- O real subiu 4,75%, mas a moeda ainda luta com alta volatilidade por causa da resposta ineficaz do país à pandemia;
- O peso mexicano é mais estável, e o banco central do México não deve reduzir as taxas de juros tanto quanto em outros mercados;
- Colômbia e Chile têm espaço fiscal e fundamentos sólidos para sustentar suas moedas.
Desde o início de julho, as principais moedas da América Latina ganharam um pouco do terreno perdido em relação ao dólar. O real (BRL) e o peso chileno (CLP) lideraram a tendência, avançando 4,75% e 5,46% no período, respectivamente. Eles foram seguidos pelo peso mexicano (MXP) e colombiano (COP), com valorizações de 2,78% e 1,54%. A única exceção entre as cinco maiores economias da região vem da Argentina, onde a moeda caiu enquanto o país luta com a crise da dívida.
Para importadores e governos em toda a região, essas foram boas notícias, pois o dólar mais fraco reduz internamente as pressões inflacionárias. Além disso, quando a moeda americana cai, o dinheiro tende a fluir para os países em desenvolvimento, compensando o problema de menor competitividade global para os exportadores locais, cujos bens se tornam mais caros nessas condições. Mas analistas dizem que as coisas não permanecerão calmas por muito tempo.
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Apesar de algumas faíscas de otimismo entre os investidores, após meses de crise devastadora devido à pandemia de coronavírus, o declínio do dólar tem mais relação com persistentes surtos de infecção nos Estados Unidos. O número ressurgente de casos diminui as chances de recuperação breve para a economia americana. Globalmente, o dólar caiu 8% em relação a uma cesta de moedas e está próximo do seu nível mais baixo desde 2018.
Segundo a Oxford Economics, o real brasileiro poderá ganhar ainda mais no curto prazo, para cerca de R$ 5 por dólar – atualmente, o câmbio está em R$ 5,21 – “se o ruído político retroceder”. “Também acreditamos que os principais eventos que envolvem a resposta errática do presidente Bolsonaro à pandemia explicam qualitativamente o restante da dissociação do real”, diz o relatório. “Da mesma forma, um ressurgimento nas negociações de reforma coincidiu com ganhos nos últimos dias.”
No entanto, os gestores ainda dizem que estão desencorajados a assumir uma posição mais firme no real, dado seu alto nível de volatilidade – em julho, o dólar atingiu R$ 5,47 apenas para cair para R$ 5,08 posteriormente. “Não há como estar fortemente posicionado com o dólar flutuando 2% todos os dias [contra o real]”, disse Carlos Calabresi, diretor de investimentos da Garde Asset Management, ao Valor Econômico.
México, Colômbia e Chile têm moedas com perspectivas mais estáveis
O peso mexicano está se mantendo mais estável. A Oxford Economics previu recentemente que a moeda está se estabilizando após sofrer intensa pressão nos últimos meses. A consultoria diz que a moeda deve permanecer entre MXP 22-23 por dólar pelos próximos dois anos. A principal razão para a estabilização, diz o relatório, é que o Banxico, banco central do México, continuará compensando a deterioração fiscal e institucional ao não reduzir juros a taxas tão baixas quanto outros mercados emergentes.
Tanto o peso chileno quanto o colombiano têm apresentado bom desempenho em comparação com as moedas dos vizinhos desde que atingiram pisos mínimos em meados de março. No caso do Chile, o país tem amplo espaço fiscal para fornecer apoio financeiro à economia doméstica, mesmo enquanto o país é severamente atingido pelo Covid-19, de acordo com um estudo publicado esta semana pela Ebury, uma plataforma especializada em comércio e moedas. A moeda da Colômbia lidera os ganhos entre as moedas latino-americanas em meio aos preços mais altos do petróleo, aos quais a economia colombiana está intimamente ligada.
“Continuamos otimistas em relação ao peso colombiano. Os fundamentos bastante sólidos do país, notadamente reservas cambiais altas equivalentes a doze meses de cobertura de importações e baixa dívida externa (40% do PIB), devem continuar apoiando a moeda, na nossa opinião”,
Ebury’s Latin America FX Forecast Revision
A predominância do dólar nas transações globais deixa menos espaço para os exportadores
As variações nas moedas locais importam menos do que no passado, pois o dólar se tornou a força dominante nas transações e no financiamento globais, de acordo com um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Como o comércio global é precificado principalmente em dólares, a demanda não muda muito quando as moedas domésticas se enfraquecem ou se fortalecem.
No entanto, isso deve ser percebido como um ponto de vista macroeconômico, em que o enfraquecimento das moedas não proporciona mais alívio para os mercados locais, principalmente na forma de exportações mais competitivas que poderiam impulsionar economias em dificuldades. Mas um declínio do dólar ainda importa muito para setores como turismo e comércio eletrônico internacional – uma vez que indivíduos e pequenas empresas tomam decisões com base em quão caro é comprar uma passagem ou produto denominado em dólar.