CEO da JetSMART Estuardo Ortiz
O CEO da JetSMART, Estuardo Ortiz. Foto: Divulgação
Turismo

JetSMART aposta em passageiro que nunca voou e frota ultra jovem para revolucionar a aviação na América do Sul

Pode parecer presunçoso para uma companhia aérea nascida há apenas dois anos, mas não é

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O plano da JetSMART é ambicioso: revolucionar a aviação na América do Sul. Pode até soar presunçoso vindo de uma companhia aérea de baixo custo do Chile que voou pela primeira vez em 2017 e tem 15 aviões na frota. Mas quando se olha para quem está por trás dela, percebe-se que não se trata de loucura. Trata-se da Indigo Partners, um fundo de investimento norte-americano que controla não só a aérea chilena, mas também a Frontier Airlines dos Estados Unidos, a Volaris do México e a Wizz Air da Hungria, e que investiu 59,5 bilhões de dólares para arrematar 430 aviões da Airbus na maior compra em número de equipamentos da história da aviação comercial.

“Quando começamos o projeto da JetSMART, tínhamos muito claro o que queríamos ser e o quanto esperávamos impactar a indústria. Sempre falamos em fazer uma revolução na aviação da América da Sul. É o que estamos fazendo”, referenda o CEO da empresa, Estuardo Ortiz. E a revolução já começou. Em menos de três anos de funcionamento, a empresa ultrapassou os 4 milhões de passageiros transportados e voa para 23 destinos no Chile, Argentina e Peru, e em breve vai pousar no Brasil e na Colômbia.

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A companhia nasceu com o mesmo DNA das coirmãs da Indigo Partners, baseado em um modelo ultra low cost em que o passageiro tem a liberdade para escolher o que deseja pagar além da tarifa, como despacho de bagagem, marcação de assento ou check-in presencial. Aliado a isso, uma frota moderna garante mais economia na operação e no consumo de combustível.

Low cost não significa baixa qualidade. Não sacrificamos qualidade

Estuardo ortiz, CEO da Jetsmart.

Esse modelo permite à empresa oferecer tarifas abaixo dos 10 dólares em diversos trechos domésticos e atrair passageiros que nunca entraram em um avião. Aliás, esse é o foco para seguir crescendo. “Queremos buscar um mercado que ainda não existe. Não pensamos nas pessoas que já viajam de avião e sim naquelas que não viajam de avião. Não vamos buscar o mercado aéreo e sim o mercado de transporte”, prossegue o CEO da JetSMART.

Isso significa oferecer rotas que outras companhias aéreas não oferecem, inclusive fugindo dos principais aeroportos. Para a JetSMART não faz sentido voar de Arica a Antofagasta, ambas no norte do Chile, e precisar fazer conexão em Santiago. Ou ir de Mendoza a Neuquen com uma parada em Buenos Aires.

Foi exatamente esse pensamento de descentralização que levou a companhia a operar no mercado doméstico da Argentina. Segundo Estuardo Ortiz, é um país que voa muito pouco e que tem enormes oportunidades e potencial. De abril, quando iniciou os voos, até setembro, transportou mais de 285 mil passageiros e já tem 3% de participação nas rotas internas.

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Os animais que movem o crescimento

Os aviões da JetSMART são praticamente inconfundíveis. Além da logomarca na fuselagem, há uma característica que os difere de outras companhias aéreas da região. Em todas as aeronaves há a imagem de um animal típico da América do Sul pintado na cauda, seja de pequenas e grandes aves ou felinos, pinguins e cervos. E animais são o que não devem faltar para a empresa nos próximos anos.

Hoje a JetSMART voa com 12 aeronaves no Chile e três na subsidiária na Argentina, todas Airbus da família A320 com capacidade para 186 passageiros e recebidas diretamente da fábrica em Toulouse, na França, o que dá à frota da companhia uma média de idade de menos de um ano e meio, a mais jovem do continente.

No início de outubro a empresa recebeu o primeiro A320neo, avião de nova geração que consome 20% a menos de combustível em relação à versão anterior. A ele se juntarão outros 55 exemplares nos próximos anos – seis deles até o primeiro semestre de 2020 –, tornando-se o principal equipamento da frota da companhia. No investimento de 8,4 bilhões de dólares ainda estão inclusos 14 A321neo, com ainda mais assentos. No total, entre encomendas diretas e leasings, a JetSMART pretende atingir 104 aeronaves nos próximos sete anos.

aeronaves da chilena JetSMART
A320neo, uma das aeronaves da chilena JetSMART. Foto: Divulgação

E apesar de o A320neo ser o padrão da frota, um outro avião vai permitir à companhia voar mais longe, literalmente. É o A321XLR, versão de longo alcance do A321neo. A JetSMART será a primeira empresa da América Latina a receber a aeronave, a partir de 2023. O A321XLR pode transportar até 244 passageiros em classe única e voar por 8,7 mil quilômetros, dando a possibilidade de ligar cidades da América do Sul aos Estados Unidos e mesmo Europa, a partir do nordeste brasileiro.

“O A321XLR é o avião que esperamos seja parte da revolução do transporte aéreo que estamos fazendo. Hoje há muitas rotas que são voadas unicamente por companhias aéreas tradicionais. O modelo low cost não tinha até então uma aeronave que permitisse competir nesses mercados. Não havia um avião com alcance suficiente. O A321XLR vai entregar isso a um baixo custo”, comemora Ortiz.

Brasil: o próximo passo

Depois de Chile, Argentina e Peru, a próxima fronteira a ser desbravada pela JetSMART é o Brasil. E não é um destino qualquer. Para a companhia, o país é o que tem mais potencial e tamanho de mercado para ser explorado. Os primeiros destinos, saindo de Santiago, serão Salvador (dezembro), Foz do Iguaçu (janeiro de 2020) e Guarulhos/São Paulo (março de 2020). Os voos serão realizados por novos A320neo.

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A operação da JetSMART no Brasil só foi possível após mudanças recentes na regulamentação do transporte aéreo que permitiram às companhias aéreas cobrarem pelo despacho de bagagem, algo primordial para uma low cost. E exatamente por ser um modelo ainda pouco usual no país, a empresa quer sentir o ambiente antes de oferecer mais rotas.

Vamos ver como responde o mercado brasileiro a uma companhia aérea low cost. Por enquanto a resposta tem sido bastante positiva. Mas vamos esperar alguns meses para ver como continua essa tendência para ver se crescemos ainda mais no Brasil

ESTUARDO ORTIZ, CEO DA JETSMART.

Só que revolucionar a aviação na América do Sul significa forte presença no Brasil. Não apenas com voos internacionais, mas também no mercado doméstico. Com a mudança na legislação brasileira que autorizou a participação de 100% de capital estrangeiros nas companhias aéreas, não há impedimentos legais para a JetSMART abrir uma subsidiária no país, assim como fez na Argentina. E com tantos aviões encomendados, Argentina e Chile podem ficar pequenos.

O CEO da empresa não descarta essa possibilidade no futuro. “Somos muito focados e gostamos de fazer as coisas bem feitas com cada coisa ao seu momento. Vamos verificar se haverá um momento para operar mais que apenas voos internacionais. Por enquanto o foco é na operação entre Brasil e Chile”, conclui Ortiz.

Raio-X da JetSMART:

Frota – 15 aeronaves

  • 14 A320ceo
  • 1 A320neo

Destinos – Total: 23

  • 13 no Chile
  • 8 na Argentina
  • 2 no Peru
  • +3 Brasil (a iniciar)
  • +2 Colômbia (a iniciar)