Economia

Crescimento no México e na Argentina será afetado pelo coronavírus, alerta OCDE

Novo olhar econômico lançado pela organização diz que o surto é o maior perigo para o PIB mundial desde a crise financeira

A América Latina relatou recentemente seus primeiros casos de Covid-19.
A América Latina relatou recentemente seus primeiros casos de Covid-19. Foto: Shutterstock
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  • A economia global está para crescer apenas 2.4% este ano, o menor percentual desde 2009;
  • Se essa situação piorar, haverá uma resposta coordenada de flexibilização do Banco Central e estímulo fiscal.

O surto de coronavírus se apresenta para a economia global como um grande perigo desde a crise financeira de 2008/2009, de acordo com a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

México e Argentina, dois dos maiores mercados da América Latina, também estão sendo afetados pela crise na saúde, com as previsões do PIB sendo cortadas para 2020. 

A expectativa agora é que a economia mexicana cresça apenas 0,7%, uma queda de meio ponto percentual desde o último relatório da OCDE em novembro. A Argentina deve se afundar em sua recessão, com uma contração de 2%, um resultado 0,3% pior do que o esperado anteriormente.

Para o Brasil, a maior economia da América Latina, a previsão de crescimento foi mantida em 1.7% em 2020, sugerindo que as exportações não serão tão afetadas como em outros países da região – muito por conta de que o comércio exterior representa uma fatia menor do PIB brasileiro. 

Embora seus países não estejam inclusos na lista da OCDE, Chile e Peru podem potencialmente sentir um declínio mais severo devido às maior exposições de seus comércios com a China. 

Declínio global

A previsão é de que a economia mundial cresça apenas 2/4% neste ano, a menor desde 2009 e mais baixa do que a previsão de 2.9% de novembro. É muito mais sombria do que a previsão do FMI (Fundo Monetário Internacional), que há uma semana afirmou que o vírus reduziria apenas 0,1% do crescimento global. O próximo World Economic Outlook, que será publicado pelo FMI em abril, provavelmente mostrará um cenário pior: “É provável que rebaixemos nossas projeções de crescimento para o mundo”, relatou recentemente o porta-voz do FMI, Gerry Rice. 

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A OCDE foi ainda mais longe e também apresentou uma prospecção de “dominó”, onde o contágio está mais disseminado na Ásia, Europa e América do Norte. Isso poderia reduzir o crescimento mundial para 1,5% neste ano, metade da projeção anterior da OCDE para 2020. 

Ao apresentar as perspectivas em Paris, o economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, disse: “O vírus corre o risco de dar um golpe adicional em uma economia global que já estava enfraquecida pelas tensões comerciais e políticas. Os governos precisam agir imediatamente para conter a epidemia, apoiar o sistema de saúde, proteger as pessoas, aumentar a demanda e fornecer uma linha de vida financeira para as famílias e empresas mais afetadas.”

O grande papel da China

Se comparado a eventos similares do passado, como o surto de SARS em 2003, o contágio econômico está atingindo um nível mais elevado. 

A economia mundial tem se tornado substancialmente mais interconectada, e a China desempenha um papel muito maior nas exportações mundiais, comércio, turismo e mercado de commodities.

OCDE Outlook interino 

Para a América Latina em particular, o comércio com a China cresceu exponencialmente nas últimas décadas. No total, os chineses importaram e exportaram com a região de US$ 17 bilhões em 2002 para US$ 306 bilhões em 2018. 

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“As contrações da produção na China estão sendo sentidas em todo o mundo, à medida que o surto afeta a produção, o comércio, o turismo e as viagens de negócios”, disse o 36º membro da OCDE. 

Bancos centrais

Funcionários do Federal Reserve dos EUA, Banco Central Europeu e Banco do Japão (BoJ) sinalizaram nos últimos dias que estão prontos para fazer mais, se necessário.

Se a situação piorar, uma resposta coordenada de flexibilização e estímulo fiscal do banco central no valor de 0,5% da produção econômica nos países do G20 pode levar a um crescimento 1,2% maior em dois anos, calculou a OCDE.

Em uma declaração de emergência, o governador Haruhiko Kuroda, do BoJ, disse que “se esforçará para fornecer ampla liquidez e garantir a estabilidade nos mercados financeiros”. O Banco da Inglaterra seguiu dizendo que está trabalhando com o Reino Unido e as autoridades internacionais para “garantir que todas as medidas necessárias sejam tomadas para proteger a estabilidade financeira e monetária”.

Na sexta-feira passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, sugeriu cortes adicionais nas taxas de juros para conter o que ele chamou de “riscos em evolução” para o crescimento econômico do vírus.

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Ação necessária

De acordo com a OCDE, os governos também poderiam ajudar, fornecendo seguro-desemprego para trabalhadores colocados em licença não remunerada e cobrindo os custos de saúde relacionados a vírus para todos.

Devem ser consideradas medidas que reduzam ou atrasem os pagamentos de impostos ou dívidas ou reduzam os custos de energia para empresas em regiões e setores mais afetados, disse a OCDE, bem como reduções temporárias no nível de reservas que os bancos devem manter no banco central .

Outros riscos para a economia, segundo ele, incluem as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China e a incerteza sobre o futuro relacionamento comercial entre a União Européia e a Grã-Bretanha após o Brexit.