Economia

Bradesco vê alta de juros e inflação e reduz estimativa de crescimento do Brasil para 2022

O banco apontou o câmbio depreciado, atividade econômica mais lenta e menor expansão da economia mundial no próximo ano como causa

Bradesco vê alta de juros e inflação e reduz estimativa de crescimento do Brasil para 2022
Pessoas passam por rua de comércio popular do Rio de Janeiro 23/12/2020 REUTERS/Pilar Olivares
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Bradesco reduziu significativamente as expectativas para algumas das principais variáveis econômicas brasileiras, vendo mais juros e inflação, câmbio mais depreciado e atividade mais lenta em 2022 e também o risco de racionamento de energia como o principal vetor negativo a ser monitorado.

A estimativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá apenas 1,6% está relacionada a sinais crescentes de menor expansão da economia mundial no próximo ano. Segundo a instituição, a desaceleração por aqui só não é mais forte porque a retomada do consumo das famílias ao nível pré-pandemia deverá garantir algum dinamismo à economia doméstica. A análise foi divulgada pelo Bradesco em relatório.

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Mesmo com a previsão mais fraca de crescimento econômico, a inflação ficará mais alta em 2022. O segundo maior banco privado do país prevê que o IPCA subirá 3,8% no ano que vem, de 3,3% da projeção anterior.

Mas há vieses para diferentes direções. Segundo o Bradesco, o quadro inflacionário é “bem mais incerto” para 2022, com riscos de propagação das altas de preços de 2021, mas também chances de alívio mais forte devido à perspectiva de desaceleração mais intensa nos preços das commodities em reais e dos alimentos e a uma política econômica “muito menos expansionista”.

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De toda forma, nas contas do banco privado a inflação ficará novamente acima do centro da meta (de 3,50% para 2022), depois de em 2021 fechar em 9,0%, segundo novo prognóstico do Bradesco, ante taxa de 7,8% estimada antes e que já deixava bem para trás o alvo de 2021 (3,75%).

“Como consequência, esperamos que a taxa Selic encerre este ano em 8,25% e em 8,50% no próximo”, disse o Bradesco, que antes via juro básico terminal de 7,50% ao fim dos dois anos.

“No entanto, a Selic deverá atingir um pico entre 8,75% e 9,25% no atual ciclo de aperto monetário, a depender da dinâmica de preços no início do próximo ano e da direção do balanço de riscos, à época”, adicionou o banco, avaliando que essa visão lhe parece consistente com a intenção do Copom de levar a Selic para um nível significativamente contracionista.

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E mesmo com o juro mais alto a taxa de câmbio depreciará mais em 2022. O Bradesco vê agora dólar de R$ 5,60 no encerramento do ano que vem (R$ 5,50 na estimativa divulgada em setembro), depois de fechar este ano em R$ 5,15 (acima dos R$ 5,00 esperados antes).

“Ainda que a normalização monetária no Brasil venha contendo os fluxos de saída de dólares, a queda dos termos de troca decorrente da desaceleração da China tende a levar o câmbio para um nível mais depreciado”, explicou o Bradesco no relatório, acrescentando que a acomodação da economia mundial e o início da retirada dos estímulos monetários nos países desenvolvidos também sugerem um real mais fraco.

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Nas contas da equipe de pesquisa econômica do banco, o valor justo para a taxa de câmbio segue abaixo de R$ 5,00 por dólar, mas a eventual materialização desses patamares depende de um “apropriado” equacionamento fiscal, redução da inflação e das incertezas domésticas.

“Na ausência desses fatores, o Real tende a se manter descolado de seus fundamentos por mais tempo”, disse o Bradesco no relatório. O dólar à vista era cotado em torno de R$ 5,36 reais na sexta-feira (1º).