Atender 1 milhão de pequenas empresas brasileiras, aquelas com faturamento de até R$ 3,6 milhões por ano e até 10 funcionários. Essa é a meta que a Conta Azul, startup fundada há sete anos por três jovens de Joinville (SC), quer alcançar até 2025. “Com esse número, a gente coloca a ContaAzul entre as principais do segmento no mundo”, revela Vinicius Roveda – CEO e cofundador da startup, ao lado de José Sardagna e João Zaratine – ao LABS. O primeiro grande passo para isso foi dado em 2018, o melhor ano da história da startup até aqui.
Em abril do ano passado, a Conta Azul recebeu um aporte de R$ 100 milhões. Os recursos vieram na quinta e maior rodada realizada pela empresa até então, classificada como Série D, e que foi liderada pela Tiger Global Management, empresa de Nova York que já havia investido na Conta Azul em 2015. No acordo com os investidores, a empresa firmou o compromisso de dobrar de tamanho em 2018 e manter o crescimento na faixa dos 100% nos três anos seguintes.
Seis meses depois, a startup anunciou um investimento de R$ 60 milhões no desenvolvimento e lançamento da Conta Azul Mais, primeira parte da plataforma de contabilidade em nuvem da empresa, que englobou também a aquisição da Wabbi, startup de armazenamento virtual.
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Se para a tarefa mensal de fechamento fiscal (entrega de obrigações, cálculo de impostos e geração dos livros obrigatórios) dos clientes o contador levava de 20 a 25 horas, com a nova plataforma ele leva uma hora. Demandas recorrentes, como geração de guias de impostos e de folha de pagamento, são automatizadas. E, o mais importante, empresário e contador veem todas as informações em tempo real, algo que, segundo Roveda, nenhuma outra solução do mercado oferece.
Além disso, a plataforma também está integrada a uma série de instituições financeiras, como Bradesco e Banco do Brasil, fintechs, como a Stone, entre outras empresas, que agregam uma série de soluções aos serviços já prestados pela Conta Azul.
Na prática, a Conta Azul Mais consolidou um ponto de virada importante da empresa, iniciado ainda em 2017, de trabalhar não só com as pequenas empresas, mas de atrair também a outra ponta, os contadores, como os grandes parceiros da startup.
“Nosso foco primário é ajudar o pequeno empresário a ter o controle do seu negócio e, ao mesmo tempo, renovar sua relação com o contador, que passa a ter um papel muito mais consultivo, de inteligência”, explica Roveda.
Por que olhar para os pequenos negócios faz todo o sentido
A missão da Conta Azul seria fácil se ela não estivesse no Brasil. Um estudo de 2017 do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostrou que, desde a nova Constituição do país, de 1988, uma média de 769 normas, entre leis, medidas provisórias, instruções normativas, emendas constitucionais, decretos, portarias e atos declaratórios, mudaram por dia útil no Brasil.
Há também o desafio da falta de educação financeira e da consequência disso para os negócios: um terço das micro e pequenas empresas brasileiras costuma fechar as portas antes de completar dois anos principalmente em razão disso.
Ao mesmo tempo, são justamente esses micro e pequenos negócios os responsáveis por gerar mais da metade das vagas de emprego formais do país.

É por isso que o impacto do nosso trabalho pode ser gigantesco para o país. A empresa que economiza tempo e melhora gestão, cresce e gera empregos.
Vinicius Roveda, CEO e cofundador da Conta Azul.
Neste ano, a plataforma de inovação Distrito listou a startup entre aquelas cotadas para virar unicórnio, ou seja, atingir US$ 1 bilhão ou mais em valor de mercado, em breve.
A Conta Azul já tem 10 mil escritórios de contabilidade parceiros e a meta é dobrar este número até 2021 – o Brasil tem 69 mil organizações contábeis ativas, segundo o Conselho Federal de Contabilidade. Na outra ponta, mais de 800 mil pequenas empresas já passaram a usar a ContaAzul.
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A plataforma não tem custos para o contador parceiro, apenas para os pequenos empresários, que escolhem entre quatro planos, com preços que vão de R$ 89,90 a R$ 199,92, conforme tamanho da empresa e conjunto de demandas.
“A transformação desse mercado chegou com muita força nos últimos dois anos, mas teremos uma janela de cinco a sete anos em que vamos viver uma nova realidade”, prevê Roveda.
Novos planos, nova sede
Em maio deste ano, a ContaAzul trocou uma sede de 2 mil metros quadrados por outra muito maior, de 9 mil metros quadrados, no Ágora Tech Park (Inovaparq), em Joinville.
O novo espaço chegou na hora certa. “Nosso investimento maior, por sermos uma empresa de tecnologia, é em capital humano e a maior parte desse investimento foi feito ainda em 2018”, diz Roveda. A empresa deve fechar 2019 com 500 funcionários.
Por ora, não há planos de expansão para outros países da América Latina. “Quando se tem um mercado de 20 milhões [de empresas] não é preciso sair daqui. Nossa missão é tornar a Conta Azul algo padrão para todas as pequenas empresas”, afirma Roveda.