A recuperação da economia global surpreendeu o turismo internacional em 2017, apresentando um aumento de 6% em relação ao ano anterior, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), anunciados por Zurab Pololikashvili, o novo secretário-geral da organização.
De fato, o setor turístico comemora a recuperação, apenas 10 anos após uma das maiores crises econômicas mundiais. Se em 2009, houve decréscimo da demanda internacional, apresentando um índice de -3,9%, 2017 coroou uma sequência de 8 anos com índices positivos.
Levando em consideração outros indicadores, o turismo internacional é responsável por nada menos do que 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Entre os protagonistas da nova fase do turismo internacional, encontramos os brasileiros, que investiram cerca de 19 bilhões de dólares em viagens para fora do país. Na lista das nacionalidades que mais gastam com viagens ao estrangeiro, o brasileiro saltou da posição 25 em 2016 para a 19ª, em 2017.
No sentido contrário, ou seja, em relação ao mercado nacional e às viagens de turistas internacionais que buscam o Brasil como destino, os números também têm sido favoráveis. Nos dois primeiros meses do ano, registrou-se uma receita cambial turística de 1,39 bilhão de dólares e a solicitação de vistos teve um crescimento de quase 49%.
É exatamente em momentos como este que as empresas de turismo precisam estar conectadas com todo o potencial do crescimento no setor. É necessário entender o comportamento dos seus consumidores e oferecer soluções adequadas, assim como identificar as rotas e destinos com mais demanda.
Qual é a influência do turista brasileiro no mercado global?
O turista brasileiro é tão representativo que nosso período recente de recessão impactou, negativamente, no mercado de turismo na América Latina e em outros países. A Argentina, particularmente, foi um dos países que sentiram a baixa em 2016, apresentou uma redução de aproximadamente 14% de visitantes brasileiros.
E o impacto foi sentido com força pelos hermanos. De fato, nem tudo tem a ver necessariamente com a economia daqui. Por lá, a Argentina vêm sentindo a pressão de anos consecutivos com uma inflação não menor do que 30% anualmente e uma taxa de câmbio que não acompanhou o mesmo ritmo de desvalorização. O resultado são preços mais caros pra quem chega de fora.
Na verdade, a média de preços na Argentina costumava ser mais baixa que no Brasil, o que mudou foi que essa diferença andou diminuindo, o que deixa os custos mais ou menos parecidos entre os dois países. Naturalmente, o turista sente essa pressão, uma vez que estava acostumado a gastar menos no país vizinho.
Mas, como o mercado de turismo do Brasil é fundamental para a Argentina, o próprio governo de lá começou a tomar medidas para voltar a aquecer o fluxo com origem brasileira. Novos e mais frequentes voos, promoções e trechos que não existiam foram inaugurados. Atualmente, há voos diretos de Fortaleza a Córdoba, por exemplo.
Curitiba, Porto Alegre e São Paulo também foram privilegiados com novas rotas, principalmente pelo maior poder aquisitivo de suas populações. Especialmente em feriados e períodos de férias, os voos não cessam. Como medida adicional, o IVA (imposto argentino equivalente ao nosso ICMS) pode ser devolvido, o que representa uma economia de 17% nos serviços de hospedagem contratados.
E os resultados já podem ser sentidos, em janeiro de 2018, mais de 56.000 visitantes brasileiros chegaram por avião, um aumento de 21,7% em relação com o ano anterior. Se considerarmos dezembro de 2017, os números são igualmente positivos, com um índice 21,1% maior.
Atualmente, o Brasil tem conexões com 4 cidades argentinas, Córdoba, Buenos Aires, Mendoza e Rosário. A ampliação de destinos permite que os brasileiros tenham mais opções de chegar diretamente. De fato, 60,8% dos que chegam por via aérea, sem precisar fazer escalas em destinos clássicos para o turista brasileiro.
O Brasil e a ascensão do turismo na América Latina
A alta do dólar impacta diretamente no poder de consumo internacional e nos planos de viagens fora do país. E quando não dá pra ir à Europa, o brasileiro costuma procurar destinos na América Latina.
Por aqui, os destinos mais procurados são Santiago do Chile, Buenos Aires, na Argentina; Cartagena da Colômbia e Cancún, no México. Já havíamos falado sobre isso no post Por que você deveria investir no mercado de turismo da América Latina.
Além do aumento da população que ingressa para a classe média, os governos da LATAM têm investido no desenvolvimento da infraestrutura turística, principalmente com foco em visitantes internacionais. Também é importante destacar o m-commerce (comércio mobile), que segundo a E-Bit, responde por mais de 20% das transações locais.
A força dos brasileiros no turismo de Portugal
Com a tendência de maiores gastos dos brasileiros em outros países, alguns destinos estão se firmando no cenário de possibilidades daqui pra frente. Aliás, os números só têm melhorado. Se de 2014 a 2016, apresentamos uma queda nos gastos, de 43%, em 2017, somente no primeiro semestre, já registrávamos um aumento de 41%.
E, neste cenário, o turismo em Portugal tem seu lugar garantido. Foram mais de 865 mil visitantes conhecendo o país. De fato, sem considerar os países europeus, o Brasil lidera o ranking de viajantes. Quando observamos a lista completa, incluindo outros países da Europa, estamos em quinto lugar.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE), os brasileiros informam uma valoração da viagem no país lusitano, em uma escala de zero a dez, da seguinte forma: 52,8% com a nota máxima, 10; 27% conferindo um 9 e 16% uma nota 8. Entre os 9 países presentes, somos líderes na nota 10.
Quando o quesito é a taxa de retorno, ainda segundo o mesmo informe do INE, mais da metade dos turistas brasileiros estão visitando Portugal pela segunda vez. Em Lisboa, encontramos a maior concentração de visitantes das terras verde-amarelas: mais da metade dos turistas do Brasil escolhem conhecer a capital.
Quando comparamos o interesse por destinos internacionais, uma pesquisa da Kayak indica que Portugal é o país mais buscado. A plataforma Vooper registrou Lisboa como o quarto lugar mais procurado no terceiro trimestre de 2017.
De fato, em 2016, somente 41% das cidades mais buscadas eram fora do país, em 2017, essa proporção virou, com um interesse de 60% em destinos estrangeiros. Em relação ao ticket médio da compra das passagens, o estudo da Kayak indica investimentos de quase R$ 3.500,00, um número representativo, quando se fala de valor de passagens aéreas.
Como os brasileiros escolhem o destino de suas viagens
Como será que os turistas brasileiros chegam à decisão final? O que consideram na hora de escolher um destino ou mesmo quais são os maiores condicionantes na hora de fazer o pagamento? Temos um perfil muito particular e é preciso que as empresas de turismo estejam atentas ao comportamento de nossos consumidores.
Uma pesquisa da revista Viagem e Turismo revelou que o que mais importa para o brasileiro na hora de decidir seu destino internacional é o quesito beleza, opção que ficou, inclusive, à frente de outras como infraestrutura, segurança e hospitalidade.
Já na hora de escolher e contratar uma operadora de viagem, o que mais valorizamos é a confiabilidade. Por isso, a imagem da marca no mercado é um ponto fundamental para as agências de viagens internacionais, já que 35% dos entrevistados afirma que prefere comprar em agências com boa reputação.
Em relação ao planejamento de suas viagens, incluindo a forma de pagamento, também há sinais de como o brasileiro se organiza. Além de estar procurando com mais antecedência, os canais online das empresas de turismo estão quase empatados com as pesquisas nas tradicionais revistas impressas: 34% procuram pela internet, 36% em revistas e as operadoras respondem por 13%.
Como os usuários brasileiros pagam as suas viagens
Em relação ao pagamento, é importante notar que o brasileiro prefere pagar parcelado, principalmente em compras com ticket médio maior do que R$ 1.000,00. Se considerarmos o atual contexto da economia nacional, o que permite a compra é o planejamento antecipado e as parcelas mais reduzidas.
As agências de turismo internacionais precisam estar atentas a um detalhe: as compras feitas com cartão internacional não permitem o parcelamento, e como acabamos de comentar, o que faz com que o brasileiro continue viajando para o exterior são as prestações.
Por isso, é fundamental oferecer os melhores métodos de pagamentos locais. Assim, os consumidores locais sentem-se mais à vontade para adquirir produtos e serviços oferecidos por empresas de turismo estrangeiras.