Os latino-americanos mergulharam mesmo no reino do streaming de vídeo. Nos últimos tempos, isso não significa apenas que o público da região assine uma ou outra plataforma disponível, mas sim que os espectadores estejam adotando várias simultaneamente. No Brasil e no México, cada consumidor de streaming já adota uma média de 2,5 serviços, de acordo com um levantamento da Ampere Analysis, consultoria de mídia britânica.
Ninguém sabe ao certo se esse “acúmulo” de plataformas de streaming será sustentável, afinal os consumidores que assinam três serviços diferentes já devem gastar o mesmo, ou até mais, do que costumavam pagar pelos pacotes tradicionais de TV paga. Mas as novas empresas do mercado veem a tendência como uma forma de conquistar clientes da líder Netflix. Disney+ e HBO Max disputarão inicialmente para ser uma “segunda opção” e, depois, tentarão reter os espectadores, caso precisem optar entre as plataformas.

“O número de assinaturas simultâneas na América Latina se aproximará dos níveis verificados na Europa Ocidental, mais altos. Portanto há claramente oportunidade de crescimento para novos players que entram no mercado, uma vez que os consumidores estão assistindo a cada vez mais serviços”, diz Lottie Towler, analista sênior da Ampere.
Grandes plataformas internacionais dividem a América Latina entre mercados de língua espanhola e portuguesa, com serviços operando em ambos os lados, porém com diferentes cronogramas e estratégias de lançamento. Disney + e HBO Max serão lançados na região no final de 2020 e em 2021, respectivamente. Embora nenhuma empresa tenha divulgado em quais países da América Latina começará a operar, provavelmente ambas seguirão o padrão de mercados distintos.
A Disney deve ser a segunda maior plataforma
De acordo com as previsões da Digital TV Research, empresa que fornece inteligência de negócios para a indústria da televisão, a Disney+ será a segunda maior plataforma de streaming da região em alguns anos. A consultoria prevê que, até 2025, o serviço terá 31 milhões de assinantes nos mercados latino-americanos – aproximadamente o número que a Netflix alcançou no fim de 2019.

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A Disney tem sido muito bem-sucedida nos países onde começou a funcionar, em parte porque é uma marca com apelo global, e em parte porque é muito boa em pré-venda, obtendo assinaturas antes do lançamento dos serviços. Acreditamos que a Disney+ terá uma aceitação muito rápida na América Latina. e que o Brasil será seu terceiro maior mercado
Simon Murray, analista principal da Digital TV Research.
A base de assinantes é uma vantagem da HBO na região
A HBO Max, a nova plataforma da AT&T WarnerMedia, fez da América Latina uma prioridade em seus planos de expansão internacional, conforme adiantado pelo LABS. Ela chegará apenas em 2021, mas a região apresentará os primeiros grupos de assinantes estrangeiros, fora dos EUA.
A Digital TV Research prevê que, nos próximos cinco anos, a HBO acrescentará 2,2 milhões de usuários a uma parcela da base de assinaturas atuais – assinantes da TV paga e do serviço sob demanda HBO Go, que poderão migrar para a nova plataforma com desconto ou sem custo adicional. Em novembro passado, John Stankey, COO da AT&T, revelou que a HBO possui 10 milhões de clientes na região. Nesse caso, a HBO Max poderá entrar em uma disputa pelo terceiro lugar com a Amazon Prime Video.

A batalha por novos usuários será cada vez mais travada fora dos EUA. Mas a expansão em mercados internacionais, de onde vêm 80% do crescimento recente da Netflix, é comparativamente mais cara porque o conteúdo precisa ser adaptado para diferentes gostos culturais.
A HBO tem uma vantagem na América Latina, em termos de uma base de usuários estabelecida já desde o início. Uma boa parte dos assinantes atuais da HBO pode fazer a transição para a HBO Max. A empresa está buscando uma proporção considerável das assinaturas internacionais, então a LatAm é definitivamente um mercado importante para eles
Lottie Towler, analista sênior da Ampere
No lançamento nos EUA, o preço da HBO chamou atenção. Disponível a US$ 15 por mês, ela começou cobrando dos telespectadores mais do que Disney+ (US$ 7), o plano básico da Netflix (US$ 9) e a Amazon Prime (US$ 13). Essa pode ser uma estratégia comercial arriscada, principalmente em mercados emergentes mais sensíveis aos preços. Mas, em termos de bibliotecas de conteúdo, o único rival da HBO Max capaz de atrair assinantes no mesmo nível é a Disney.

Disney e HBO oferecem vastas bibliotecas de conteúdo
Com 500 filmes e 7.500 episódios de televisão das marcas Walt Disney Studios, Pixar, Marvel, Star Wars, National Geographic e mais, a Disney+ abrigará com exclusividade algumas das histórias mais famosas do mundo, além de uma lista robusta de conteúdo original. A HBO Max também oferece originais e 10.000 horas de conteúdo, incluindo o serviço da própria marca, junto com títulos do acervo centenário dos estúdios Warner Bros., além de DC, CNN, TNT, TBS, Cartoon Network, Crunchyroll, entre outros.
Quanto ao número simultâneo de serviços de streaming, os usuários podem começar a procurar plataformas especializadas – como a oferta focada em esportes da DAZN – ou gratuitas, baseadas em anúncios – como YouTube TV e Pluto TV, da ViacomCBS – ou mesmo aquelas que são oferecidas como um benefício extra de uma assinatura de celular ou TV linear.
Quantas assinaturas as famílias estão dispostas a ter? Acho esse um ponto bastante interessante. Eu diria três ou quatro para a maioria das pessoas. Alguns serviços oferecem exclusividade no que diz respeito ao esporte.
SIMON MURRAY, ANALISTA PRINCIPAL DA DIGITAL TV RESEARCH.
De qualquer forma, esse argumento aponta para uma conclusão: todos os grandes serviços terão uma queda de braço para ser a plataforma não descartável, “padrão”, para o maior número possível de assinantes.
De fato, uma guerra de streaming.