Marcos Swarowski, novo diretor da Deezer para a América do Sul. Foto: Divulgação
Tecnologia

Deezer aposta em parcerias e gosto local para expandir na América do Sul

Marcos Swarowski, novo diretor para a América do Sul, fala sobre manter crescimento que fez do Brasil o maior mercado da empresa

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A plataforma francesa de streaming de música Deezer anunciou na semana passada seu novo diretor-geral para a América do Sul. Marcos Swarowski assume o cargo com o claro desafio de manter a expansão da empresa em um cenário mais movimentado. Recentemente, o Brasil se tornou o maior mercado de usuários ativos da Deezer e o segundo em receita. Embora a empresa não divulgue números totais, ela revela que sua base de clientes pagantes brasileiros aumentou 30% no ano passado. Com a crescente concorrência do Spotify, isso é notável mesmo para uma plataforma que está no país há mais tempo – a Deezer lançou seu serviço no Brasil em 2013, um ano antes do aplicativo sueco.

Em uma entrevista ao LABS, Swarowski, cujas passagens anteriores incluem Expedia e AOL, falou sobre os objetivos da Deezer para continuar crescendo, incluindo o investimento em gêneros populares localmente, como o sertanejo e a música gospel, além de parcerias com empresas de outros setores.

LABS – A Deezer foi um serviço pioneiro na popularização de streaming de áudio por aqui. Parcerias com empresas de outros setores, a exemplo das estabelecidas com TIM e Itaú, são quão importantes na estratégia de crescimento em um mercado que se tornou mais competitivo?

Swarowski – Apesar de o streaming de áudio hoje já representar boa parte do faturamento da indústria da música e ter sido a alavanca para retomada do mercado, a penetração no Brasil ainda é muito baixa, entre 5% e 10% segundo fontes de mercado – no mundo, em mercados mais maduros, não passa de 30%, e portanto, tem grande potencial de crescimento. As parcerias B2B2C, como a que temos com a TIM, e agora mais recentemente com o Itaú, nos proporciona crescimento não só em base de usuários mas também reconhecimento de marca e nos dá maior capilaridade para diversas camadas da população e regiões do País. Além disso, para os parceiros, é um serviço que agrega valor ao ‘core’ de serviços de cada um deles, traz um diferencial, e tem se mostrado um instrumento importante para fidelizar clientes. 

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Como conquistar novos usuários nesse ambiente? Qual o diferencial, o componente atrativo, da Deezer para eles?

Acredito que a experiência e a relação que os nossos usuários têm com a Deezer e com os artistas que eles mais gostam é nosso maior diferencial. Tecnologia traz novas features o tempo todo, mas o lado humano e personalizado da Deezer mostra o DNA único da plataforma.

Prova disso é que em 2019, a Deezer teve um crescimento significativo no Brasil, se tornando o maior mercado em números de usuários ativos no mundo para a empresa. Apesar de sermos uma empresa global, temos uma atuação local muito forte. Valorizamos os artistas e gêneros nacionais. E isso faz todo o sentido, pois os brasileiros ouvem muito mais as músicas nacionais. Além de curadoria feita pelos nossos editores apaixonados por música que se une à tecnologia dos nossos algoritmos proprietários para entregar a melhor experiência para os nossos usuários, produzimos localmente conteúdos originais exclusivos em parceria com artistas e gravadoras. Temos um estúdio em nosso escritório, que anualmente passa mais de 100 artistas. Com tudo isso, nos tornamos uma plataforma muito mais humana e pessoal.

Para ter dar um exemplo claro, na última semana esteve em nosso escritório a dupla Fernando & Sorocaba que fizeram um pocket show ao vivo com churrasco para os usuários que mais ouvem a dupla, essa experiência vai muito além de um app instalado no seu celular. 

                                                                                                                       

Plataformas de streaming não competem apenas entre si, mas pela própria atenção do usuário com uma infinidade de outros serviços e produtos. Como você vê esse desafio de conquistar espaço num ambiente em que a dedicação de atenção está cada vez mais breve?

A música faz parte do dia a dia de todos nós. A única mudança essencial é a forma que ela é consumida, e as vantagens que o streaming de áudio traz é que a música, o podcast ou qualquer outro programa de áudio pode ser consumido ‘on the go’, no caminho para o trabalho, na academia, em viagens de carro, no trânsito ou até mesmo em casa, online ou offline, na palma da mão ou conectado com diversos outros devices, enquanto você precisa essencialmente estar fazendo outra atividade ao mesmo tempo. 

O que diferencia o mercado de streaming sul-americano dos demais?

Tem dois pontos bastante interessantes para destacar quando nos referimos ao mercado sul-americano. O primeiro é na característica do Latino em consumir muita música local, é cultural nosso escutar e referenciar artistas locais. E isso é muito positivo, pois artistas de diversos gêneros tem quebrado barreiras físicas antes jamais alcançadas, seja o Funk Brasileiro, o Sertanejo, o Reggaeton ou o Vallenato, entre tantos outros. Outro ponto a ser destacado, não só na América Latina, mas com ainda mais ênfase aqui, é o gap de 10 anos que a indústria teve de informalidade no consumo de música, que representou a queda de receita por tanto tempo. Então, toda a indústria, seja a Deezer ou qualquer outro player, os artistas, as gravadoras, as distribuidoras, os produtores, autores, compositores, etc tem um papel importante de educação da população e das vantagens do streaming de áudio.

Apenas uma pequena parcela da população sul-americana acessa serviços de streaming. O desafio, portanto, é atrair os ouvintes das rádios? Como fazer isso?

O que eu posso acrescentar aqui é que na minha concepção são serviços que se completam. Hoje na própria Deezer temos milhares de estações de rádios do mundo inteiro disponíveis no aplicativo. A rádio não vai deixar de existir, ela tem um papel fundamental de reportagem informativa rápida, ao vivo. A Deezer é uma plataforma integral de áudio, com músicas, podcasts, estações de rádio, audiobooks etc. O que muda é a forma/ canal pelo qual as pessoas consomem esse conteúdo, e no caso da Deezer o usuário tem tudo em um único lugar. 

A Deezer investe em curadoria para conteúdo de gêneros muito populares no Brasil, como o gospel e o sertanejo. Você percebe que o fã desses estilos ainda precisa ser conquistado para as plataformas digitais? 

Reafirmo que nós queremos levar o streaming para todos os usuários com conteúdo curado, personalizado e relevante para cada um deles e de todas as regiões. Hoje cerca de 70% da população brasileira tem acesso à internet banda larga e tem um smartphone. Vamos continuar investindo fortemente em campanhas de marketing e parcerias para aumentar o conhecimento e acesso das pessoas ao streaming de áudio.  

A produção musical da América Latina tem conquistado um espaço enorme, talvez inédito, no mercado norte-americano. Como você vê isso? Essa movimentação cria mais oportunidades ou mais desafios para as plataformas internacionais de streaming?  

Acredito que o streaming tem um papel importante nessa quebra de barreiras geográficas, e muito mais que uma oportunidade ou desafio para as plataformas, são as oportunidades para os artistas.  Hoje é muito mais fácil que artistas tracem suas estratégia para alcançar diversos mercados globais, seja com músicas que envolvam mais de um ritmo e gêneros, seja em parcerias com artistas de outros países, seja lançando singles ou EPs para “testar” novos projetos em diferentes localidades e pode fazer tudo isso globalmente com muito mais facilidade que antes, quando precisava de toda uma logística de suporte quando o principal era a mídia física.