Tecnologia

Plataformas de streaming de vídeo brigam em duas frentes na América Latina

O mercado da região é dividido entre países de língua espanhola e portuguesa; ambos compartilham semelhanças

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A guerra das plataformas de streaming está a pleno vapor e a América Latina está se transformando em um de seus principais campos de batalha. As maiores empresas de mídia digital estão mais atentas ao mercado regional devido ao seu tamanho e potencial de crescimento rápido. As assinaturas de streaming de vídeo na América Latina atingirão 51,1 milhões até 2024, de acordo com previsões da Digital TV Research – 60% acima do registrado no final de 2019.

Um número crescente de serviços de streaming de vídeo apoiados por gigantes da tecnologia e da mídia está sendo lançado na região, todos de olho em uma fatia do mercado que até agora era sinônimo de Netflix. Em setembro do ano passado, o Amazon Prime Video desembarcou no Brasil, a maior base de clientes da região. Dois meses depois, a Apple TV+ fez a mudança e a Disney+ deve fazer o mesmo no fim de 2020. Além disso, a ViacomCBS anunciou recentemente a chegada em março de seu serviço de streaming gratuito Pluto TV em países da América Latina de língua espanhola.

Todos enfrentam redes de TV locais, como Globo (Brasil) e Televisa (México), tradicionalmente os principais produtores de conteúdo da região, alguns dos quais já introduziram seus próprios serviços de streaming para competir com as forças dominantes globais.

A primeira metade da década de 2020 provavelmente será um período de mais investimento em conteúdo local pelas principais plataformas. Netflix, Amazon Prime Video, Disney+, Apple TV+ e o YouTube Premium do Google e o futuro HBO Max provavelmente mergulharão e expandirão seus portfólios produzidos localmente, com um crescente menu de séries, filmes e documentários em espanhol ou português. Os titulares nacionais aumentarão seus orçamentos para streaming ou buscarão parcerias e acordos de licenciamento para seu conteúdo.

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Porém, existem barreiras ao crescimento no mercado latino-americano de streaming, e elas podem vir da penetração e velocidade relativamente baixas da banda larga. O tráfego de dados móveis parece promissor, mas os planos pré-pagos, embora em declínio, ainda são maioria na região, algo que limita o consumo de dados. Poucas assinaturas de linha fixa fornece conexões mais rápidas que 4 Mbps, o requisito mínimo para transmitir vídeo em alta definição.

Netflix

A Netflix lutará para manter sua posição dominante, com 29 milhões de assinantes em toda a região, quase o dobro do que tinha em 2017. Os preços serão uma arma fundamental nessa luta. O Amazon Prime Video e o Apple+ chegaram ao Brasil cobrando R$ 9,90 mensais a seus clientes, enquanto a assinatura básica da Netflix (que não oferece vídeos em HD) custa R$ 21,90 no país. Os preços dos participantes certamente aumentarão, mas por enquanto o baixo custo será a principal forma de atrair clientes da Netflix.

A Netflix foi na direção oposta e elevou seus preços no ano passado em 20% na Argentina, 18,3% no México e 10,1% no Brasil. Mesmo assim, em torno de US$ 5 a 8, os tíquetes médios de assinatura mensal nesses países ainda estão entre as mais baratas do mundo.

Embora a Netflix não revele o número de assinantes em cada país, acredita-se que seu desempenho na América Latina seja impulsionado, sobretudo, por sua presença no Brasil e no México, os maiores mercados. E, apesar do crescimento na região, a América Latina é o local onde os assinantes geram a menor receita para a Netflix: US$ 8,21 por mês, em média, por assinante. Nos Estados Unidos e no Canadá, cada assinante gera uma renda mensal média de US$ 12,36.

Quando a Netflix abriu dados sobre mercados internacionais, analistas disseram que a plataforma de streaming pretendia mostrar que, apesar do cenário mais competitivo encontrado nos Estados Unidos, onde sua base de assinantes diminuiu, ainda há muito potencial de crescimento em outros países.

Ainda de acordo com a Netflix, sua expansão internacional pode ser creditada à boa aceitação de projetos e séries que não sejam em inglês. O maior exemplo é a série espanhola La Casa de Papel, que se tornou muito popular na América Latina.

Amazon

A estratégia da Amazon para o Prime Video é semelhante. O diretor internacional da Amazon Originals, James Farrell, diz: “Sabemos que o público do Prime Video na América Latina está ansioso por programação local com as melhores vozes. Além de agradar o público local, estamos animados em poder levar o trabalho de escritores, diretores, produtores e atores talentosos por trás de cada série desses países a um público internacional de mais de 100 milhões de assinantes Prime em todo o mundo”.

A América Latina pode ser dividida em mercados de língua espanhola e portuguesa, com as maiores plataformas americanas operando nos dois lados da divisão, e cada um dos serviços locais oferecendo planos para apenas uma delas.

Língua espanhola

O Blim TV é um serviço de streaming controlado pela rede  de televisão mexicana Televisa, que opera em vários países de língua espanhola, incluindo os maiores mercados da região como México, Colômbia, Chile e Argentina. O mesmo ocorre com a Movistar Play, cujo conteúdo pode ser transmitido para assinantes de sua matriz de telecomunicações, de propriedade da Telefónica da Espanha.

Ambos já enfrentam os gigantes globais Netflix, Amazon Prime Video e Apple+, bem como Youtube Premium e mais plataformas de nicho como o Crunchyroll, que se concentra em anime e mangá, e agregadores de conteúdo de streaming pay-per-view como Google Play Movies e HBO Go.

Operadores menores completam o cenário. Dois exemplos são o estatal RTVC Play, da Colômbia, especializado em programas gratuitos de cunho educacativo e cultural, e o Cinepolis Klic, controlado pela cadeia mexicana de cinemas e que oferece conteúdo pago.

Brasil

O cenário é bastante similar no Brasil, o maior mercado da América Latina, onde as mesmas marcas globais operam ao lado da Globoplay e Telecine Play, serviços de streaming sob demanda operados pela líder de mídia local, TV Globo. O Claro Video Play, de propriedade do grupo mexicano de telecomunicações América Móvil, é uma exceção: oferece sua plataforma a clientes no Brasil e nos vizinhos de língua espanhola.

Os últimos dos cinco grandes

Todos os olhos estão no iminente lançamento latino-americano do Disney +, previsto para outubro de 2020 em diante, embora a empresa não tenha divulgado data oficial. Para atrair novos clientes, a Disney está agregando Hulu e ESPN+ à Disney+ no mercado dos EUA, e o mesmo poderia acontecer nos mercados internacionais. O HBO Max, o próximo serviço de streaming que reunirá conteúdo produzido pelas afiliadas da WarnerMedia, ainda não divulgou seus planos de expansão internacional.