Há apenas alguns anos, a venda de CD’s comandava a indústria da música. A distribuição física de música definia quais seriam os artistas que experimentariam a glória de alavancar suas carreiras após receberem os tão sonhados discos de ouro ou platina. Até que uma revolução mudou completamente o curso do mercado.
Os streamings de música surgiram para fazer o que até então parecia impossível: democratizar a distribuição musical e aposentar os CD’s. Mas, claro, não sem resistência por parte das gravadoras e até mesmo de artistas mundialmente renomados, como Taylor Swift, que posicionou-se contra o modelo de negócio assim que os streamings ganharam popularidade.
A cantora norte-americana considerava a remuneração oferecida injusta, principalmente para artistas independentes. “Música é arte, e arte é importante e rara. Coisas raras e importantes são valiosas. Coisas valiosas devem ser pagas. É minha opinião que a música não deve ser gratuita”, disse a cantora em um artigo para o The Wall Street Journal em 2014.

Mas foi impossível conter a evolução do mercado. As gravadoras precisaram se reinventar para se tornarem rentáveis em um cenário completamente novo e digital. Enquanto isso, até mesmo grandes artistas como Taylor Swift foram obrigados a aceitar uma mudança natural no comportamento de seus fãs, a cantora voltou a disponibilizar suas músicas nestas plataformas e recentemente alcançou a marca de mais de 1 bilhão de reproduções do seu mais novo álbum “Lover” no Spotify.
Esta não é nem de longe a única reviravolta que este mercado terá de enfrentar, até porque um novo capítulo está prestes a ser escrito. Durante os últimos anos, o Spotify conquistou a liderança mundial apostando no sucesso da plataforma em mercados emergentes como a América Latina, onde a plataforma alcançou o ápice de sua audiência conquistando metrópoles como a Cidade do México. A capital mexicana é a cidade com o maior número de assinantes do Spotify mundialmente. Mas manter essa liderança pode deixar de ser tão confortável em breve.
O potencial dos streamings para a indústria musical não está passando despercebido de outros gigantes e, por mais que o Spotify tenha superado de forma surpreendente os números da Apple Music, um novo desafio chamado Amazon Music está prestes a tornar-se um grande obstáculo – sem contar o Deezer, que também está em expansão na região.
Amazon Music, o “azarão” do mercado de streaming
Nem a Apple e nem o Spotify, o streaming de música que mais cresce a nível global é a Amazon Music. Enquanto o Spotify comemora 100 milhões de assinantes, com um crescimento de 25% no ano passado, apostando em estratégias focadas em países emergentes para aumentar seu alcance, inclusive com o lançamento de uma versão light do app para regiões com conexões instáveis de internet, o Amazon Music está em pleno ritmo escalada dos seus resultados.
A Amazon Music é o azarão (no mercado musical), as pessoas não estão prestando muita atenção a ele (em relação a Apple e Spotify), mas o produto tem sido extremamente eficiente.
Mark Mulligan, analista da Midia Research em entrevista ao Financial Times.
Contando com a inclusão da plataforma musical na assinatura do Amazon Prime e a conexão com a Alexa, assistente virtual da marca, o Amazon Music alcançou um crescimento de 70% no número de assinantes no último ano, tornando-se significativo no mercado mundial de streaming pela primeira vez desde o lançamento em 2016, de acordo com informações do Financial Times.
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Em uma jogada similar a do Spotify, que encontrou nos mercados emergentes a resposta para escalar rapidamente, o Amazon Music também aposta na estratégia de preencher um gap do mercado: atender ao público maduro, fugindo da disputa pela preferência dos jovens na qual a grande batalha entre a empresa sueca e o Apple Music já acontece.
Em uma entrevista para o Financial Times, o chefe da Amazon Music, Steve Boom, explica o ponto de vista da empresa e o que os levou a escolher essa abordagem. “Não estamos lutando pelos mesmos clientes que todos os demais, para que o setor atinja todo o seu potencial, não podemos apenas olhar para jovens de 15 a 22 anos”, disse ele.
Amazon Music versus Spotify: a batalha pela América Latina
Tradicionalmente conhecido como um dos principais mercados para o Spotify a nível global, a América Latina tornou-se não apenas uma fonte de assinantes, mas com a ascensão do reggeaton na indústria mundial de música, também um cenário aquecido para novos artistas.
“A música latina sempre esteve presente, mas agora o universo dos streamings a transformaram em algo global”, revelou Inigo Zabala, chief executive da Warner Music na América Latina em entrevista para o Financial Times.
E agora o Amazon Music também quer conquistar sua fatia deste mercado que ainda possui amplo potencial de crescimento. O streaming de música foi oficialmente lançado no Brasil no dia 12 de setembro, logo após o anúncio da chegada do Amazon Prime ao país com um combo que além do streaming musical também inclui serviços de vídeo, livros e vantagens no e-commerce.
Mas enquanto os assinantes do Amazon Prime têm acesso a um portfólio de 2 milhões de músicas, a assinatura do Music Unlimited dará acesso a uma variedade muito maior, com cerca de 50 milhões de músicas, a mesma quantidade média do Spotify.
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É justamente no preço que está a grande jogada da Amazon. Os planos individuais do Music Unlimited assim como seus principais concorrentes no mercado Spotify, Apple Music e Deezer se mantém em R$ 16,90, fazendo com que a assinatura do Amazon Prime com a versão básica do streaming junto com todos os outros serviços da Amazon torne-se a opção mais barata e com o melhor custo-benefício, considerando o valor de assinatura mensal de R$ 9,90 ou R$ 89,90 ao ano.
Ainda que conte com cerca de 32 milhões de assinantes a nível mundial, uma parcela ainda muito pequena perto dos 100 milhões do Spotify, a Amazon não entrou para brincadeira no mercado de streamings de música.
A América Latina tornou-se um dos palcos principais para a indústria mundial de música e todos estão dispostos a lutar para conquistarem esse espaço. Com mais competição qualificada, pacotes básicos com valores reduzidos e descentralização de mercado, a audiência da região deve ser explorada em todo o seu potencial. E no final, quem irá aproveitar o show serão os usuários, com mais opções e diferentes custos-benefícios.