Educação e trabalho foram duramente atingidos em todo o mundo pela pandemia de COVID-19, com escolas fechadas e desemprego em ascensão. A Coursera, uma das maiores plataformas de aprendizado on-line do planeta, decidiu no início do surto global tomar iniciativas para apoiar as pessoas afetadas pela crise. Ofereceu cursos de graça para estudantes de universidades fechadas e fechou parceria com governos para treinar trabalhadores que perderam seus empregos, também sem nenhum custo.
Medidas como essas intensificaram o crescimento exponencial da demanda por cursos online entre profissionais de todos os setores. Como resultado, 10 milhões de novos usuários se registraram na plataforma desde meados de março, seis vezes o ritmo de registros no mesmo período do ano passado. Na América Latina, o salto ocorreu na mesma proporção.
Atualmente, a Coursera possui 63 milhões de alunos cadastrados e oferece mais de 4.300 cursos, 450 especializações e 20 graduações. Ao todo, conta com 200 instituições parceiras, tanto na academia quanto no setor produtivo, e 2.400 empresas usam a plataforma corporativa da empresa, Coursera for Business.
Na América Latina, são 11,5 milhões de alunos cadastrados, 15 universidades parceiras e mais de 300 clientes entre empresas e governos que atualmente usam a Coursera para treinar e aperfeiçoar habilidades de funcionários e cidadãos. O México e o Brasil são, respectivamente, terceiro e quinto maior mercado da empresa.

Em entrevista ao LABS, Mario Chamorro, líder da Coursera para a América Latina, diz que a região, como o resto do mundo, teve que adotar a educação online em uma velocidade impressionante. “O que a agência colombiana de transformação digital planejava fazer em quatro anos, eles fizeram em apenas três meses. Basicamente, toda a região está passando por essa transformação rápida”, diz ele.
Coursera adotou rapidamente iniciativas de resposta à pandemia
O fechamento de escolas e universidades impactou a educação de aproximadamente 1,6 bilhão de estudantes em todo o mundo, 200 milhões dos quais na América Latina, segundo dados da Unesco. Em março, a Coursera lançou a Campus Response Initiative, fornecendo às universidades e faculdades afetadas acesso gratuito aos seus cursos. As instituições puderam conceder aos alunos matriculados 3.800 cursos e 400 especializações no catálogo da Coursera.
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Segundo Chamorro, 80 universidades se inscreveram no Brasil e 40 delas atualmente estão usando o benefício. Globalmente, 3.300 instituições aproveitaram a oportunidade.
Devido ao fechamento de empresas, as taxas de desemprego dispararam. Em 24 de abril, a Coursera iniciou a Workforce Recovery Initiative para capacitar os trabalhadores sem emprego, que recebem acesso gratuito ao aprendizado online por meio de parcerias com governos federais, estaduais e municipais.
Segundo Chamorro, atualmente, 92% dos países latino-americanos estão usando esses cursos para ajudar cidadãos que perderam o emprego devido à pandemia. “Oito das dez agências governamentais que mais usam este projeto estão na América Latina, ele foi muito bem recebido”, ressalta.

A parte bonita dessa história, algo de que realmente me orgulho, é que os países latino-americanos têm acolhido a iniciativa de maneira muito rápida em comparação com o resto do mundo. Em uma perspectiva muito pessoal e humana, eu sinto orgulho de poder ajudar a região que amo por meio da Coursera.
Mario Chamorro, LÍDER da Coursera para a América Latina
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Na Colômbia, onde a Coursera forneceu 50.000 licenças por meio da iniciativa, o presidente Ivan Duque anunciou na televisão o uso da plataforma. Atualmente, 20.000 trabalhadores colombianos desempregados estão a usando. Outros exemplos vêm da Guatemala e do Chile, onde parcerias com ONGs locais e agências governamentais estão fornecendo a dezenas de milhares de pessoas programas de reciclagem profissional online.
Interesse por conteúdo de saúde e bem-estar disparou
Nos últimos 30 dias, a demanda por conteúdo de saúde pública na Coursera saltou 1.066% no Brasil. O aumento no país é impressionante, mas a demanda por cursos de saúde, saúde pública e bem-estar disparou em todos os lugares. Desde março, a empresa desenvolveu e colocou na plataforma cerca de 10 cursos diferentes relacionados a COVID-19.
Desde que foi ao ar no dia 11 de maio, o programa “COVID-19 Contact Tracing“, da Universidade John Hopkins, teve mais de 429.000 inscrições e 165.000 conclusões, tornando-o o curso mais popular lançado na Coursera em 2020. Seu conteúdo está disponível com legendas em português e espanhol.
Desenvolvido pela Escola de Saúde Pública Bloomberg da Johns Hopkins, o curso de seis horas foi projetado para treinar indivíduos nos princípios básicos do rastreamento do contágio por coronavírus.
Outro sucesso recente, e o segundo curso mais procurado na América Latina em 2020, foi “The Science of Well-Being”, da Universidade de Yale. “É um curso sobre felicidade. Vimos um interesse realmente maior por parte dos alunos em permanecer mentalmente saudáveis durante o bloqueio. Isso é algo que temos visto em diferentes mercados”, diz Chamorro.

As origens da Coursera estão na IA e em Stanford
A Coursera foi fundada em 2012 na Universidade de Stanford pelos professores de ciência da computação Andrew Ng e Daphne Koller, que ministravam um dos cursos mais populares do campus e criaram a plataforma para que mais pessoas pudessem ter acesso a ele. Em menos de dois meses, 100.000 pessoas se matricularam em suas aulas. Desde então, a empresa levantou mais de US$ 300 milhões em venture capital.
Ela funciona como um “marketplace gerenciado” para ensino online, nas palavras do CEO Jeff Maggioncalda. A Coursera estabelece regras, diretrizes e faixas de preço e determina quais instituições publicam e quais cursos são oferecidos na plataforma. As receitas são divididas, em taxas variáveis, entre a Coursera e os provedores de conteúdo.
No Brasil, a Coursera oferece 100 cursos em português, por meio de parcerias com instituições como FIA Business School, Fundação Lemann, Insper, Instituto de Tecnologia Aeronáutica, Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Campinas (Unicamp). “Acabamos de contratar uma pessoa que atualmente é da Coursera trabalhando em tempo integral com essas universidades e, definitivamente, uma de nossas intenções é trabalhar mais no Brasil”, diz Chamorro.

No lado hispânico da região, a Coursera oferece 500 cursos em espanhol e 46 especializações. No ano passado, lançou uma graduação em ciência da computação pela Universidade de Los Andes, na Colômbia, e em 2020 anunciou outra graduação em espanhol, em análise de dados.
Do ponto de vista comercial, o futuro é decididamente promissor para a empresa. O aumento da demanda nos últimos meses pode ter sido essencialmente impulsionado pelo conteúdo gratuito – na verdade, menos de 10% dos estudantes do Coursera pagam por cursos, e na América Latina esse número é um pouco menor que a média global. Mas 60% dos estudantes em programas de graduação já experimentaram cursos gratuitos antes.
Além disso, os alunos que buscam um certificado tendem a concluir cursos com muito mais frequência. Nos cursos direcionados ao consumidor, as taxas de conclusão oscilam em torno de 15%, mas no segmento corporativo, elas atingem 90%. E a margem para futuras matrículas em cursos pagos aumentou imensamente.