No ano passado, o ecossistema de inovação brasileiro gerou cinco unicórnios e levantou, entre aportes, fusões e aquisições, US$ 2,7 bilhões, montante 80% maior do que em 2018, segundo dados da plataforma de inovação Distrito. Depois de um ano assim, e com a economia brasileira dando sinais de que poderá, finalmente, engrenar, é claro que as previsões para 2020 são otimistas.
Nesta terça-feira (18), a Distrito renova suas apostas e lança a segunda edição do relatório Corrida dos Unicórnios, com uma análise sobre os que passaram a valer US$ 1 bilhão ou mais em 2019 e também uma lista de 10 aspirantes ao status nos próximos anos. Quatro (Gympass, Loggi, Quinto Andar e EBANX) dos cinco unicórnios nascidos no ano passado no país estavam na lista da Distrito de 2018.
Algumas das apostas para 2020 vêm de uma “repescagem” do ano passado, caso da Creditas, da CargoX, da Conta Azul e da Resultados Digitais, que receberam aportes gordos mais ainda não alcançaram a avaliação bilionária. Outras são novidades, mesmo.
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Quem deixou de ser aposta
Entre aquelas que deixaram a lista de apostas da Distrito, ou seja, que apareceram na primeira edição entre as mais cotadas para virar unicórnio, mas não na segunda, estão a ZAP, que após fusão com a VivaReal perdeu algumas das características para ser chamada de startup, a Neoway, que passou por uma reorganização após a saída de seu fundador, e a Grow, fusão entre a startup brasileira de compartilhamento de bicicletas Yellow e a mexicana de aluguel de patinetes elétricos, Grin, que anunciou uma reestruturação e a sua retirada de 14 cidades brasileiras em janeiro. Segundo o Neofeed, a empresa estaria buscando patrocinadores para retomar a operação de suas bicicletas, a exemplo do modelo de negócio que segue a Tembici.
Analisando o ecossistema, fica claro o quão mais rápidos estão os ciclos de investimentos que levam uma startup brasileira a virar unicórnio. Com menos de dois anos de operação, a Loft, startup focada na compra e venda de imóveis, foi a primeira a ser extraoficialmente avaliada em US$ 1 bilhão em 2020. A Loft alcançou o status após receber um aporte de US$ 175 milhões dos fundos Andreessen Horowitz, Fifth Wall Ventures e Vulcan Capital.

Entre um relatório e outro, a Distrito também criou uma nova classificação: IPOgrifo, uma brincadeira que mistura uma figura mitológica à sigla que representa a estreia de uma empresa na bolsa de valores.
Voltando lá no conceito criado por Aileen Lee, que dizia respeito apenas a empresas de capital fechado, a Distrito tirou PagSeguro, Arco e Stone da sua lista de unicórnios, e as reclassificou como IPOgrifos, já que elas atingiram o valor de mercado de US$ 1 bilhão após abrirem capital.
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O que é necessário para fazer parte da lista de aspirantes a unicórnio
Juntas, as 10 startups listadas como os próximos possíveis unicórnios pela Distrito – Buser, CargoX, Conta Azul, Creditas, Dr.Consulta, MadeiraMadeira, Neon, Olist, Resultados Digitais e VTEX–, arrecadaram quase US$ 750 milhões em rodadas de investimento desde a sua fundação.

De maneira geral, para fazer a sua lista de apostas a Distrito avaliou fatores como perfil dos fundadores, volume de investimento captado e intervalo entre uma rodada e outra, além da evolução no número de funcionários, de seguidores em redes sociais, e mesmo o tamanho do mercado em que cada uma das startups atua.
“A gente entende que o principal fator para a criação de um unicórnio é a capacidade de captar fundos, mais do que um reflexo direto do negócio em si. Por isso, os fatores mais importantes foram os relacionados ao histórico de captação da empresa, com quem ela captou e a velocidade com a qual fez isso. Startups trabalhando em mercados de capital intensivo que exigem injeções mais pesadas de dinheiro receberam um boost também”, esclarece o coordenador do Distrito Dataminer, a base de dados da Distrito, Daniel Quandt.
Entre as aspirantes com maior volume de busca no Google, a MadeiraMadeira se destaca, seguida pela Dr. Consulta. Talvez isso se explique pelo segmento das duas: a primeira se apresenta como o maior marketplace de produtos para a casa do Brasil e deve lançar sua própria marca de mobiliário nas próximas semanas; a segunda conecta pacientes e médicos de uma maneira descomplicada e mais barata, algo essencial para um país que acaba de sair da pior crise da sua história e viu o número de usuários de planos de saúde cair nesse período.
Embora as fintechs sejam a ponta de lança da inovação e do empreendedorismo no Brasil, elas não são maioria entre as startups que devem virar unicórnio neste ano. Isso acontece, segundo Quandt, porque algumas das maiores “estão indo por fora da rota de startup”, por fazerem parte de grandes grupos empresariais (como é o caso da PicPay) ou por terem grandes reservas de capital próprio desde o princípio (como o C6 Bank).
Outro fator é que fintech não é necessariamente um setor de capital intensivo, com muito sendo feito pelo meio digital. Isso desacelera um pouco a captação de grandes investimentos e leva a um crescimento um pouco mais contido.
“Mesmo assim existem grandes promessas no setor (a Creditas, por exemplo, provavelmente já é unicórnio e só não oficializou via valuation em uma rodada), e outras ainda um pouco menores que tem grande potencial de crescer muito nos próximos anos (como a Weel, que acabou de captar investimentos, e a Rebel)”, avalia Quandt.