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Transformação digital de 2 anos aconteceu em 2 meses, diz executiva da Microsoft

Loredane Feltrin, Diretora de Modern Workplace da Microsoft América Latina, conversou com o LABS sobre o aumento exponencial no uso do Teams, o apoio dado a clientes no processo veloz de digitalização e as perspectivas para o pós-pandemia

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O distanciamento social turbinou o uso de ferramentas de trabalho remoto, e a partir dessa elevação, muitos dados de comportamento puderam ser extraídos. A Microsoft, por exemplo, viu o uso de videoconferências no Teams crescer 1,000% em apenas um mês. No México e no Chile, mais de 40% dos tempos das chamadas é em vídeo. Houve também, aumento de produtividade e jornadas estendidas – o chat da plataforma é agora usado três vezes mais aos fins de semana. Mas não foi só isso. Empatia e gratidão entre colegas de trabalho também cresceu. O LABS conversou com Loredane Feltrin, Diretora de Modern Workplace da Microsoft América Latina, para saber do novo cenário e das tendências que a empresa enxerga para o mundo do trabalho no pós-pandemia.

LABS – O que a Microsoft percebeu logo no início da pandemia, no uso de ferramentas de trabalho remoto?

Feltrin – De uma forma ou outra, a Covid acabou democratizando a situação. Todo mundo teve que trabalhar remotamente do dia para a noite. Tivemos clientes corporativos chegando para a Microsoft e perguntando: “O que eu faço com meu escritório? Eu fecho?” Em dois meses ocorreram dois anos de transformação digital. Quem era reticente, viu que não havia outra caminho a tomar.

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LABS – As empresas já se acostumaram com a migração repentina?

Feltrin –  As pessoas estão se acostumando. Por exemplo, em nossa pesquisa, 70% delas esperam continuar trabalhando remotamente, mesmo que de maneira parcial, depois que a pandemia acabar. Entre os gestores, 82% gostaram de ter mais flexibilidade. Algumas coisas depois da pandemia irão mudar, mas em outras não há dúvida de que evoluímos para um mundo mais digital.

LABS – Uma pesquisa recente da Microsoft mostrava que no México, as pessoas encontravam mais dificuldade do que na Europa, por exemplo, para conciliar home office e atividades domésticas. Que outras particularidades você vê na região?

Feltrin –  O fato de tudo ter migrado para o online fez as pessoas ligarem mais o vídeo. No México, em 41% do tempo de reuniões as pessoas usam vídeo; no Chile, 52% – uma taxa menor do que Noruega e Holanda, por exemplo, onde chega a 60%. 

A frequência com que as pessoas estão abrindo a câmera nas conversas de trabalho é duas vezes maior do que antes das quarentenas. O total de calls com vídeo no Microsoft Teams cresceu mais de 1,000% só no mês de março. 

Loredane Feltrin, Diretora de Modern Workplace da Microsoft América Latina

LABS – As pessoas abrem o vídeo, quem sabe, como forma de reduzir a sensação de isolamento?

Feltrin –  É uma forma importante para conectar as pessoas, para que elas vejam a reação do outro. Parte do trabalho da Microsoft é tornar essa relação mais leve. Há um nível de estresse muito grande associado ao trabalho online. É preciso fixar a atenção na tela, entender dados que estão sendo compartilhados e muito dificilmente se pode observar a reação de todo mundo, especialmente em reuniões maiores. O nível de cansaço do trabalho em vídeo online é muito alto. 

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LABS – Com base nisso, vocês fizeram algum ajuste?

Feltrin –  Tivemos várias mudanças de produto. Uma delas é o “Together Mode”, que distribui os participantes de uma reunião ao redor de uma mesa ou em carteiras escolares. Fizemos pesquisas de ondas cerebrais e esse modo abaixa sensivelmente os níveis de estresse. As pessoas se sentem mais conectadas. Não é só videoconferência, mas como tornar a experiência mais humana e mais natural possível para usuários que estão 100% do tempo olhando para uma tela.

LABS – A infraestrutura ainda é uma barreira para o uso de ferramentas como o vídeo na região?

Feltrin –  É uma análise que faz sentido, mas há aspectos culturais que influenciam. Na França, por exemplo, 37% do tempo das reuniões usa vídeo. Em Cingapura, com uma infraestrutura fortíssima, só 26%. A questão cultural sempre vai ser relevante no quanto as pessoas se expõem, e a infraestrutura também é uma questão, mas não temos dados. Apenas 5% dos usuários, globalmente, moram sozinhos, ou seja, a grande maioria tem que compartilhar a banda.

“Together Mode”, do Teams, reduz ansiedade e stress ao colocar os participantes juntos em cenários diferentes. Foto: Microsoft / Divulgação

LABS – Qual é a tendência para o pós-pandemia?

Feltrin –  O que vemos nas pesquisas é que existe a vontade de encontros pessoais, mesmo que com a possibilidade de continuar trabalhando de casa. Equilibrar vida pessoal e trabalho nunca foi fácil, na pandemia ficou pior. As pessoas têm interrupção, além disso, a banda larga falha, o ambiente nem sempre é o mais apropriado, falta cadeira ergonômica, mais um monitor e por aí vai. Tem empresas que ajudam os funcionários a melhorar a experiência nas próprias casas, e muita gente deseja um tempo maior de concentração.

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LABS – Os clientes corporativos pediram ajuda da Microsoft com essa finalidade?

Feltrin –  Muita. Imagine aquela empresa que tinha o trabalho 100% físico ter migrar tudo para o online. Foi muito interessante observar, por exemplo, casos de governo. Explicamos para algumas administrações públicas da região como trabalhar remotamente, de uma hora para outra. Montamos guias para governos e cidadãos sobre como atuar no novo cenário, incluindo passo a passo e melhores práticas.

LABS – A carga de trabalho sofreu alguma variação?

Feltrin –  Sim, vimos em pesquisas que as pessoas estão trabalhando pelo menos uma hora a mais por dia, em média. O uso de ferramentas se intensifica no início e no fim da jornada. No começo do dia, aumentou 15% o volume de trabalho, e no fim do dia, 25%. O chat do Teams aumentou 200% nos fins de semana.

O fato de as pessoas estarem sempre conectadas acabou por criar hábitos que esperamos que melhorem ao longo do tempo. Logo no início da Covid, a curva de trabalho disparou, agora já voltou a adequar um pouquinho. Mas teve aumento de carga de trabalho.

Loredane Feltrin, Diretora de Modern Workplace da Microsoft América Latina

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LABS – Quais as preocupações das empresas?

Feltrin –  Há clientes que se preocupam em saber se o funcionário está trabalhando de fato. Explicamos que medimos produtividade por resultado. Tem também muita preocupação com segurança, para proteger dados e informações. A Microsoft é a maior empresa de segurança do mundo, e levamos essas questões com muita seriedade. Criamos mais protocolos e passamos a ser ainda mais cuidadosos na plataforma Teams. Outro pedido é análise da informação, para saber da participação dos funcionários. Aqui somos cuidadosos com a privacidade. Individualmente, as pessoas têm acesso a seus próprios dados, horários de reunião, quiet times, mas isso não é compartilhado com líderes, por exemplo. 

LABS – E sobre os usuários?

Feltrin – Aumentou a empatia entre colegas. Todos viram como a vida é. A mãe com o filho no colo, o pai com a criança puxando, o cachorro pulando no meio do call. Talvez, no passado, isso fosse encarado como distúrbio, agora aumentou a compreensão. Não apenas empatia, aumentou também a gratidão. Falo isso por sentimento pessoal. As pessoas falam “Puxa, obrigado, porque a gente sabe como deve estar sendo um caos, cuidar de um pai doente ou de filhos pequenos Mesmo assim, você está fazendo isso aqui conosco”.

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LABS – Há particularidades entre os diferentes mercados da América Latina?

Feltrin – No México, o sentimento de empatia em videoconferências é expressado por 65% das pessoas. A diferença está mais relacionada a indústrias do que a países específicos, algumas são mais conservadoras, outras mais reguladas, e tem aquelas super avançadas. Em medicina, por exemplo, muitos clientes nos pediram para ajudar a fazer consultas médicas virtuais. O cenário demandou isso. Era um setor que não tinha avançado muito no passado, mas que a Covid mudou.