“Conjunto de opiniões, gostos, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos”, esta é a definição da palavra “moda” no dicionário e não poderia ser diferente, a principal função da indústria da moda é proporcionar pertencimento e representatividade para os mais diferentes perfis e ideias. Principalmente para os millennials, roupas são muito mais do que simples pedaços de tecido, são uma forma expor ao mundo como cada indíviduo gostaria de ser visto e fazendo com que as marcas tornam-se verdadeiras comunidades que reúnem clientes com ideias e causas similares entre si.
Mas ainda que a definição acima seja perfeitamente aplicável para explicar o sentido de moda, se este texto houvesse começado relacionando a mesma definição ao termo “redes sociais”, possivelmente isso não teria causado nenhum tipo de estranheza, certo? E não é díficil entender a razão disto, as plataformas sociais nada mais são do que uma forma digital de conectar pessoas de acordo com suas opiniões, gostos e estilos de vida, proporcionando a elas a sensação de pertencimento e oferecendo espaço para que as mais diferentes ideias e perfis sejam representados.
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Moda e redes sociais possuem muito em comum em todos os sentidos, desde as suas missões até a forma de utilizarem a exposição visual como forma de identificação coletiva. Não à toa, a indústria da moda foi a primeira a entender o potencial das redes sociais como forma de criar uma identidade e linguagem com seu público, assim como escalar resultados e vendas. E há cerca de 10 anos atrás, o norte americano Kevin Systrom e o brasileiro Mike Krieger lançavam a plataforma ideal para fazer com que a junção destas missões e objetivos acontecesse na prática: o Instagram.
A plataforma que possui como função principal o compartilhamento de fotos e vídeos em poucos anos livrou-se do status de “apenas mais uma entre tantas” para tornar-se uma das maiores redes sociais do mundo.
Indo além do óbvio potencial de engajamento do Instagram, a rede social remodelou também o comportamento de compra online, principalmente quando o assunto é moda. Anteriormente, ao falarmos de estratégias de marketing digital para grandes varejistas, era comum considerarmos formatos de anúncios como Google Search e Google Shopping como as principais ferramentas para gerar vendas, enquanto as redes sociais funcionavam como apoio para gerar interesse. Mas esse jogo já mudou completamente.
Hoje, o estímulo visual das publicações e o impulso de compra andam juntos e a possibilidade de começar o processo de compra dentro da própria plataforma é a maior prova disso.
Da alta costura à fast-fashion

Para o mercado de alta costura a presença nas redes sociais representou uma quebra de paradigmas, trazendo para um diálogo aberto marcas que sempre foram colocadas em um pedestal e se relacionaram à distância com seu público. “O mundo da Chanel está se abrindo para os seguidores, seja através de conversas casuais ao vivo entre dois embaixadores da marca, fotos de uma festa de lançamento ou imagens dos bastidores dos shows. Isso não exclui fotos de produtos ou materiais oficiais de campanhas: tudo é reunido para transmitir a filosofia da marca da maneira mais direta e também é muito eficiente na modernização da imagem da marca para o alcance de um público-alvo jovem”, revelaram os representantes da marca Andi Bei, Eleonore Bichot, Henrik Johansen, Livia Lima, Mateusz Majka e Max Dante em artigo sobre a estratégia da Chanel no Instagram.
Enquanto isso, as estratégias das marcas de fast-fashion também foram colocadas à prova e precisaram reinventar-se para não perderem mercado, principalmente em países emergentes como os latino-americanos, em que a moda urbana é um aspecto muito importante do varejo.
E em meio a esta revolução, as marcas que souberam ver o potencial das redes sociais além de apenas mais um canal de comunicação, encarando a solução como uma oportunidade de vendas até chegar ao atual status de um verdadeiro marketplace, saíram na frente. Entre elas, a C&A é um grande exemplo.
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Com uma estratégia consistente de produção local no Brasil, a C&A conseguiu oferecer aos clientes brasileiros fast-fashion de verdade: troca constante de coleções nas lojas com preços acessíveis, considerando que produzir as peças já no país reduz consideravelmente os custos e dá agilidade ao processo, fazendo com que a rede holandesa se tornasse uma das maiores varejistas de moda no Brasil.

Presente no país desde os anos 70, a marca sentiu diretamente o impacto da transformação do comportamento do consumidor de um mundo offline para o online e agora é uma das grandes referências em estratégias omnichannel no segmento.
Em entrevista ao LABS, a C&A detalhou a visão da marca sobre essas mudanças do mercado e como as redes sociais mudaram completamente as estratégias da varejista.
LABS: Com mais de 30 anos de atuação no mercado brasileiro, como a C&A percebeu a mudança de comportamento do consumidor brasileiro com a revolução digital? Como as redes sociais influenciaram neste processo?
C&A: A C&A acredita no importante papel das redes sociais e dos influenciadores digitais e na forma com que eles conseguem inspirar as pessoas e suas clientes, além de contribuir ativamente para a imagem da marca. Por meio das redes sociais é possível ainda ter um contato mais próximo com o consumidor, analisar como a empresa está sendo vista pelo público, o engajamento dos temas postados e até ter feedbacks em tempo real.
Mas quando pensamos na nova geração de consumidores, que estão cada vez mais conectados e informados sobre as principais tendências mundiais, a C&A entende ainda que este novo consumidor é omni, assim como a sua forma de consumo.
Ou seja, além estar online e nas redes sociais ininterruptamente, o novo consumidor valoriza e procura por empresas que entendam a importância de integrar os seus canais (online e offline).
Neste contexto, a estratégia omnichannel da C&A foi pensada para que os clientes, além de terem contato com a marca tanto por meio da loja física como por meio do nosso e-commerce, tenham a opção de escolher o meio de sua preferência para realizar a compra. Além disso, podem também realizá-la de forma integrada nos dois ambientes, por meio do Clique & Retire – serviço que permite que o cliente realize a compra no E-commerce e retire-a em uma das lojas físicas da C&A – e outras opções omni que estamos pilotando ou já escalando para nossas lojas e base de clientes online.
LABS: As redes sociais hoje são uma fonte importante de vendas para a marca? Como vocês definem a mudança de importância das redes sociais para a C&A nos últimos anos?
C&A: Atualmente, as redes sociais podem ser comparadas a uma vitrine de loja, onde o consumidor pode ter acesso as novidades de cada marca onde quer que ele esteja. Com isso, os clientes cada vez mais consultam os perfis de marcas e de influenciadoras digitais para ter acesso as novidades do mundo da moda.
Dentro desse cenário, a C&A e diversas marcas vêm apostando em seus canais oficiais e em parcerias com influenciadoras digitais com o intuito de estreitar o relacionamento da marca com o consumidor, impactando-o positivamente com os seus valores e coleções. Este é um movimento natural do mercado e que faz parte da estratégia de marketing da C&A.

LABS: Na indústria da moda, fala-se muito sobre marcas que vão além de roupas, mas tenham alma e personalidade. Vocês acreditam que as redes sociais possam ser um importante canal para construção desta personalidade de marca que tem atraído cada dia mais consumidores a vestirem causas enquanto escolhem suas roupas?
C&A: Acreditamos que, para uma marca ser bem-sucedida, é necessário ter uma personalidade definida e um perfil traçado, sem acompanhar apenas as tendências de mercado para atrair consumidores. Por isso, antes mesmo da criação das redes sociais, a C&A já via a moda como uma plataforma de expressão em que as pessoas devem se sentir livres para se expressarem para o mundo como desejarem.
Com isso, a C&A possui diversas iniciativas para tornar o mercado da moda mais representativo e inclusivo – tendência que vem sendo seguida por todas as marcas, o que é um ganho não só para as empresas, mas também para a sociedade como um todo. As redes sociais aumentaram a aproximação entre as marcas e consumidores, pois o diálogo se tornou mais prático, rápido e transparente. Por meio de comentários e interações nas páginas oficiais, é possível sentir se estamos no caminho certo e fazer ajustes, caso necessário.
LABS: A presença offline da marca é uma das principais características da C&A, como vocês veem a participação das redes sociais no processo de compra mesmo em transações realizadas em lojas físicas?
C&A: Atualmente, as pessoas consomem moda de diversas formas, por meio das redes sociais, perfis de inspirações, e-commerce e lojas físicas das suas marcas preferidas. Com isso, as clientes vão para as nossas lojas com um propósito mais definido, pois procuram por produtos semelhantes aos que visualizaram anteriormente nas redes sociais e e-commerce. Na C&A, por exemplo, cerca de 80% das clientes que entram em nossas lojas físicas alegam que já fizeram alguma pesquisa prévia no e-commerce da marca. A C&A conta ainda com uma estratégia omnichannel responsável por integrar seus canais online e offline da empresa.