Turismo

O crescimento do mercado do turismo no Brasil e as projeções para 2019

Em 2017, o país bateu recorde em número de turistas estrangeiros graças ao crescimento do fluxo de latino-americanos em terras brasileiras. Confira as expectativas para o mercado em 2019!

Um país de cultura pulsante, com um litoral paradisíaco e um povo acolhedor. Não é de hoje que esse retrato do Brasil está presente no imaginário de pessoas das mais variadas nacionalidades. Viajantes procuram as terras brasileiras para experiências únicas, seja nos ambientes urbanos das nossas metrópoles, seja nos paraísos naturais de nossas praias e florestas.

Não à toa, o turismo cumpre um papel significativo no Brasil, tendo injetado US$ 163 bilhões na economia brasileira em 2017, o equivalente a 7,9% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do país naquele ano.

O setor encontra-se, hoje, em pleno crescimento: os megaeventos esportivos e a alta do dólar nos últimos anos contribuíram para o aumento do número de visitantes externos no país, especialmente os latino-americanos. Que peso a alta do dólar teve nesse cenário? Quais são as projeções para o turismo brasileiro em 2019?

Para avaliar o desempenho do setor no ano de 2018 e traçar projeções para 2019, o Labs conversou com o professor do Departamento de Turismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Eduardo Silveira. Confira:

Uma sequência de recordes


A euforia do setor brasileiro do turismo com a Copa do Mundo de 2014 e com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 era bastante justificável. A expectativa era de que os megaeventos esportivos conseguissem impulsionar o Brasil na lista de prioridades dos estrangeiros, o que certamente atrairia milhões de visitantes e movimentaria a economia local.

As previsões superaram as expectativas e o fluxo de turistas bateu recorde nos dois anos. Em 2014, o país recebeu 6,4 milhões de viajantes de outros países, o maior número registrado na história do Brasil até então. Já no ano das Olimpíadas, 6,6 milhões de pessoas de outros países desembarcaram aqui, superando a marca de 2014.

Diferentemente de 2015, época em que a chegada de viajantes estrangeiros registrou uma leve retração de 1,9%, 2017 foi o ano de ouro do turismo brasileiro: o fluxo aumentou 0,6% em relação a 2016, chegando ao maior número de turistas de outros países já registrado no Brasil.

Essa marca foi atingida mesmo sem um grande evento esportivo que atraísse os olhos do mundo todo. E um dos fatores que contribuíram para esse cenário foi a alta do dólar, que atraiu ainda mais turistas, especialmente os latino-americanos, para as terras brasileiras.

Leia também: “Como a alta do dólar se transformou em oportunidade para o turismo na América Latina.

Protagonismo dos latinos


Historicamente, os argentinos são os que mais escolhem o Brasil como destino turístico. Em 2017, mais de 2,6 milhões de “hermanos” visitaram o país, representando quase 40% de todos os estrangeiros que chegaram aqui. O fluxo foi consideravelmente maior que o registrado em 2016, quando 2,1 milhões de argentinos desembarcaram em terras brasileiras. Depois da Argentina, os turistas que mais decidem por visitar o Brasil são vieram dos Estados Unidos da América (EUA), do Chile, do Paraguai e do Uruguai. Ao todo, 62,4% de todos os estrangeiros que passaram por aqui são latinos.

Esse cenário se deve, em grande parte, à desvalorização das moedas latinas. Os viajantes da região têm optado por viajar a países mais próximos, adiando ou até deixando de lado os planos de visitar destinos mais distantes e caros, como os EUA e os países europeus. Para se ter uma ideia, a moeda dos argentinos chegou a valer 39 vezes menos que o dólar americano em setembro de 2018.

Para o professor do Departamento de Turismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Carlos Eduardo Silveira, a valorização da moeda norte-americana tende a favorecer o fluxo de estrangeiros entre os países da América Latina. “Por exemplo, quando o dólar está alto, a região sul do Brasil recebe muitos mais argentinos do que a região nordeste. O dólar em alta faz com que os turistas argentinos optem por viagens mais curtas”, destaca.

Se a valorização do dólar tende a afastar os turistas argentinos e latino-americanos em geral de destinos mais caros, como a Europa, a mesma variação cambial geralmente diminui o fluxo de norte-americanos no Brasil.

“O poder de compra norte-americano estava muito aquecido [em 2018]. Quando o dólar está alto, a tendência é que a vazão [de turistas] seja para destinos mais caros, como os países europeus. Nós somos um destino barato”, afirma Silveira.

De fato, o fluxo de norte-americanos no país apresentou uma queda considerável nos últimos anos. Entre 2014 e 2017, houve uma diminuição de aproximadamente 30% no número de visitantes norte-americanos no Brasil, que passou de 656 mil no ano da Copa do Mundo para 475 mil em 2017.

Diante desses números, é possível dizer que a valorização do dólar impactou de forma direta o perfil do turismo internacional brasileiro, que está mais movimentado pelos latino-americanos. E os números preliminares deste ano confirmam uma tendência de crescimento: a entrada de estrangeiros no Brasil no primeiro semestre de 2018 cresceu 8% em relação ao mesmo período de 2017.

Se essa tendência se mantiver nos últimos seis meses deste ano, o Brasil irá superar, pela primeira vez, a marca dos 7 milhões de visitantes, quebrando mais um recorde em fluxo de estrangeiros no país. Os números oficiais do turismo brasileiro em 2018 ainda não foram divulgados, mas a tendência de crescimento dos últimos anos, aliada ao novo cenário político-econômico que se aproxima, abre a possibilidade para algumas reflexões.

O que esperar para 2019?


Mesmo com maior estabilidade, o dólar na casa dos R$3,80 deve manter um fluxo mais significativo de turistas latino-americanos em terras brasileiras. Silveira ressalta, no entanto, que a movimentação do turismo brasileiro dependerá da situação econômica da Argentina no decorrer de 2019.

“Os argentinos estão para o mercado internacional [brasileiro] como os paulistas estão para o mercado doméstico. O que acontece em São Paulo impacta no Brasil inteiro em termos de turismo. O que acontece na Argentina impacta diretamente no nosso turismo internacional”, compara.

Além disso, é necessário lembrar que o segundo semestre de 2018 foi atípico para o Brasil devido às eleições presidenciais, que influenciaram não só a variação do dólar, mas uma série de fatores econômicos.

Silveira lembra que os projetos para a área do turismo sofreram uma desaceleração motivada pelo cenário de instabilidade política e econômica que o país enfrentou nos últimos meses. “A expansão de empresas, a abertura de novos hotéis, o financiamento, a busca de capital estrangeiro, tudo que havia alguma perspectiva de ascensão no ano de 2018 foi estancado em função do cenário político-econômico que estava se descortinando. Ninguém sabia o que ia acontecer – não que saiba agora –, mas a incerteza era muito maior até outubro”, ressalta.

Para 2019, a previsão é que a abertura para os investimentos estrangeiros, uma das propostas do projeto de governo eleito, aqueça o setor do turismo no Brasil. Silveira avista a probabilidade do retorno de algumas companhias aéreas para o país, a chegada de transportadoras ao mercado brasileiro e a fusão entre companhias internacionais e locais como elementos de um novo cenário para o mercado turístico brasileiro.

“Considerando essa abertura de mercado, com um governo mais liberal e com a aproximação com um bloco mais específico de países, é provável que exista um incremento no turismo internacional, em mercados que não são tão tradicionais para o Brasil”, salienta Silveira.