Economia

FMI sugere que credores devem contribuir para resolver crise argentina

Em comunicado, fundo afirmou que dívida do país é "insustentável"

Buenos Aires, capital argentina: país atravessa longa crise financeira. Foto: Shutterstock
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que a dívida da Argentina é “insustentável” e que os credores precisarão fazer uma “contribuição significativa” para ajudar a resolver a crise financeira do país.

“O superávit primário que seria necessário para reduzir a dívida pública e as necessidades de financiamento a níveis compatíveis com riscos aceitáveis e crescimento potencial satisfatório não é economicamente nem politicamente viável”, afirmou o FMI em comunicado feito após uma semana de conversas na Argentina. O documento acrescenta que o aumento da dívida pública significa que o país precisa de um plano definitivo para restaurar a sustentabilidade financeira.

A posição do FMI foi bem pelo governo do presidente Alberto Fernandez, que argumenta não poder pagar a dívida assumida durante o governo anterior, de Mauricio Macri.

A Argentina está lutando para reestruturar suas dívidas para evitar um calote em cerca de $ 100 bilhões em empréstimos e títulos – inclusive do FMI – depois que uma recessão profunda, inflação alta e colapso do mercado atingiram o país no ano passado. A Argentina espera concluir as negociações da dívida com credores até o final de março.

Em entrevista ao Wall Street Journal, Sergio Berensztein, analista político em Buenos Aires, disse que a declaração do FMI é uma boa notícia para o governo Fernandez: “É coerente com a visão do governo agora está apresentando aos credores de que um pagamento menor do que o valor nominal é inevitável”.

Gabriel Zelpo, diretor da consultoria econômica Seido, disse à Reuters que, embora a declaração não seja totalmente inesperada, ela é negativa para credores e implica negociações mais duras. “Sugere um período mais longo de reestruturação e um período mais longo para o retorno ao mercado.”

O FMI declarou que a capacidade da Argentina de pagar suas dívidas se deteriorou muito em comparação com meados de 2019, quando classificou a situação do país como “sustentável, mas não com alta probabilidade” de honrar compromissos. O fundo também afirmou que as reuniões com autoridades argentinas foram “muito produtivas” e que sua diretora Kristalina Georgieva, se encontraria com o ministro da economia Martin Guzman na cúpula do G-20 para discutir “os próximos passos”.

O presidente Alberto Fernandez saudou no Twitter a posição do FMI. “Se todas as partes demonstrarem vontade de concordar, podemos crescer novamente, honrar nossos compromissos e colocar a Argentina de pé”, escreveu ele.

A Argentina é a terceira maior economia da América Latina, atrás do Brasil e do México, e tem um longo histórico de instabilidade financeira. Em 2001-02, uma grave crise viu o país governado por três presidentes diferentes em menos de um mês para, em seguida, anunciar um calote de US$ 100 bilhões. A Argentina recebeu cerca de 30 pacotes de ajuda do FMI nos últimos 60 anos.

O FMI é muito impopular na Argentina, onde muitas pessoas o culpam por crises passadas e pela imposição de medidas de austeridade, como as implementadas no governo Macri.