Rodrigo Russano Dias, gerente de marca e relações públicas Nimo TV no Brasil
Rodrigo Russano Dias, gerente de marca e relações públicas Nimo TV no Brasil. Foto: Divulgação.
Tecnologia

Nimo TV investe em eventos exclusivos de eSports para ir além do streaming de games no celular

Por que? 73% dos usuários assistem a campeonatos de jogos de PC, ainda que só possuam smartphones. Com 15 milhões de usuários no Brasil, é aqui que a briga com outras plataformas vai acontecer

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Se a Twitch se tornou uma plataforma de streaming de games bem sucedida com foco em PC e agora está apostando também nos dispositivos móveis, a chinesa Nimo TV está fazendo o caminho inverso. Criada pela Huya – que junto com a DouYu são as maiores plataformas de streaming de jogos da China–, a Nimo nasceu mobile-first, permitindo a transmissão de sessões ao vivo diretamente do celular para o aplicativo da Nimo. Agora, a empresa quer ampliar o ecossistema para a comunidade gamer que faz streaming pelo computador.

A plataforma está em operação no Brasil desde 2018 e cresceu 25% globalmente no ano passado. A Nimo TV também tem operações no México e na Argentina, mas só o Brasil representa mais da metade (60%) do público da plataforma, com cerca de 15 milhões de usuários únicos ativos.

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“O Brasil é o maior responsável pelo crescimento da Nimo TV, é a maior audiência da Nimo no mundo inteiro. A perspectiva da Huya foi justamente expandir para outros países, mas como esse nome era muito complicado, eles criaram a Nimo TV para esses mercados emergentes, principalmente para o Brasil“, explica Rodrigo Russano Dias, gerente de marca e relações públicas Nimo TV no Brasil, em entrevista ao LABS.

A Nimo TV surfou a onda do Free Fire, o grande sucesso da Garena, para acelerar sua entrada no segmento mobile no Brasil. O jogo virou carro-chefe da Nimo e levou todas as categorias que disputou no Prêmio eSports Brasil. “O crescimento de 25% começa pela pandemia, porque mais pessoas em casa passaram a consumir mais conteúdo de todas as formas diferentes, e o live-streaming foi um dos mercados que mais se beneficiou dessa fase. O crescimento do Free Fire aliado ao crescimento da plataforma nesse período culminaram em uma combinação matadora de audiência para nós”, conta Dias. Segundo levantamento do App Annie, o Free Fire foi o jogo mais baixado em todo o mundo em 2020, e também aparece em primeiro no Brasil.

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A Nimo também aumentou sua operação brasileira em 2020 com a contratação de funcionários em São Paulo. “Não é só games que a Nimo trata, temos conteúdo que vai muito mais para o lado de do it yourself, desenhos, cosplay, músicas. Então crescemos com essa equipe responsável por buscar talentos novos e também eSports.”

O crescimento de 2020 também está aliado aos 200 eventos que a Nimo promoveu. Foi somente depois de dois anos de operação no país que a empresa desenvolveu uma estrutura de Esports para trazer eventos profissionais e amadores. 

“Esse tipo de evento é também o que mais prende o pessoal. Além disso, desenvolvemos algumas parcerias como a LBR (um dos principais campeonatos amadores de Free Fire), e com a Copa das Aldeias de Free Fire (campeonato de Free Fire exclusivo entre as comunidades indígenas do Brasil), acho que o conjunto desses fatores ajudaram muito nosso crescimento em 2020.”

As parcerias são, de fato, a cereja do bolo da Nimo TV. Recentemente, a empresa anunciou uma parceria exclusiva com a Riot Games para transmissão dos torneios de eSports dos games da marca este ano e da abertura de canais oficiais na plataforma com foco em LOL (League of Legends), Teamfight Tactics, VALORANT e em seu último lançamento, League of Legends: Wild Rift.

“A Nimo nasceu com a proposta mobile, mas evidentemente a gente precisava entrar em outros mercados, em outras frentes, principalmente de eSports. Então a gente vem muito forte com LOL, VALORANT, Counter-Strike e a tendência é escalar isso, em especial em relação a PC”, comenta Dias.

Como a Nimo TV funciona

A Nimo prospecta streamers de destaque e fecha contratos de exclusividade para transmissões ao vivo. Um contrato comum da Nimo prevê um número determinado de horas transmitidas por semana ou mês e participações em eventos organizados ou apoiados pela empresa.

Há streamers individuais e equipes profissionais, gerenciadas como empresas e com jogadores dedicados integralmente ao ofício. Esse é o caso da LOUD (equipe de jogadores de Free Fire fundada em fevereiro de 2019 pelo streamer Bruno PlayHard e o empresário Jean Ortega). Os valores pagos pela Nimo são fixos, mas não são divulgados.

Além dessa fonte de receita, streamers na Nimo também recebem itens virtuais dos espectadores que podem ser trocados por dinheiro de verdade, o que dá uma chance aos aspirantes de faturarem sem depender do modelo centralizado, de pagamento direto da plataforma.

“A gente oferece muitas vantagens para quem está começando a ser streamer. Temos um programa em que a pessoa tem uma série de objetivos traçados. Ela não precisa ser contratada da Nimo, mas se atingir essas metas, que são bem realistas, o streamer tem ganhos por mês e vai crescendo, é uma gamificação bem legal. Vemos quem está se dedicando à plataforma e vamos recompensando, e quem sabe em algum momento o streamer se destaque para conseguir um contrato com a empresa”. 

Hoje, o time de streamers exclusivos da Nimo TV conta com El Gato, Mucalol, Keilemeg, Piuzinho, Tutsz e iLoveWinter, streamers que chegam a ter 20 mil pessoas assistindo-os a cada sessão. Contudo, segundo Dias, a Nimo não está só atrás de grandes nomes para contratos, mas também de performance e de potencial.

Um feedback que temos da comunidade streamer é que a Nimo é uma plataforma muito aberta para quem não tem nome nenhum e está começando agora. Hoje temos mais de 100 streamers com contrato exclusividade, de diferentes jogos e plataformas, e estamos mudando a vida de muita gente

Rodrigo Russano Dias, gerente de marca e relações públicas Nimo TV no Brasil

Nimo TV contra Twitch

A Nimo tem grandes rivais competindo pelo mesmo mercado de streamers. Em março de 2021, a Twitch teve seu melhor mês da história com um crescimento anual de 105%, segundo relatório da consultoria StreamElements, que monitora o volume de horas assistidas em plataformas de streaming de games. Twitch atingiu um novo recorde, de mais de 2.055 bilhões de horas assistidas.

A plataforma que pertence à Amazon também tem no Brasil um dos seus principais mercados. O brasileiro Gaulês foi o terceiro streamer com mais horas assistidas no mundo em março pela plataforma, atrás apenas do francês-canadense xQcOW e o americano Ludwig.

Quem joga o que no Brasil, e por que o potencial da Nimo por aqui é tão grande

A recém-publicada Pesquisa Game Brasil 2021, feita pelo Sioux Group, em parceria com Go Gamers, Blend New Research e a faculdade ESPM, mostra que a maioria dos brasileiros joga algum tipo de game, e que quase metade desses jogadores vem da classe média e da base da pirâmide social. Brasileiros de classes mais baixas não têm recursos para comprar um computador gamer, quiçá consoles, o que acaba elevando o potencial do mobile no país.

Um levantamento feito pela própria Nimo em fevereiro mostra que 73% dos gamers preferem jogar entre amigos, enquanto 27% não se importam de jogar com pessoas desconhecidas. 

A escolha do jogo também está de acordo com o público que respondeu preferir jogar em grupo: 78% gostam mais de jogos multiplayers (com dois ou mais jogadores) contra 22% que preferem single player (com apenas um jogador).

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“Não que jogo multiplayer já não fosse super popular, mas na pandemia o jogo foi talvez o máximo de relação que algumas pessoas (as que respeitaram o lockdown) tiveram para falar com amigos e familiares,” afirma Dias.

Ele conta que 73% dos 9 mil gamers ouvidos pela Nimo disseram que acompanham eventos de jogos de PC, mesmo que o único aparelho que tenham para consumir seja o celular. 

“Há um potencial enorme para esse tipo de público também começar a consumir outras plataformas. Não é que a gente quer sair do mobile, muito pelo contrário, mobile para a gente é importantíssimo. Mas como plataforma, como produto, queremos expandir para outras possibilidades, até mesmo consoles, que a gente fala pouco sobre isso no Brasil justamente porque o acesso é muito caro.”

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