Alternativas ao Google
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Tecnologia

Existe vida além do Google: conheça três alternativas ao buscador mais famoso do mundo

O Google detém 92,2% do mercado global de buscas, mas há uma nova geração de empresas dispostas a contestar esse reinado mirando o calcanhar de Aquiles do Google: a privacidade do usuário

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É uma questão estatística: você provavelmente usa o Google para fazer buscas na web. Segundo o StatCounter, o Google detém 92,2% do mercado global de buscas. Na América do Sul, a fatia é ainda maior, de 97,25% — praticamente o bolo inteiro. Tal cenário desestimula a competição. Apesar disso, há uma nova geração de empresas dispostas a contestar o reinado do Google.

O domínio do Google sobre a web, derivado do seu — reconheçamos — ótimo buscador, não ocorreu apenas pela qualidade técnica. Não é de hoje que a empresa é acusada de abusar do seu poder de mercado, em especial nos seus verticais, como o Google Shopping, e na sua principal fonte de renda, os anúncios personalizados, para manter uma posição de liderança absoluta.

Vem crescendo a expectativa e as ações de órgãos reguladores a fim de limitar o poder do Google e restabelecer a competitividade no setor. Seria algo bem-vindo. Alguns empreendedores e desenvolvedores, porém, não quiseram esperar condições melhores para confrontar um incumbente tão poderoso. Pode parecer novidade, mas já existem alternativas ao Google, e algumas delas muito interessantes.

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A principal delas é o DuckDuckGo (DDG). Sim, o nome é engraçado, eles têm um pato como mascote e uma olhada no site nos remete ao Google de uma década atrás — o que não é, necessariamente, um ponto negativo.

Alguns anos atrás, o DuckDuckGo detectou precocemente um espaço para se posicionar de maneira assertiva contra o Google: a privacidade do usuário. O DDG faz dinheiro da mesma forma que o seu grande rival, ou seja, veiculando anúncios, mas não leva em conta dados pessoais dos usuários — o serviço sequer coleta tais dados. Os anúncios são veiculados com base apenas nos termos pesquisados para serem escolhidos.

A Alphabet, holding do Google, sempre que pode alega que a coleta maciça de dados dos usuários é um imperativo para devolver “anúncios relevantes”. O DDG é a prova concreta de que existem outros caminhos possíveis. A empresa opera no azul desde 2014 e, atualmente, gera receita de US$ 100 milhões por ano. Durante a pandemia, o volume de buscas cresceu 55% e ele já é o segundo buscador mais popular em diversos mercados importantes, incluindo os Estados Unidos.

Privacidade é o calcanhar de Aquiles do Google. Embora não seja um ponto tão fraco a ponto de pôr em risco sua hegemonia, não é por acaso que seus rivais miram sempre ali para se posicionarem.

Além do DuckDuckGo, outros dois buscadores surgiram recentemente com a mesma proposta: Brave Search e Neeva.

O Brave Search, disponível em “beta”, está sendo desenvolvido pelos criadores do navegador web de mesmo nome. Trata-se de “uma nova opção independente para buscas [na web] que oferece privacidade sem igual”, o que significa que eles têm um índice próprio da web (é comum buscadores alternativos “alugarem” índices do Google ou do Bing, da Microsoft) e não rastreiam nem coletam dados dos usuários.

Mesmo ainda em fase de testes, os resultados do Brave agradam — mais nas consultas em inglês, mas ele também é usável em português e espanhol. No lado do negócio, o Brave espera ganhar dinheiro de duas formas com seu buscador: como uma assinatura paga, livre de anúncios, e um plano gratuito, com anúncios livres de dados pessoais. Hoje, 32 milhões de pessoas usam o navegador web do Brave. Quando for lançado oficialmente, o Brave Search será padrão no navegador da marca.

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O mais recente rival do Google foi lançado esta semana, por ora apenas nos Estados Unidos. Chama-se Neeva, e talvez passasse batido não fosse pelo currículo dos dois cofundadores, Sridhar Ramaswamy e Vivek Raghunathan, ambos ex-executivos de longa data do… Google.

Segundo a Fast Company, além dos cofundadores, cerca de 30% dos 60 funcionários do Neeva também vieram do Google, entre eles “estrelas” do setor como Udi Manber (ex-líder do buscador do Google) e Darin Fisher (um dos criadores do navegador Chrome).

A proposta do Neeva é — você adivinhou — ser um buscador com foco em privacidade, só que aqui não há qualquer tipo de publicidade. O Neeva é um buscador por assinatura: custa US$ 4,95 por mês, com três meses de degustação. A empresa pretende compartilhar sua receita com o ecossistema, reservando 20% para retribuir parceiros que forneçam conteúdo para as respostas diretas do buscador — como o Google faz, só que sem pagar nada a ninguém.

Em seu comunicado de lançamento, o Neeva bate em outro ponto cada vez mais sensível do Google: a degradação das páginas de resultados das buscas. “Até 40% dos resultados de buscas nos principais buscadores são anúncios”, diz o texto.

A pressão de Wall Street para que a Alphabet continue trazendo retornos impressionantes trimestre após trimestre está diretamente relacionada ao aumento da quantidade de anúncios do Google, um problema que se agrava quanto menor o tamanho da tela e que se torna urgente quando a maioria das buscas é feita nas telas diminutas dos celulares.

Nenhum desses buscadores já pode ser encarado como uma ameaça real ao incumbente, ainda que elas entreguem uma experiência satisfatória. (Faz mais de cinco anos que uso o DuckDuckGo como buscador padrão, por exemplo.) O Google é “top of mind” e, relembremos o dado lá do início, usado por 9 em cada 10 pessoas conectadas à internet.

Para muita gente, seu domínio é tamanho que já configuraria uma espécie de monopólio. Isso limita o potencial de crescimento dos concorrentes e talvez a única saída para um ambiente de negócios mais saudável seja mesmo uma mistura de regulação com processos antitruste. Quando (e se) isso acontecer, DuckDuckGo, Brave, Neeva e outras empresas estarão prontas para mostrar a mais gente que existe vida além do Google.

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