O chefe do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse nessa quarta-feira (24) que ficou surpreso com a pressão persistente sobre os preços que resultou em uma inflação mais alta do que o esperado, enquanto reafirmou o objetivo do banco de reduzir a inflação para sua faixa de metas.
Os comentários de Campos Neto acontecem em meio às crescentes expectativas do mercado de que a inflação no próximo ano possa exceder a meta de 3,5%, com uma margem de tolerância de 1,5 pontos percentuais de cada lado.
Nessa quarta-feira, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elevou suas projeções para a inflação no Brasil em 2021 e 2022 diante da forte pressão de preços no país e no mundo, prevendo que a inflação chegue muito perto de 10% nesse ano.
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Segundo o instituto, o IPCA deve encerrar 2021 com alta acumulada de 9,8%, contra taxa de 8,3% prevista em setembro, um número bem acima do teto da meta oficial do Banco Central para este ano.
Para 2022, embora seja esperada desaceleração em relação à taxa de inflação deste ano, a projeção do Ipea para a alta dos preços subiu a 4,9%, de 4,1% antes, fora do centro da meta, que neste caso é de 3,5%, com margem também de 1,5 ponto.
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“Ficamos surpresos com a consistência de alguns choques (de preço)”, disse Campos Neto em uma conferência patrocinada pelo Bank of America. “Destacamos que nosso objetivo é levar a inflação até a meta”. E também destacamos que os componentes qualitativos da inflação pioraram muito mais do que esperávamos”, acrescentou ele.
Em outubro, o banco central aumentou as taxas de juros em 150 pontos base para 7,75% e sinalizou outro aumento deste tipo este ano, intensificando o ciclo de aperto mais agressivo do mundo à medida que a inflação se move para valores duplos.
Mas alguns especialistas do mercado começaram a pensar que um aumento ainda maior das taxas poderia ser necessário devido à inflação obstinada e à incerteza em torno da disciplina fiscal.
Campos Neto disse que o banco central continuaria a buscar o ritmo certo para aumentar as taxas de juros, evitando os erros de caminhar muito rápido ou muito lentamente.
México: inflação atinge taxa mais alta em duas décadas
Não é apenas o Brasil que enfrenta problemas devido à inflação persistente. A segunda maior economia da América Latina, o México, também está lutando contra uma inflação que acelerou mais do que o esperado na primeira quinzena de novembro, ultrapassando 7%, a taxa mais alta em mais de 20 anos, segundo dados oficiais divulgados, aumentando a pressão sobre o banco central local para apertar ainda mais a política monetária.
Números da agência nacional de estatísticas Inegi mostraram que a inflação no início de novembro foi de 7,05%. Foi a alta mais acentuada dos preços desde a segunda quinzena de abril de 2001, mostraram os dados.
Na segunda quinzena do mês passado, a inflação foi de 6,36%. O objetivo banco central mexicano é uma inflação de 3%, com margem de tolerância de 1 ponto percentual para mais ou para menos.