Em live da XP Investimentos na noite desta quarta-feira (25), o empresário Abílio Diniz, hoje à frente da Península Participações, com investimentos no Carrefour Brasil, Carrefour Global, BRF entre outras, disse que nunca viveu uma crise como a do coronavirus e que, pela primeira vez na vida, tem perdido o sono. “Eu normalmente durmo bem, mas tenho ficado bem inquieto. É isso é natural, porque você fica preocupado com a vida das pessoas”, disse o empresário. “Mas sairemos mais fortes dessa”, complementou Diniz.

Ele também falou que discutir paralisação é falar do óbvio. “O Brasil já está parado. O que precisamos agora é uma agenda do que é necessário nesse período de combate. Também é muito importante que se dimensione essa paralisação. Isso é fundamental porque é preciso dar esperança para as pessoas. Além disso, é preciso também programar a retomada, que não poderá acontecer de uma hora para outra”, disse Diniz.
Ele disse ter conversado como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que o governo estaria organizando medidas que colocarão entre R$ 600 bilhões e R$ 700 bilhões em circulação. “Estamos falando de um volume que é semelhante da economia que a reforma da Previdência irá a trazer em 10 anos”, salientou o empresário.
Dois setores em momentos completamente diferentes durante a crise
Na mesma live, participaram dois empresários de setores que vivem momentos completamente diferentes: Pedro Bartelle, CEO da Vulcabrás Azaleia, que gerencia marcas de calçados como a Under Armour no Brasil e tem Azaleia e Olympikus como marcas próprias, e Sammy Birmarcker, que comanda da Profarma, uma das maiores distribuidoras de produtos farmacêuticos do Brasil.
Enquanto a Profarma está num setor que hoje é uma ilha em meio à crise, que vive uma explosão em vendas e tem de pensar em como gerenciar a melhor forma possível o estoque e a logística, a Vulcabrás Azaleia teve que colocar seus 14 mil colaboradores em férias coletivas por três semanas e está negociando com fornecedores o que a cadeia de fabricação e venda de calçados do país mais precisa nesse momento: prazo.
“O que a gente tá experimentando em março, a gente e as farmácias, é um mega boom de vendas. A grande preocupação nossa é tentar entender o que vai acontecer. Numa live do setor ontem, descobrimos que na itália o nosso setor experimentou um boom e está agora estacionando num patamar superior”, disse Birmarcker. Ele disse que a maior preocupação da companhia tem sido cuidar de quem está na linha de frente: os trabalhadores das lojas e dos centros distribuição. “Sabemos que os conjuges dos nossos colaboradores estão correndo risco de ficar sem renda. De nossa parte, estamos adiantando 25% do décimo terceiro salário agora na folha de abril por isso. Nossos trabalhadores não estão trabalhando mais para o chefe ou para empresa, mas pelo Brasil”. Birmarcker disse que não há possibilidade de desabastecimento de medicamentos no Brasil.
“A nossa realidade é completamente diferente. A gente tem um portfólio de 15 mil lojas que atendemos, e 10 mil clientes. Vejam quantos são pequenos e tem só uma loja. A cadeia inteira está sofrendo”, desabafou Pedro Bartelle, da Vulcabrás Azaleia. Ele disse que a atenção da companhia tem sido com o contato com constante com os funcionários, mesmo com eles em casa agora. Ele disse, no entanto, que sente falta de decisões coletivas para que a cadeia de calçados como um todo possa se posicionar com fornecedores e garantir o emprego de milhares de trabalhadores.