co-fundadores da startup Alice
Guilherme Azevedo, Matheus Moraes e André Florence, co-fundadores da Alice. Foto: Paola Vespa/Alice/Divulgação
Tecnologia

Health tech Alice propõe que o plano de saúde vá além do cuidado imediato

A startup foi lançada neste ano com um aporte de US$ 16 milhões dos fundadores com os fundos latino-americanos Kaszek, Canary e Maya Capital

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A pandemia do coronavírus impulsionou o surgimento e crescimento de startups de saúde brasileiras: já são 542 neste ano, um aumento de 118% em relação a 2018, segundo dados do último Distrito Health tech Report. A liberação da telemedicina no Brasil, feita por meio de lei em razão da pandemia e ainda carente de regulamentação específica pelo Conselho Federal de Medicina, colaborou e muito para o segmento. “A COVID-19 acelerou o processo digital de atendimento de forma irreversível”, diz o médico Cesar Ferreira, funcionário da health tech Alice ao LABS. A startup foi lançada em junho deste ano, em meio à pandemia, com um aporte de US$ 16 milhões dos fundadores com os fundos latino-americanos Kaszek, Canary e Maya Capital, depois de 15 meses incubada.

A startup foi lançada em junho deste ano, em meio à pandemia, com um aporte de US$ 16 milhões dos fundadores André Florence e Matheus Moraes (ex-diretor financeiro da 99 e ex-presidente da 99), e Guilherme Azevedo (co-fundador da startup Dr Consulta, além dos fundos latino-americanos Kaszek, Canary e Maya Capital, depois de 15 meses incubada.

A Alice, que tem 80 pessoas no time e pretende contratar mais 20 até o fim deste ano, oferece o primeiro plano de saúde de uma health tech registrado na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e tem a missão de tornar as pessoas mais saudáveis por meio da tecnologia. 

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A ideia é usar a tecnologia para fazer um “cuidado coordenado”, ou seja, os dados de saúde do paciente são concentrados no app da Alice, integrado a um plano de saúde individual. Dessa maneira as operações de hospitais, médicos e time de saúde são integradas dentro do app. Ao entrar no plano, o usuário passa por uma “imersão”, na qual o médico o conhece. 

“Na imersão a gente entende quem é a pessoa e quais os objetivos de saúde dela para ser mais saudável. Começamos a construir o histórico de saúde da pessoa e quando ela tem um resfriado, por exemplo, ela entra em contato de novo e já temos essa informação prévia”, explica Ferreira, que é médico da Alice há nove meses.

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“Se eu fosse me perguntar onde estão meus exames. Onde estão os encaminhamentos que eu já fiz? Quando foi a última cirurgia que eu fiz?Bom, a gente não sabe responder”, complementa Ricardo Lázaro (Jack), CTO da Alice. Isso porque, segundo ele, no Brasil, o mundo da medicina não tem interoperacionalidade.

Ricardo Lázaro (Jack), Alice’s CTO e Cesar Ferreira, médico da Alice. Fotos: Alice/Divulgação

O que a startup propõe é uma solução de tecnologia com essas informações médicas consolidadas, além da rede credenciada de assistência à saúde privada, que planos de saúde tradicionalmente oferecem. A health tech tem parceria com laboratórios e hospitais, como Fleury e Oswaldo Cruz, na cidade de São Paulo.

Lázaro ressalta que o objetivo da Alice não é a redução de custo, mas que a redução de custo é consequência de o paciente ficar menos doente. 

Como funciona o app da Alice?

Imagem: Reprodução/Alice.

Ferreira explica que uma usuária entrou em contato com ele por causa de uma dor abdominal. O atendimento foi iniciado pelo aplicativo da Alice. “Como era uma dor diferente, transformamos isso em uma videoconferência com médico e enfermeiro. Já que eu tenho o histórico dela eu consigo enxergar o que ela tinha previamente e ela já tinha tido essa dor umas três vezes. Solicitei alguns exames e agendei uma consulta presencial”, explica. 

Os resultados dos exames, quando prontos, ficarão disponíveis no aplicativo. “Vamos supor que viesse alterado o ultrassom, eu já conectaria com nossa rede de especialistas porque provavelmente ela teria que operar. E já internaria em nossa rede credenciada do Oswaldo Cruz para fazer uma cirurgia com o médico da nossa comunidade. O seguimento seria pelo aplicativo, para observamos o pós-operatório”, afirma. 

A Alice não divulga número de membros. A empresa adota uma remuneração com base no valor entregue aos usuários. “No Oswaldo Cruz, por exemplo, temos um modelo de remuneração que é fechado por pacotes. Pelo contrato com o hospital, a gente remunera o pagamento da cirurgia já com uma lógica fechada, não a lógica do fee-for-service. E a gente vai monitorar a evolução dos nossos usuários para ver a evolução da qualidade de vida ou resultado em saúde, para evoluir para uma remuneração proporcional ao resultado de saúde que entrega para a pessoa”, explica Ferreira. 

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Um novo modelo centrado na atenção primária, em um médico de família, e também um novo modelo de remuneração, que deixe para trás a lógica do volume de procedimentos – o chamado fee-for-service citado por Ferreira, ou conta aberta, predominante hoje no Brasil – é uma busca já antiga entre os especialistas em planos de saúde no país. A ideia geral, como já explicada pela equipe da Alice, é valorizar o resultado final do atendimento.

Inspirada em sistemas de saúde como o do Reino Unido, por exemplo, a adoção de um modelo baseado no conceito da atenção primária implicaria no acompanhamento dos beneficiários dos planos de saúde por um especialista na área, ou seja, por um médico de família. O usuário não passaria por um especialista sem a indicação desse profissional para isso.

Ao mesmo tempo, esse mesmo médico de família não seria mais remunerado pelo volume de consultas, exames e procedimentos que solicita, mas de acordo com o comportamento da saúde dos pacientes tratados por ele. Se a experiência da Alice, em conjunto com outras instituições e serviços de saúde parceiros, der certo, pode não só fazer a startup crescer, como fazer dela um novo modelo para o setor no país.

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