O BTG Pactual passou a projetar o dólar a R$ 5,00 ao fim deste ano, piorando a perspectiva para o desempenho da moeda brasileira em meio a “cenário desafiador” marcado por incertezas fiscais domésticas e apostas de redução de estímulos pelo Federal Reserve.
A estimativa-base anterior do banco era de que a moeda norte-americana encerraria 2021 em R$ 4,90, mas “fatores tanto internacionais como nacionais, neste momento, nos impedem de afirmar que o cenário base é uma cotação do real abaixo de R$5”, disse a equipe de pesquisa macro do BTG em relatório.
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Entre os fatores que colaboraram para essa visão, os estrategistas apontaram sinais de que o banco central dos Estados Unidos está intensificando o debate sobre uma redução de seu programa de apoio à economia. Na sexta-feira, dados de emprego norte-americanos indicaram força no mercado de trabalho, elevando apostas de que o Fed poderia adotar um posicionamento mais “hawkish”, ou duro com a inflação.
Assim, “entendemos que os próximos meses serão de um dólar fortalecido ao redor dos mercados, o que, por consequência, reduz a atratividade do real”, disse o BTG.
Ao mesmo tempo, o cenário fiscal doméstico repleto de incertezas também tende a favorecer a moeda norte-americana.
Com uma reforma tributária que pode “diminuir a capacidade arrecadatória do governo” e o esforço do presidente Jair Bolsonaro para elevar o valor do Bolsa Família, “o mercado entende que o teto de gastos do governo está ameaçado e não está hesitando em aumentar as proteções nos portfólios, que, em parte, são feitas em dólar”, afirmou o banco.
Embora o “cenário desafiador” deva permanecer em jogo nos próximos meses, o banco afirmou que a retomada da economia doméstica no segundo semestre com a melhora no ritmo de vacinação da população e as elevadas exportações brasileiras devem valorizar o real até o fim deste ano.
Além disso, “a mudança na postura do Banco Central, que assumiu tom mais duro em seu último comunicado e deve levar a Selic ao nível acima do juro neutro até o final do ciclo de alta, pode fomentar a entrada de capital estrangeiro no Brasil“, afirmou o BTG. “Dito isso, nosso call de (Selic de) 7,5% ao final deste ano segue coerente e consistente com um cenário de apreciação do real.”
Além de alterar seu cenário básico para um dólar a R$ 5,00 ao fim de 2021, o banco alterou seu cenário otimista para 4,80 reais, de R$ 4,75 anteriormente. Também houve mudança na estimativa pessimista, para R$ 5,40, ante projeção de R$ 5,35 em relatório anterior.
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Rabobank: Dólar cairá a R$5,15 ao fim do ano
Já os estrategistas do Rabobank Maurício Une e Gabriel Santos, em relatório, disseram que o dólar fechará este ano em R$ 5,15, influenciado pela alta de juros e pelo ambiente por ora tranquilo para as contas externas.
Os profissionais ponderaram, no entanto, que o tema fiscal segue desafiador e que a confiança do mercado doméstico pode deteriorar com a ativa discussão sobre aumento dos gastos com o Bolsa Família e com tensões outras. Eles acreditam, porém, que o Congresso manterá os debates sobre reformas estruturais até o fim deste ano, o que amenizaria a percepção de risco em outras frentes.
A melhora dos termos de troca e números de conta corrente benignos também trabalham a favor da taxa de câmbio, que deve terminar 2022 em 5,20 por dólar. Ambas as previsões estão abaixo da cotação do dólar nesta segunda-feira, em torno de R$ 5,29.
O Rabobank atualizou projeções para outras variáveis macroeconômicas. A inflação pelo IPCA deve bater 6,5% em 2021 antes de desacelerar para 3,5% em 2022. Enquanto isso, o Banco Central deve elevar os juros para 7% ao fim deste ano e manter a taxa nesse patamar até o término de 2022. O PIB vai crescer 5% neste ano e 2% em 2022.