gerenciamento de talentos (160 startups); Recrutamento e seleção (105); HR Core – que abriga startups de serviços como remuneração e benefícios, soluções integradas e gestão de ponto eletrônico (95); Operações (Office Services – 7); HRMS (Human Resource Management System – 5) e Offboarding (1). O setor é recente no país: 85,2% das HRTechs surgiram nos últimos 9 anos.
Pensamos em uma solução que oferecesse a contratação remota de ponta a ponta, para qualquer lugar do mundo. Com o Revelo Remoto, as empresas chegam a economizar mais de R$9 mil com ferramentas de contratação e o processo seletivo pode ser até seis vezes mais rápido.
Lachlan de Crespigny, cofundador da Revelo
“As mudanças no universo do trabalho já estavam sendo discutidas em um cenário de pré-pandemia,” pondera o executivo da Revelo. Para ele, tudo foi acelerado para a transição de uma rotina de trabalho remoto. “Entendo que essa tendência permanecerá, não somente no Brasil, mas em todo mundo. Caso não seja completamente home-office, também será adotado o formato híbrido.”
Crespigny revela que após o boom das contratações à distância, em fevereiro e março, 60% das admissões hoje seguem no mesmo formato. “As posições remotas não param de surgir,” conta.
Dias, da Gupy, conta que o recrutamento e seleção por meio de inteligência artificial, que já estava em crescimento antes da pandemia, deu um salto. “Depois disso, sabemos que até as empresas mais conservadoras estão enxergando a importância de ter uma ferramenta mais assertiva que te mostra os profissionais mais qualificados para as vagas abertas.”