O Banco Central aumentou o ritmo de aperto monetário nesta quarta-feira ao subir a Selic em 1 ponto, a 5,25% ao ano, indicando que deve repetir a dose em setembro diante das pressões inflacionárias.
Para domá-las, o BC também apontou que a necessidade agora é de uma taxa básica de juros acima do patamar neutro, ou seja, em nível suficiente para desaquecer a economia.
Antes, a comunicação do BC destacava que o processo de ajustes na Selic mirava a normalização da taxa de juros para a neutralidade.
LEIA TAMBÉM: Real brasileiro está 19% mais desvalorizado do que deveria
“O Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação”, afirmou o Comitê de Política Monetária do BC, em comunicado.
“Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro”, acrescentou o texto.
Esta foi a quarta vez seguida que o BC subiu os juros básicos, mas a primeira desde fevereiro de 2003 em que lançou mão de um aperto de 1 ponto percentual.
Quando iniciou a elevação na Selic em março, após deixá-la por quatro reuniões seguidas na mínima histórica de 2%, o BC assinalou que buscava a normalização parcial da taxa, reduzindo assim o estímulo que buscou injetar na economia após a crise com a pandemia de coronavírus ter levado a atividade a sofrer um tombo recorde no ano passado.
LEIA TAMBÉM: Desequilíbrio cambial entre real e dólar persistirá em 2021, dizem analistas
Mas já em junho, quando se reuniu pela última vez, o Copom passou a indicar que avistava a normalização da taxa de juros para o patamar considerado neutro, em que a Selic não aquece e nem esfria a economia. Esse nível está ao redor de 6,5%, segundo indicação do próprio BC.
Inflação persistente no Brasil
A mudança de agora veio na esteira de renovadas pressões inflacionárias, embaladas por preços mais altos de combustíveis e da energia elétrica.
Segundo o BC, a inflação ao consumidor continua se revelando persistente.
“Os últimos indicadores divulgados mostram composição mais desfavorável. Destacam-se a surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços e a continuidade da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos”, afirmou.
“Além disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores acarretam revisão significativa das projeções de curto prazo”, acrescentou.
Aliado a uma recuperação econômica mais forte, o cenário já havia feito muitos agentes econômicos apostarem que o BC, na decisão desta quarta-feira, mostraria a intenção de levar os juros para além do patamar neutro para conseguir domar as expectativas de inflação para o ano que vem, horizonte que atualmente tem maior peso nas suas decisões de política monetária.
Em seu comunicado, o BC manteve suas previsões para o IPCA em 2022, pelo seu cenário básico, a 3,5%, indicando uma inflação em 3,2% para 2023. Já para este ano, o BC elevou a estimativa de inflação a 6,5%, sobre 5,8% antes.
O centro da meta de inflação é de 3,75% para 2021, de 3,5% para o ano que vem e de 3,25% para 2023, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
No Boletim Focus, as perspectivas são piores, com IPCA em 6,79% este ano, 3,8% em 2022 e 3,25% em 2023. Ao contrário do BC, portanto, o mercado já enxerga a inflação acima do centro da meta no ano que vem.
Considerado uma prévia da inflação oficial, o IPCA-15 subiu 0,72% em julho, a maior alta para o mês desde 2004, com o acumulado em 12 meses passando a 8,59%.
Sobre a dinâmica da recuperação econômica, o BC avaliou que os últimos indicadores continuam mostrando evolução positiva e não ensejam mudança relevante para o cenário à frente, que contempla retomada robusta ao longo do segundo semestre.
No fim de junho, o BC havia divulgado uma expectativa de crescimento do PIB de 4,6% neste ano. Pelo Focus, o mercado já enxerga uma expansão de 5,3% para a atividade.
Risco fiscal brasileiro
Apesar de preocupações com o rumo das contas públicas terem mexido com o mercado nos últimos dias, o BC não fez novas ponderações sobre o tema, limitando-se a repetir no comunicado mensagens que já vinha martelando, incluindo a de que o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos para a inflação.
O presidente Jair Bolsonaro tem feito acenos constantes de que irá aumentar o benefício do Bolsa Família apesar de não haver definição formal sobre como isso irá ocorrer, especialmente após a divulgação de uma conta de cerca de R$ 90 bilhões em precatórios a serem pagos pela União no ano que vem.
LEIA TAMBÉM: Economia mexicana cresce com força no 2º tri puxada por demandas dos EUA
Diante do desafio, a equipe econômica quer aprovar no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que possibilite o parcelamento do pagamento dos precatórios, que são requisições de pagamento expedidas pela Justiça após derrotas definitivas sofridas pelo governo em processos judiciais. Com isso, a proposta abriria espaço no Orçamento para acomodação de outros gastos, incluindo um Bolsa Família mais robusto.
Parte dos agentes econômicos, contudo, encara a investida como uma espécie de calote, com o governo buscando cavar brechas orçamentárias para fazer mais despesas em ano eleitoral.