Pouco mais de dois anos depois da regulamentação pela Comissão de Valores Mobiliário (CVM) – por meio da Instrução Normativa CVM 588 de 17/07/2017 –, o crowdfunding de investimentos, nomenclatura mais palatável que a CVM deu para o chamado equity crowdfunding, saltou de R$ 8,4 milhões em aportes em 2016 para R$ 79 milhões em 2019.
As estimativas são da CapTable – uma das 26 plataformas registradas na CVM –, que levou em consideração as informações de rodadas concluídas em 13 das plataformas mais ativas no país. Somente no primeiro semestre do ano passado, foram captados R$ 36,4 milhões, número que cresceu para R$ 43,3 milhões na segunda metade do ano.

“Se compararmos os resultados anuais de 2016 e 2019, observaremos que tivemos um aumento de 844% em quatro anos. Houve uma descoberta da modalidade pelas startups, e a tendência é de que os volumes a serem captados tornem-se maiores”, diz Paulo Deitos, um dos cofundadores da CapTable.
Um dos fatores do sucesso da modalidade é que o brasileiro está apostando mais em investimentos coletivos. Entre 2018 e 2019, houve um aumento de 71,19% no montante investido.
Giácomo Diniz, professor de finanças do IBMEC, observa que, em 2016, praticamente não existia financiamento coletivo, e que, em 2017, os números eram incipientes. “Houve um crescimento gigantesco em dois anos. O que pode ter dado um impulso foi a descoberta da modalidade pelas pessoas. Há uma tendência no aumento dos volumes pleiteados”, analisa Diniz.
A CapTable foi criada por Paulo Deitos e Guilherme Enck em julho do ano passado, tendo a StartSe como uma das sócias. Em cinco meses, conseguiu arrecadar R$ 4,25 milhões para cinco projetos que passaram por suas rodadas. “Fazemos uma triagem rígida de todos os empreendimentos que querem fazer captação conosco a fim de passar mais credibilidade aos nossos investidores. Afinal, temos a intenção de que daqui saia um dos próximos unicórnios”, aposta Enck.
Ele ressalta que, após a regulamentação, o mercado deu uma guinada muito forte. Em 2018, houve um crescimento acelerado; em 2019, não cresceu tanto, mas teve saldo positivo; e, em 2020, a expectativa de Enck é de que o mercado exploda. Na sua avaliação, isso é resultado de uma série de fenômenos que estão ocorrendo ao mesmo tempo.
O brasileiro está conhecendo mais essa alternativa de investimento; o investidor está olhando mais o ambiente de startups e de inovação; e, com a redução das taxas de juros a mínimas históricas, é preciso direcionar os investimentos para a economia real e para empresas.
“Vamos ter um fluxo gigantesco do mercado de dívida migrando para o mercado de equity e assim com fundos de private equity e de venture capital estão se beneficiando desse cenário, o crowdfunding também vai se beneficiar. Muita gente está considerando o crowdfunding como uma opção de diversificação de investimentos”, explica Enck.
Como funcionam as plataformas de crowdfunding de investimento
De acordo com normas regulatórias, as empresas que querem fazer oferta pública de investimentos coletivos podem arrecadar um montante de até R$ 5 milhões. Em plataformas como a CapTable, é possível que qualquer pessoa se torne investidora de startups com valores a partir de R$ 500.
O interesse das novatas também é crescente: em 2017, elas pleitearam R$ 7,8 milhões, número que saltou para R$ 69,5 milhões em 2018 e para R$ 124,8 milhões no ano passado. Já o valor médio das ofertas passou de R$ 650 mil em 2017 para R$ 1,2 milhão em 2019.
“O perfil das startups é de empreendedores que já têm um histórico. As empresas já passaram da fase de MVP (Minimum Viable Product), já estão indo para o mercado com produto pronto e agora precisam de capital para ganhar escala. Elas têm um valuation a partir de R$ 5 milhões”, resume Enck.
Um exemplo é a Trashin, socialtech especializada em gestão de resíduos–orgânicos, hospitalares, perigosos –, que fez sua primeira captação, no ano passado, com a CapTable. A empresa atende empresas e condomínios que têm acesso a um painel com todas as informações sobre seus resíduos. A Trashin tem parcerias com cooperativas de reciclagem que dão a destinação correta do resíduo de acordo com a legislação.
A proposta de transformar lixo em dinheiro animou 460 pessoas, que aportaram um total de R$ 1,1 milhão por 10% da empresa. De acordo com Renan Vargas, diretor de vendas e finanças da startup, o que pesou na escolha de uma plataforma de crowdfunding de investimentos, entre as diversas opções para busca por investimentos, foi a facilidade e a rapidez com que o dinheiro é levantado.
“Tivemos um investidor-anjo, mas a possibilidade de ter um número grande de sócios é uma vantagem porque eles acabam nos indicando para outros clientes. Conseguimos investidores de 20 estados do Brasil porque algum sócio indicou. Além disso, o montante obtido é muito mais fácil ser captado de várias pessoas do que de um único investidor, e o risco é diluído. Vamos usar os recursos para ampliar a equipe e investir em tecnologias como inteligência artificial. Nossa meta é alcançar um faturamento de R$ 1,9 milhão”, sinaliza Vargas.