Economia

60% dos bancos centrais já estudam suas próprias moedas digitais, diz BIS

Relatório da entidade aponta ainda que 86% estão interessados em seguir esse caminho e que 14% já têm projetos pilotos

Foto: TLCKios/ CC0 1.0 Universal (CC0 1.0)
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  • Na América Latina, há alguns exemplos já de moedas em teste: o D-cash, das ilhas do leste do Caribe, e o El-Peso do Uruguai, que já terminou seu piloto;
  • Já Chile e Brasil são exemplos de países que ainda estão estudando o assunto.

A digitalização acelerada pela pandemia de COVID-19 e as possibilidades de inclusão financeira que vêm junto com o fenômeno estão fazendo os bancos centrais acelerarem os planos para a criação de suas próprias moedas digitais. Um levantamento do Banco Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), divulgado nesta semana, mostra que 86% das instituições estão interessadas; 60% já estudam ou investigam a possibilidade; e 14% já estão testando projetos-pilotos de CBDCs (acrônimo em inglês para “moedas digitais de banco central”). Em 2017, uma sondagem semelhante do BIS mostrava que apenas 64% das instituições tinham algum tipo de interesse em CBDCs.

Ainda nesta sexta-feira, o presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos, Jerome Powell, disse que lançará um estudo sobre os benefícios e riscos de uma CBDC da instituição no “verão deste ano”. Na América Latina, há alguns exemplos já de moedas em teste: o D-cash, das ilhas do leste do Caribe, e o El-Peso do Uruguai, que já terminou seu piloto. Já Chile e Brasil são exemplos de países que ainda estão estudando o assunto.

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O Banco Central brasileiro criou, em agosto do ano passado, um grupo de trabalho para estudar o assunto. “A quantidade de pagamentos eletrônicos vem crescendo nos últimos anos, graças, especialmente, à evolução da tecnologia de dispositivos e comunicação móveis. Porém, nosso dinheiro continua materializado em papel e círculos de metal, não existindo, ainda, nenhuma representação digital do dinheiro acessível ao cidadão. Então, uma moeda digital emitida por banco central permitiria que o brasileiro interagisse com seu dinheiro de uma forma completamente eletrônica”, explicou o coordenador do grupo de estudo, Aristides Andrade Cavalcante Neto, do Departamento de Tecnologia da Informação (Deinf) do Banco Central, na ocasião.

Segundo o jornal Valor Econômico, entre as questões em estudo pelo BC brasileiro estão: se a entidade será a única emissora e custodiante da moeda; se a moeda oferecerá remuneração e se será rastreável.

Não há data para que um piloto saia do papel, embora o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já tenha falado em 2022 em algumas entrevistas.

De maneira geral, o lançamento de um projeto como esse depende do avanço de outros projetos da agenda digital do BC, como o PIX, o open banking, o sandbox regulatório e até mesmo a nova legislação cambial, que espera apreciação no Congresso Nacional. O objetivo do BC com todos esses projetos é a construção de um sistema não só digital, mais interoperável e aberto.

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Tradicionalmente, os sistemas monetários são organizados em torno de uma “âncora”. Qualquer instrumento de pagamento num sistema monetário está vinculado a um valor fixo da âncora. Essa âncora pode ser uma commodity ou uma moeda fiduciária, por exemplo. As moedas digitais (ou CBDCs) seguem lógica semelhante, embora bem mais fluída, e, portanto, têm objetivos diferentes das criptomoedas. Elas podem funcionar como uma forma digital da moeda já emitida pelos bancos centrais, gozando de garantias similares às “físicas”.

Segundo o BIS, as novas moedas têm potencial para emergir como “alicerces centrais de grandes plataformas sociais e econômicas” capazes de “transcender fronteiras nacionais”, como os meios de pagamento já fazem. Uma consequência disso é a total remodelação da natureza da competição monetária como ela é hoje, além de uma profunda transformação “da arquitetura do sistema monetário internacional e do papel do dinheiro público emitido” pelos governos.